sábado, 2 de abril de 2011

Lemmy
(Lemmy, 2010)
Documentário - 116 min.

Direção: Greg Olliver e Wes Orshoski


Lemmy Kilminster é uma lenda. E não estou exagerando. Não uso de forma equivocada - como muita gente faz por aí, e até às vezes eu mesmo - esse adjetivo para descrever a vida e obra do mítico (outro adjetivo bem empregado) personagem. Se o leitor tem duvidas, basta assistir a esse documentário e notar o respeito com que todos os convidados - indo de Alice Cooper, David Grohl, Metallica, Ozzy, Mark Ramone, Dave Navarro, Ice T, Scott Ian, Slash, Dee Snider, Billy Bob Thornton, Steve Vai, Kat von D, Joan Jett, Peter Hook, Mick Jones entre outros - falam sobre Lemmy.


Lemmy (o filme) não faz concessões e não apresenta seu biografado como uma figura perfeita. Muito realista nessa abordagem, Lemmy é visto como uma pessoa com qualidade e defeitos e sem aquela aura de perfeição que embala a maioria das biografias no cinema.



Lemmy é uma figura única seja por seu jeito e simplicidade incomuns da "categoria", como por sua história musical impressionante. Para os que não estão familiarizados, basta dizer que Lemmy começou a carreira como Roadie de Jimmy Hendrix, passou pela banda mais importante do chamado space-rock e fundou a banda que conseguiu unir em um mesmo show punks e headbangers pela primeira vez, sem maiores conflitos e problemas.


A música criada por Lemmy - e companheiros obviamente - no Motorhead é tão simples e ao mesmo tempo tão única que permanece atual e referencial para dezenas de bandas novas.


Para quem não conhece o personagem é interessante notar sua segurança ao falar e sua falta total de "estrelismo" agindo de maneira simpática com todos que se aproximam, sem chiliques ou maiores abusos típicos de rockstars.



Para quem é fã da banda, de Lemmy ou de heavy metal, é interessante conhecer a vida por trás dos holofotes de um dos maiores nomes da história do estilo. Interessante notar sua relação com seu filho, seu apartamento - que mais parece um misto de museu de guerra e brechó - e sua relação com suas paixões: whisky com coca-cola, segunda guerra mundial, máquinas caça níquel e rock'n'roll. O filme ainda é inteligente ao não fugir do óbvio e notório envolvimento de Lemmy com as drogas - em especial, as anfetaminas - com depoimentos do próprio Lemmy bastante seguro de suas posições. Concordando ou não com suas idéias a respeito, Lemmy é 100% autentico e não mede cada uma de suas virgulas para se adequar ao mundo moderno e carola.


A direção do documentário é de Greg Olliver e Wes Orshoski, ambos fãs e que conseguiram se distanciar dessa condição e apresentar um dos mais honestos retratos sobre um personagem biografado.



A sequência em que vemos o brilho quase infantil no rosto de Lemmy ao disparar um canhão dentro de um tanque de guerra (parece bizarro, eu sei) é dos momentos mais divertidos do filme. Toda a participação do filho de Lemmy, que parece ser bem centrado, é igualmente importante. Em um momento do filme, os diretores perguntam a Lemmy sobre qual é a coisa - dentre todas as muitas coisas naquele apinhado apartamento - é a mais importante de sua vida. Ele sem pensar responde: meu filho. Seria uma simples frase "bonitinha" e sentimental, não fosse o filho de Lemmy em sequencia posterior revelar que aquele tinha sido o momento mais tocante da relação dos dois, com seu pai admitindo isso publicamente a estranhos. São momentos assim que transcendem o simples documentário musical e que fazem Lemmy tão importante para a história da musica pesada como os documentários dirigidos por Sam Dunn (Metal, Global Metal, Flight 666 e Rush - Beyond the Light Stage) e um dos mais crus e realistas documentários sobre um personagem vivo no século vinte um.


Muito desse mérito é do próprio Lemmy que não parece viver um personagem, mas viver daquela forma. As longas costeletas, a voz rouca, a postura "go fuck yourself" é real. Lemmy não é um personagem engraçado ou bizarro, mas um homem que se posiciona contra a caretice e o lugar comum em um planeta cada vez mais regrado e aparentemente condenado a completa apatia. Não chegaria ao cúmulo do fanatismo de dizer: Lemmy é Deus, como os mais fanáticos dizem, mas não me furto em dizer: Lemmy é único.

2 comentários:

  1. Inspirado na clássica cena de Airheads... "Lemmy is God!" Ainda não vi, mas estou bem curioso sobre este doc.

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  2. Excelente texto. O filme traduziu exatamente o que é o Lemmy.....e de acordo com o próprio Lemmy, os extras são melhores que o próprio documentário...

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