domingo, 10 de abril de 2011

I Am Love
(Io Sono L'Amore, 2009)
Drama - 120 min.

Direção: Luca Guadagnino
Roteiro: Luca Guadagnino, Barbara Alberti, Ivan Cotroneo,


Com: Tilda Swinton, Flávio Parenti, Edoardo Gabbriellini e Alba Rohrwacher 


Sensual, sensorial e intenso. Três adjetivos que descrevem com propriedade o belo filme de Luca Guadagnino. A sensualidade nos chega a cargo da performance deliciosa de Tilda Swinton (como Emma Recchi), sexy como nunca antes em toda sua carreira. Tilda sempre considerada uma atriz e mulher estranha, aqui encontra um papel onde ela pode apresentar um lado que poucos imaginariam ver.


A "sensorialidade" é responsabilidade do ambiente italiano de alta cozinha e gente rica, com suas casas campestres e mansões que nos levam a embarcar em uma espiral de sonho gastronômico. Esse caleidoscópio surge no personagem de Edoardo Gabbriellini (Antonio) um brilhante chef que mistura sua enorme capacidade culinária com charme e criatividade.


A intensidade é culpa de Flávio Parenti (que interpreta Edoardo Recchi Jr.) e de Alba Rohrwacher (que interpreta "Betta" Recchi) filhos de Emma e nutridos da paixão juvenil e de empolgação próprias da idade. Edoardo namora uma garota perfeita, é atleta e tem uma amizade intensa com Antonio. Embora Luca não exponha de maneira direta, dá pistas para imaginarmos que Edoardo na verdade possa estar apaixonado pelo chef. Becca vive situação semelhante, intensa e amorosa - pintora e fotógrafa - se muda para Londres para fugir de um namorado que não gosta e acaba se apaixonando por uma mulher.



A cena em que Becca revela a mãe que é homossexual é tratada da maneira que qualquer sociedade minimamente inteligente deveria tratar a situação: com trivialidade.


I Am Love - confesso - começa um tanto quanto enfadonho, com um desfile de pessoas e nomes que o espectador não consegue guardar e se interessar em conhecer. No entanto, esses nomes e situações provam ser importantíssimos no decorrer da história. Nos primeiros - e importantes - minutos o diretor apresenta seus personagens, características e problemas óbvios. Percebemos a relação difícil entre Edoardo e seu pai, a tensão e subserviência de Emma para com a família, a figura retumbante do avô e a dificuldade para Becca ser aceita pelos demais (a garota oferta uma fotografia de presente ao avô, que esperava uma pintura, percebe um leve desapontamento no velho e é apoiada apenas pela mãe, o que revela a intimidade das duas).


O filme realmente engrena quando saímos dessa realidade festiva e avançamos no tempo para o reflexo dos minutos finais que passamos em companhia daqueles burgueses italianos.



A partir daí, Luca orquestra uma belíssima história sobre descobertas, medos e principalmente de aceitação de quem somos e do que queremos.


Tilda Swinton tem - talvez - sua melhor atuação em sua carreira. Longe do estereótipo andrógino que geralmente é apresentada, exala uma sensualidade reprimida como se buscasse descobrir-se ainda. Não sabe onde está muito menos quem é (tanto no sentido real - explicado pelo filme - quanto no sentido metafórico) e por conseqüência não consegue enxergar em sua vida a plenitude.


Seu envolvimento posterior com um dos personagens cria um conflito e ao mesmo tempo em que aguardamos o desfecho obviamente trágico, nos solidarizamos com ela e torcemos por seu sucesso. Luca constrói aqui uma forma verdadeiramente inteligente e sutil de apresentar o sexo de forma violentamente clara, ao mesmo tempo em que faz isso de forma delicada. Esta no não mostrar a maior arma do diretor.



Outro destaque é a fotografia calorosa de Yorick Le Saux (o mesmo de Swimming Pool e de Carlos) que destaca os belos cenários rurais da Itália. A trilha sonora de John Adams é outro belo achado da produção que não se sobrepõe a história e apesar de não se destacar cumpre o papel de criar uma cama sonora ao filme.


I Am Love é um belo exemplo de como transformar uma história blasé e até certos pontos óbvia, em uma experiência cinematográfica interessante e empolgante. Se Luca tivesse iniciado seu filme de forma menos enfadonha com certeza teríamos aqui uma obra ainda mais poderosa. Mas Swinton é esplendorosa e um dínamo que ressoa por todo o filme. Uma das grandes performances do cinema em 2009/2010.

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