Clube da Luta (Fight Club, 1999)
Direção: David Fincher
Com: Edward Norton, Brad Pitt, Helena Bonham Carter
Laranja Mecânica, no início da década de 70, continha cenas de nudez completa, violência em demasia e uma temática que criticava o governo de forma aberta. A frente de seu tempo, sem dúvidas.
Pela década de 80, teve Videodrome, que foi um real loucura, no bom sentido. Crítica a fome dos vídeos da TV, uma ótima premissa. Na década de 90, uma década fraca e acomodada, a não ser pelo surgimento de Quentin Tarantino e outros eventos, não poderia deixar de ter sua obra lisérgica que modificaria a indústria e se tornaria cultuada. Surgiu, no final do ano de 1999, Clube da Luta.
Adaptado da obra de Chuck Palahniuk, Clube da Luta conta , após uma seqüência de créditos das mais estilosas já feitas, a saga de um jovem (que não é nomeado) empregado numa empresa automobilística (Edward Norton) que sofre de insônia pesada , e, para resolver esse seu problema, precisa ir a sessões de grupos de auto-ajuda de pessoas com câncer terminal (?!!). Quando vai, dorme como uma criança. E seguimos uma boa parte do filme ouvindo o narrador sem nome contar sobre sua vida. E, na maioria dos espectadores, ocorre o auto-reconhecimento.
O personagem de Norton é o retrato, sem nenhuma caricatura, do homem daquela período, e que existe até hoje. Um espécime estressado, pressionado pelo chefe, que não consegue dormir nem relaxar, que é pressionado pelas mídias a comprar e comprar cada vez mais, e vê o foco de sua existência nos seus bens materiais.
Então, numa dessas viagens que seu trabalho exigia, dentro de um avião, ele conhece Tyler Durden (Brad Pitt), um vendedor de sabão que era tudo o que o personagem de Norton não era : calmo, relaxado, inconseqüente e completamente desligado das posses. Realizava coisas que o protagonista nunca pensara em fazer...Desde de ser um garçom que urina nas refeições até um editor de filmes que põe mensagens “subliminares” neles. Depois desta viagem onde se conhecem, quando o narrador volta pra seu apartamento, descobre que o mesmo explodiu. Então pede para ficar por um tempo na casa de Tyler.
Lá, aprende , ou melhor, reaprende a ser um homem de verdade. Com muito mais desleixo e um espaço para um item essencial pros homens : a violência . É assim, começando apenas com uma pequena luta dos dois, que surge o Clube da Luta . Um lugar onde o importante não era vencer o adversário. O objetivo era liberar toda a fúria do homem moderno que foi aprisionada por convenções urbanas, a vida agitada e estressada, que praticamente “capou”os homens do mundo .
É nessa base de história que o roteiro se afixa. O redescobrimento do homem através do extravasar de adrenalina e raiva . Como colocado no próprio filme de maneira genial, os homens dessa era são os esquecidos da história. Não tem um Guerra Mundial a enfrentar, não há válvula de escape para o lado animal masculino. Com o Clube da Luta, todo esse lado selvagem é posto pra fora, servindo de ajuda psicológica sem igual. Esse Clube, não deixa de ser o apoio emocional dos homens, assim como os grupos de auto-ajuda de pessoas de câncer eram no início do filme. Mas até quando esse apoio é benéfico e a partir de onde ele começa a extrapolar?
Como há um excesso de informação e referencias no filme, acredito que seja impossível adquirir tudo de uma só vez. É preciso, pelo menos, uma segunda assistida ao filme para que se possa digerir todo o bom conteúdo colocado em tela de forma completa.
Tecnicamente, Clube da Luta vira mais sensacional ainda. É fato que é um filme importantíssimo para a história do cinema em geral. A começar, pela sua direção. Algo de outro mundo. David Fincher foi a muito a frente de seu tempo ao escolher ser tão rápido, tão ágil. Um estilo completamente contemporâneo que é avançado até hoje. Seus takes que só contem efeitos especiais são tão bons quanto os outros com atores normais. Ele acompanha todo o "acontecimento de computador” como ninguém jamais fez. Ótimo.
Outra coisa explêndida é a trilha do filme, da dupla Dust Brothers. Uma música vibrante, moderna e com estilo ótimo. Dá o tom exato do filme, em momentos cômicos e dramáticos. Pra acompanhar o trabalho de música, a fotografia sublime de Jeff Cronemweth. Faz o estilo sujo e iluminado por diversas luzes da cidade grande. Sujo e urbano, algo maravilhoso e dificilmente repetido.
A edição do filme também é ótima. Acompanha o ritmo acelerado da direção. Em atuações, o filme não deve nada. Helena Bohan Carter faz seu papel de maneira interessantíssima, e mostra que tem talento. Mas o espaço é mesmo de Edward Norton e Brad Pitt . O primeiro é engolido pelo personagem e o segundo dá vida a uma personagem completamente nova, e é o destaque. Como Pitt não ganhou o Oscar até hoje, não sei.
Clube da Luta é avançadíssimo e abalou os pilares dos anos 90. Tanto por sua história lisérgica, visual belíssimo ou direção magistral. É um filme muito a frente de sua década, de seu século,e merece ser admirado por gerações infinitas.
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