domingo, 18 de março de 2012

Habemus Papam

Habemus Papam
(Habemus Papam, 2011)
Drama - 102 min.

Direção: Nanni Moretti
Roteiro: Nanni Moretti, Francesco Piccolo e Federica Pontremoli

Com: Michel Piccoli, Jerzy Stuhr, Renato Scarpa, Nanni Moretti e Margheritta Buy

Nanni Moretti é um provocador. Desde O Quarto do Filho e principalmente com Il Caimano, o diretor italiano nunca pareceu ter medo de fustigar a toca da cascavel e ser picado. Em Habemus Papam, Moretti aponta sua câmera para o maior dos símbolos da Itália, e um dos maiores (se não for o maior) símbolo de fé do planeta: o papa.

Mas, faz de forma sutil e leve, divertindo-se (e divertindo o espectador) pelo caminho, ao mesmo tempo em que não tem dó de acompanhar o passo a passo para o "apocalipse católico". Desde os primeiros planos, Moretti já coloca em cheque toda a aura de inspiração divina que os bispos, padres e afins afirmam ter, colocando-os todos como questionadores da fé, pedindo a Deus que os tire da roubada que é ser papa.

Acompanhando a votação secreta e cheia de simbolismos da eleição de um novo papa, Moretti aproveita para transformar uma simples eleição em uma primeira mostra de que qualquer um dos que fosse eleito teria problemas sérios em lidar com uma igreja atrasada, cheia de dogmas mais que deficientes e que vive em uma aura de perfeição asséptica embalada por diversos rituais desnecessários que visam apenas a manutenção de um estado de profunda afetação e que mantém alheio do mundo que o cerca. Essa é a visão de Moretti daqueles muros que cercam o menor país do mundo, que está encravado no centro de Roma.


Quando o papa (intitulado assim no filme e interpretado por Michel Piccoli) é eleito, depois de duas votações, onde fica claro que foi eleito o com menor poder político para gritar contra sua indicação, ele passa por uma profunda crise emocional, fazendo-o não aparecer para a multidão que o espera dando a tradicional benção e fazendo seu discurso de "posse".

É chamado o psiquiatra (interpretado pelo próprio Moretti) que se coloca como o agente do caos em meio aquele pasmaceira de padres travados, bispos cheios de dedos e arcebispos querendo "fugir" para tomar um cafezinho da esquina.

Apesar de aparentar uma acidez sulfúrica, Habemus Papam é sim uma critica direta a política do catolicismo, mas o faz com muito bom humor e uma leveza quase patética, o que combina perfeitamente com as situações do filme, seja a tentativa de encobrir uma fuga do pontífice (que é substituído por um guarda gorducho que tem funções especificas para levantar o moral dos cardeais), até as muitas regras de conduta das sessões psiquiátricas do papa, onde uma serie de problemas não podem ser abordados, passando pela interpretação contida mais intensa do veterano Picooli, que faz do papa uma figura trágica, um homem perdido em busca de um norte em sua vida fadada a um destino que talvez não seja o ideal para ele.


Moretti acerta em cheio quando em meio ao caos da situação de um papa que não quer ser papa, insere ainda mais caos na mistura, humanizando de vez aquelas figuras tidas como perfeitas e seguidoras impiedosas da fé. Propondo uma competição esportiva que visualmente é muito bem conduzida, Moretti aprofunda ainda mais sua tese de que: a igreja falha quando esquece que seus condutores são antes de mais nada, humanos e que como tal, falíveis e dotados de problemas e questionamentos.

Habemus Papam é intenso, engraçado, com direção de arte belíssima (e uma reconstrução dos ambientes "papais" muito elegante), e que consegue criticar a maior instituição do mundo de maneira impar no cinema moderno. Moretti prefere não apontar os canhões para as torres de São Pedro, mas se infiltrar pelo subsolo e plantar a semente do caos no solo arenoso do Vaticano.

Um comentário:

  1. Tai um boa critica a estrutura do Vaticano não só burocratica, como na questão da infalibidade do Papa

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