segunda-feira, 11 de abril de 2011

Trabalho Interno
(Inside Job, 2010)
Documentário - 120 min.

Direção: Charles Ferguson
Roteiro: Chad Beck, Adam Bolt e Charles Ferguson



O grande vencedor do Oscar na categoria de melhor documentário, Inside Job investiga os motivos para a crise econômica mundial e aponta o dedo para os culpados cobrando as responsabilidades dos "realizadores da obra".


Adotando desde o principio o tom professoral e quase didático, Inside Job enche a tela com depoimentos, dados e "economês 1.0" para tentar explicar ao mais leigo dos seres humanos cada um dos passos que resultaram na maior crise econômica mundial desde o crash da bolsa americana em 1929.


O problema começa já de saída: apesar de dotado de um tema forte, interessante e muito contemporâneo, o excesso de didatismo e jargão econômico - intensificado pela velocidade com que dados, siglas e pessoas são jogados em tela - faz O Senhor dos Anéis (e seus mil nomes e lugares) parecer novela das oito. Charles Ferguson não alivia na complexidade de suas informações e mesmo quando tenta transformar o mundaréu de dados e situações em uma narrativa fluida, esbarra nas próprias limitações do tema.



Como fazer um documentário econômico tornar-se atraente para a maior parte da população? Ferguson optou por encher seu filme de depoimentos recortados que funcionam como um imenso coro grego ilustrando cada uma das impressões que o filme tem das situações guiado por uma narrativa modorrenta e aparentemente desinteressada de Matt Damon.


Porém, o filme é forte como disse, e seu tema atualíssimo e portanto tem força para manter o interesse do publico após seu enroladíssimo e chatissimo prólogo intitulado "Como Chegamos Aqui" (ou algo do gênero). Nesse inicio se encontram somados os maiores problemas do filme.


Outro incômodo encontrado durante toda a produção do filme é que em nenhum momento o espectador sente-se verdadeiramente intimidado ou chocado com as revelações do filme. Talvez se surpreenda com a escala dos acontecimentos, mas no cerne da questão o espectador (em especial os de um país "expert" em corrupção como o Brasil) sente-se resignado e passivo a uma sucessão de eventos que, em sua condição de cordeirinho, sabe que "não pode fazer nada e que política é assim mesmo".



Pessoalmente não creio no poder de um filme "iluminar" mentes. Nem sei se essa é a intenção de Ferguson, ou se na verdade, ele apenas quis levantar a questão, denunciar e cobrar resultados sobre suas acusações. De qualquer forma, Inside Job não é medíocre pelo poder que seu tema tem. Os problemas apresentados são relevantes mas esteticamente, Inside Job não seduz seu espectador e não consegue fazer jus a suas intenções.


Apesar disso, o filme recolhe algumas grandes "performances" de seus entrevistados, em especial quando conseguem alguns poucos que tiveram coragem de mostrar a cara para serem espezinhados em película. Soando sempre etéreo, o entrevistador oculto (imagino que seja o próprio Ferguson) aperta sem dó os poucos que se dignaram a prestar algum tipo de esclarecimento sobre os fatos mostrados no filme.


O que fica muito claro é a falta de escrúpulos desse pessoal e a sensação de que nada vai mudar e que eles continuarão livres por cada um dos crimes que cometeram. Ferguson quis nos indignar com essa condição, mas novamente repito, que para um público sul-americano calejado por essas situações, é mais um dos muitos casos de gente que prejudica a comunidade e sai ileso que ouvimos.



Inside Job é um documento importante sobre a sede de poder do ser humano e sobre a dificuldade de subjugarmos um sistema político/econômico tão virulento e enraizado em nossa sociedade. Uma pena, realmente, que o filme - como obra cinematográfica e não como defesa de posição - não funcione tão bem assim.


Talvez se não tentasse de forma tão pedagógica explicar cada segundo de seu filme e focasse no principal e a partir daí apresentar as motivações que levaram ao caos completo, Inside Job ganhasse aqui do Fotograma, uma nota maior. Como somos jogados na sala de aula do "tio" Ferguson por quase duas horas, a nota é limite para passar de ano sem ficar de recuperação.


Nenhum comentário:

Postar um comentário