domingo, 3 de abril de 2011

Você Vai Conhecer o Homem de seus Sonhos
(You Will Meet a Dark Stranger, 2010)
Comédia/Romance - 98 min.

Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen

Com: Josh Brolin, Naomi Watts, Anthony Hopkins, Gemma Jones, Antonio Banderas, Freida Pinto e Pauline Collins


Falar da incrível capacidade de Woody Allen de criar diálogos inteligentes e mordazes ou da sua prolífica carreira é chover no molhado. Difícil - e até polêmico - é afirmar que Allen já poderia ter se aposentado ao final de Match Point. Depois desse suspense forte e muito bem realizado, o diretor seguiu em uma sucessão de filmes medianos ou medíocres. Sempre - para provar sua influencia - amparado por atores consagrados ou talentosos, ansiando por trabalhar com um dos últimos gênios ainda em atividade no cinema americano.


O problema é que Allen vem se repetindo, se desgastando e fazendo filmes cada vez piores e mais infelizes e indignos de figurar na mesma filmografia de alguém que produziu Rosa Púrpura do Cairo, Manhattan, Annie Hall, O Dorminhoco, Hannah e suas Irmãs, Crimes e Pecados, Era do Rádio entre muitos outros.



Você vai Conhecer o Homem de seus Sonhos é uma "comédia" que é mais um morador da lixeira produzida pelo diretor na última década. Sem graça, mal interpretado e repetindo situações de outros de seus filmes, é um desperdício de tempo e dinheiro.


A história fala sobre essa mulher chegando ao final da vida, Helena, que se torna amiga e confidente de uma médium que diz que pode prever o futuro. Helena foi abandonada pelo marido, Alfie, e desiludida passa a crer cegamente na vidente. Ao mesmo tempo o filme mostra a filha de Helena, Sally, uma artista - frustrada - que vive trabalhando em uma galeria e tem uma paixão secreta por seu patrão - Greg. Ela é casada com (adivinhem) outro frustrado, Roy, um médico que largou tudo, lançou um livro de grande sucesso e vive no limbo desde então. Permeando a situação, Alfie é figura importante como mais um (original não?) frustrado, nesse caso com sua idade e que "luta" para se manter jovem.



Nesse mundo de gente chata, recalcada e cheia de frustrações deveria funcionar para o humor de Allen. Mas as suas idéias e soluções encontradas para o filme são no mínimo infelizes. Não basta apresentar as possibilidades de sucesso de seus personagens, mais realizá-las. Allen realiza as fantasias de alguns deles, mas sem conseguir criar nenhuma cena memorável ou digna de maior atenção. Os personagens - todos muito cansativos - passeiam pela tela e você não se conecta a nenhum deles, torce ou mesmo odeia. São tão fracos e o texto de Allen tão derivativo de outros de seus trabalhos que é difícil para o espectador manter o interesse.


Outra idéia infeliz de Allen foi inserir um desnecessário narrador que cria uma tensão desnecessária e transforma o filme em uma fábula moderna de quinta categoria.


Incrível como mesmo com uma sucessão de filmes fracos, diversos atores de alto nível continuam querendo trabalhar com Allen. Nesse estão presentes: Josh Brolin, Naomi Watts, Antonio Banderas e Anthony Hopkins. Além deles Gemma Jones e Pauline Collins, duas grandes atrizes britânicas e a revelação Freida Pinto.



Infelizmente nenhum deles está em seu momento. Brolin, como o patético Roy, foge da zona de conforto interpretando um homem falível e cheio de neuroses - um sub-Woody Allen - mas parece não ter comprado a idéia com vontade, pois não funcionou. Os tiques de papeis anteriores estão presentes, e Brolin não consegue sair deles. Watts como sua esposa Sally, vai ainda pior. Sally é uma mulher cheia de medos e frustrada por não encarar de frente suas vontades e durante o filme torcemos mesmo para que ela não consiga realizá-los, tamanha displicência de Watts com o papel e a forma medíocre com que Allen resolve seus conflitos. Banderas e Pinto fazem pontas de luxo e chega a ser covardia pedir "desenvolvimento" em seus papéis. São unidimensionais e impossíveis de crer. A personagem de Pinto consegue ser pior, aparecendo como o ideal de mulher extremamente forte e over.


E chegamos a Hopkins que vem se especializando em participações fracas e sem vontade em filmes dos mais diversos. Parece que Hopkins - assim como Allen - deveria diminuir o ritmo, ou mesmo se aposentar, tamanha semelhança de seus últimos personagens e principalmente em sua visível falta de vontade de sair do "quadrado". Mesma inflexão, mesma presença em tela, mesma forma de usar da linguagem corporal, repetindo-se em seus últimos filmes (ainda não vi Ritual).



Mais o pior em qualquer produção é quando seu protagonista, aquele que é o objeto da "jornada" é fraco ou mal concebido. É o caso de Helena, interpretada por Gemma Jones, um dos piores protagonistas de Allen em sua carreira, antipática, quase enlouquecida, mal-humorada e incrivelmente (mesmo) apalermada. Durante todo o filme fiquei torcendo para que ela sofresse um acidente e fosse hospitalizada impedindo-a de falar até o final da produção.


Tecnicamente Allen consegue uma ou outra sequencia de qualidade. Atente-se para uma das discussões entra Helena, Sally e Roy no apartamento dos últimos. A câmera acompanha de forma fluida a conversa forte entre os personagens e é de longe, o melhor momento do longa. A trilha sonora dos filmes de Allen são quase sempre variações sobre o mesmo tema e isso atinge aqui o seu ponto mais fraco. Não é possível que Allen não conheça outro som a não ser o oboé e o clarinete.


Você vai Conhecer o Homem de seus Sonhos é uma abominação na carreira do diretor. Talvez em seu momento mais fraco nos anos 2000, Allen consegue se superar negativamente, construindo uma história insegura sobre um bando de gente fracassada e patética. Em outros tempos, Allen se esbaldaria e apresentaria idéias, conceitos e frases antológicas. Como se repete não passa de um imitador rolando sobre sua glória sem intenção - aparente - de largar o osso.


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