sábado, 6 de agosto de 2011

Smurfs - O Filme
(The Smurfs, 2011)
Comédia - 103 min.

Direção: Raja Gosnell
Roteiro: J. David Stern, David N. Weiss, Jay Scherick e David Ronn

Com: Hank Azaria, Neil Patrick Harris, Jayma Mays, Sofia Vergara e as vozes de: Jonathan Winters, Alan Cumming, Katy Perry, Fred Armisen, George Lopez e Anton Yelchin.

Era uma vez um desenho animado, muito amado nos anos oitenta, sobre um grupo de seres azulados que viviam em uma floresta mágica e enfrentavam a ameaça constante de um bruxo e de seu gato laranja. Esse desenho marcou uma geração e entrou para o imaginário da cultura pop, sendo referenciado em diversas outras produções dos mais diversos gêneros e países. Falo, obviamente, dos Smurfs.

O desenho animado tão amado por tanta gente, aqui surge da mesma forma que Alceu e Dentinho, Alvin e os Esquilos, Vira Lata, Zé Colméia e Scooby Doo apareceram na tela grande. Numa mistura esquisita entre animação e live-action que nada tem a ver com o material original. Lembra bastante o já citado Alvin e os Esquilos e a sátira das princesas Disney Encantada, com a diferença de que Encantada - apesar de não ser um filme excelente - era uma sátira muito bem elaborada e que fazia piada de um clichê. Toda a performance de Amy Adams fazia sentido como brincadeira com as mais famosas princesas do cinema.


Em Smurfs, os humanos fazem muito mal a história, que em determinado momento passa a focar muito mais nas desventuras do casal Patrick (Neil Patrick Harris) e Grace (Jayma Mays) do que nos pequenos seres azuis. Apesar de começar de maneira - infantil, é verdade - bastante promissora, quando a partir de uma narração em off (apresentada pelo Smurf narrador, uma boa sacada) somos apresentados a vila dos Smurfs e seus inúmeros habitantes, cada qual nomeado de acordo com uma respectiva característica de sua personalidade, o filme só vai funcionar realmente para as crianças pequenas. 

Nesse mesmo prólogo, o filme também introduz o grande personagem do filme, aquele que rouba todas as cenas em que participa. Hank Azaria interpreta o bruxo Gargamel de maneira deliciosa, e é por ele, e somente ele, que o filme não é de todo insuportável. Copiando trejeitos quase a perfeição do desenho animado, Gargamel é um bruxo arrogante, inescrupuloso mas divertidíssimo em sua tentativa sem fim de capturar os Smurfs. Por outro lado, os Smurfs são construídos em 3d, lembrando evidentemente os traços do desenho animado, mas plastificados, em uma tentativa de caracterização que busca uma espécie de realismo, assim como as versões 3d de Zé Colméia e dos esquilos cantores.


A trama é bobinha, e claramente destinada aos pequenos. Quando o Smurf Desastrado (voz de Anton Yelchin no original) entrega acidentalmente a localização da vila para Gargamel, ele e mais alguns outros Smurfs são sugados por uma espécie de portal temporal/místico/estranho/azulado e saem na cidade de Nova Iorque, onde tentam desesperadamente encontrar uma forma de voltarem para casa, ao mesmo tempo, em que precisam fugir da vilania de Gargamel que os segue pelo mal fadado portal.

Uma vez no mundo real, o filme adota a idéia óbvia e bastante clichê de utilizar os personagens aprendendo o modo de vida "civilizado" de nossa sociedade, interagindo e fazendo graça com coisas aparentemente banais e até mimetizando personalidades ou satirizando outras. Esses momentos são as chamadas "piadas para o papai", que são tolas, rasteiras e profundamente infelizes nesse filme. Como exemplo, notem a sacada "genial" que os roteiristas (J. David Stern, David Weiss, Jay Scherick e David Ronn) utilizam para brincar com a cor dos personagens: em duas seqüências, os Smurfs passeiam no teto de taxis nova-iorquinos. Nas duas vezes, somos surpreendidos pela inserção de anúncios que remetem a cor dos bichos. Uma do grupo Blue Man Group e outro de blu-ray. Sério? Não poderiam ser menos sutis?


Os atores que deveriam, em teoria, servir como elo de ligação entre o publico e a história (em especial para os adultos, já que as crianças só terão olhos para os Smurfs) são todos fracos esboços de personagens. A exceção do citado Hank Azaria, nenhum dos outros atores conseguem encontrar o tom de seus personagens. Neil Patrick Harris é tão inexpressivo que prejudica descaradamente o filme, quando precisa assumir o posto de personagem principal. Não que ele não se esforce, e que não tenha aqui e ali uma ou outra boa sacada (a pesquisa no Google e o questionamento sobre os nomes dos Smurfs são boas piadas), mas joga tudo para o alto quando se vê tocando uma guitarra de mentira na versão mais terrível de Walk this Way (do Aerosmith) que já tive o desprazer de ouvir.

A graciosa Jayma Mays, parece não ter sido avisada que não gravava uma versão estendida de um episódio de Glee (com duendes azuis) já que a única diferença de sua Grace para a Emma da série de tv é o fato de em Smurfs ela surgir grávida, o que força o filme a entrar em uma patética e desnecessária conversinha mole sobre paternidade e tudo mais.

Sofia Vergara não existe. Pelo menos em Smurfs, seu personagem tem a importância e relevância praticamente nulas. O guru da moda Tim Gunn, que faz uma ponta de luxo no filme, está melhor do que a voluptuosa e talentosa atriz latina, famosa pelo histrionismo e grande atuação na série Modern Family.


O elenco de dubladores faz o melhor trabalho possível. Os serezinhos apesar de profundamente infantis, são carismáticos e os dubladores são todos muito bons, incluindo ai a cantora e musa Katy Perry que faz de Smurfette uma versão censura livre dela mesma.

No fundo Smurfs, poderia ser uma brincadeira divertidíssima e uma homenagem nostálgica aos velhos fãs e ainda apresentar estes personagens a uma nova molecada ensandecida para conhecer os pequenos seres azuis. Poderia, se Gosnell (diretor) e equipe não tentassem inventar a roda. Tirando os Smurfs da floresta, das Smurfamoras, e das aventuras simplistas em que sempre venciam o bruxo mal, tornaram-se mais um filme bobinho no meio de tantos outros com potencial muito menor. Uma lástima tão grande quanto à quantidade de Smurfs em tela.



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