quarta-feira, 27 de abril de 2011

Separados pelo Destino
(Aftershock, 2010)
Drama - 135 min.

Direção: Xiaogang Feng
Roteiro: Wu Si

Com: Fan Xu, Jingchu Zhang, Chen Li, Yi Lu, Guoqiang Zhang e Daoming Chen



Assistir Aftershock, produção chinesa sobre uma família destroçada pelas duas grandes tragédias causadas por terremotos da história do país, com o eco do Tsunami no Japão nos ouvidos é muito mais doloroso.


O filme conta a história da família do motorista de caminhão Fang Qiang (Guoqiang Zhang) e sua esposa Li Yuanni (Fan Xu) a partir do terremoto ocorrido na cidade de Tangshan em 1976. Apesar do tremor ter durado menos de um minuto, os resultados foram catastróficos para a cidade. Fang - e isso não é spoiler, pois acontece logo no início do filme - morre soterrado e Li vê seus dois filhos (Fang Deng e Fang Da) presos e condenados ao mesmo destino. A equipe de resgate improvisada - formada por habitantes da cidade - expõe a triste realidade a mãe e oferece a cruel opção de escolher entre seus filhos para salvá-los. Li opta por seu filho homem e deixa a pequena Fang Deng para morrer.


O que ela não sabe é que Deng manteve-se acordada durante essa acalorada discussão e mais tarde consegue milagrosamente sobreviver.



Considerada um símbolo da tragédia, a garota é adotada por dois funcionários do governo chinês (o casal Wang) que a tratam como filha legítima. Enquanto isso Li segue sua vida e cuida de seu filho que vive com seqüelas do acidente.


Aftershock é quase ... E o Vento Levou chinês tamanho o escopo e dimensão grandiosa de seus eventos e de sua história. Um drama extremamente bem construído que consegue com muita segurança partir dessa tragédia para contar - o verdadeiro centro do filme - a história dessa família abalada e marcada para sempre. Sem exagerar no melodrama e apostando tudo nas fortes interpretações de seus atores principais (a atriz Fan Xu que interpreta a mãe e principal personagem do filme é espetacular) o filme consegue fugir das obviedades das produções épicas envolvendo famílias em conflito.


Os efeitos visuais responsáveis pela recriação do terremoto do início do filme são verossímeis e funcionam muito bem, assim como a direção de arte que amplifica o escopo do filme, deixando-o ainda mais intenso. A fotografia segue a cartilha, especialmente quando o filme avança no tempo para um período intermediário (nos anos oitenta), é possível ilustrar com precisão as mudanças que a China começava a enfrentar. As imagens idílicas da universidade contrastam muito bem com o rigor e o cinzento apartamento da família adotiva de Deng.



O mais empolgante no filme é a forma como o roteiro de Wu Si consegue misturar organicamente (apesar de óbvias e necessárias suspensões de crença aqui e ali) as duas histórias afim de conseguir entrelaçá-las. A linha narrativa de Li é mais interessante e intensa que a de sua filha perdida durante boa parte da projeção. Li é uma mulher dividida ao meio, que acredita ter perdido parte de sua própria alma quando precisou escolher entre seus filhos. Sua insistência em manter-se na mesma cidade desde sempre é mais um desses indícios de que sua vida não existe mais e que ela mantém-se em pé apenas como penitencia por suas escolhas. Já sua filha Deng, parece sempre deslocada e absorta em tentar sempre encontrar o seu lugar, mas sem a mesma intensidade ("culpa" talvez da atriz Jingchu Zhang) que a personagem de sua mãe tem.


Por fim é preciso destacar a performance inspirada de Daoming Chen, que interpreta o pai adotivo da garota, que é impressionante. A jornada de seu personagem é delicada, e dotada de grande sensibilidade do ator, que consegue fazer de Mr. Wang um homem tri-dimensional e que apesar (e isso é um mérito da produção exemplar) de ser um homem do governo comunista, não age como boa parte dos ocidentais imagina que ele agiria quando por exemplo, encontra sua filha com roupas curtas trancada num quarto com outro rapaz. Sábio em toda a produção, Mr. Wang é a visão chinesa sobre seus comandantes. Uns podem acusar o filme de chapa branca por não existir uma só critica ao governo comunista chinês e afins, mas, é interessante observar uma outra visão de um assunto tão machucado pelas palavras de gente que não participa da vida daquela gente.



Aftershock é um belíssimo exemplar de drama humano, com a grandiloqüência de um épico que consegue manter sua integridade e poucas vezes resvala na pieguice e no excesso de doçura, tão comum a esse gênero. Em suma, o filme do diretor Xiaogang Fang não procura tirar lágrimas dos espectadores, mas sim, fazê-los se solidarizar com aquela família que por circunstancias inerentes a sua vontade foi marcada para sempre. Mas do que fazer chorar, Aftershock busca a comunicação com nossas emoções e sentimentos, e num momento como esse, com seguidas tragédias acontecendo dia após dia, não chega a ser um exercício tão complexo, embora nesse caso, seja concluído com grande sabedoria.


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