quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010


Trilha sonora para filmes... Rebaixamento da Música?


Como já havia comentado anteriormente, as primeiras postagens foram importantes para o entendimento de alguns conceitos, que seriam indispensáveis para alguns pontos de vista que gostaria de expor.

Desta vez resolvi não falar exatamente sobre diferenças musicais, nem sobre seus estilos. Escolhi este tema com o intuito de pensarmos o quanto a seguinte afirmação pode nos acrescentar: A música realmente se ”rebaixou”, tendo que “obedecer” à cada detalhe do vídeo? Esta é uma delicada discussão, entre uma opinião, a meu ver, mais conservadora; e outra, que viu nos filmes, um novo horizonte, um novo mundo, onde a música, o texto e o movimento se encontram em uma única arte: O Cinema.


Para isso, é muito importante lembrar, que não foi apenas no cinema que a música andou de mãos dadas com outras formas de arte. A música vocal, por exemplo, é encontrada em praticamente qualquer cultura - e cantar não deixa de ser uma forma de falar. Se voltarmos aos tempos do nascimento da Ópera, no final do século XVI, onde havia também vários gêneros literário-musicais que estudavam e experimentavam diferentes formas de interagir música com texto, música com movimento, podemos ver que havia um grande estudo a respeito da inteligibilidade do texto. Desde aquela época era importante que o texto ficasse em evidência, fazendo com que a música tivesse a função de ajudar a transmitir aquela mensagem.

Na música sacra, por exemplo, temos o Canto Gregoriano, que tem uma relação muito peculiar entre texto e música. A melodia é pensada em função do texto, fazendo com que o desdobramento melódico chame a atenção para as palavras principais. Ou seja, trata-se de uma melodia na qual o ritmo nunca pode interferir no que está sendo dito. O texto, em muitos gêneros musicais é fortemente ligado ao som, sendo ele apenas cantado, ou acompanhado por uma enorme variedade de instrumentos, ao longo da história da humanidade.


Entretanto é fato que, todos os exemplos que citei, foram peças musicais, não literárias. A ópera é música, o canto gregoriano, mesmo se tratando de uma oração, não deixa de ser um gênero musical. Isso me leva a crer que a música acaba incorporando as palavras e, mesmo essas tendo um grande conteúdo, uma canção voz e violão, por exemplo, também é música. Se trocarmos a letra de uma canção, ela vai ficar diferente, mas ainda assim ela é mais uma peça musical do que literária.

Falar sobre a complementaridade da música e sua relação com outras formas de arte é difícil, porque tudo o que foi dito até agora é apenas uma gota perto de um oceano. Mas precisei falar um pouco sobre as relações, para conseguir chegar ao foco da postagem de hoje, que se refere à opinião de alguns compositores, em meados do século XX, que achavam que a música estava rebaixando seus valores, para poder se adequar à música do cinema.

John Williams afirmou que o cinema está para o século XX, em questões de entretenimento, assim como Georges Bizet (1838 - 1875) esteve para a população da classe média na França do século XIX. Aos poucos, com o avanço da tecnologia, o cinema foi crescendo, até chegar nesta grande indústria que temos hoje. Ele é o herdeiro da tradição dramático-musical, da Ópera. Mas mesmo tendo uma influência direta com seu antecessor, ele tem sua própria linguagem e, especialmente, sua própria música.


Achar essa diferença entre a música do cinema e a da Ópera é simples: No cinema, a música é usada como um complemento para a cena, ela nos ajuda a passar o sentimento que estamos querendo transmitir no vídeo, porém, diferente da música operística, ela não é contínua. Em alguns filmes, como em “A Supremacia Bourne”, uma cena de luta é acompanhada apenas com sons, o que deu ênfase na tensão. Em “Eu sou a Lenda”, por exemplo, temos um grande espaço sem música, logo no início, durante uma entrevista.

Essa linguagem do cinema exige uma música diferente daquela composta e executada no século XIX, no sentido de ser um novo jeito de pensar música. Ela usa toda a instrumentação e processos de composição de uma música orquestral, mas é como se ela não funcionasse como música, afinal, a idéia do cinema não se dá por meio dela, e sim por meio de enredo, texto, idéia literária. Como eu disse no post anterior, sobre música funcional, a música nos ajuda muito a exprimir sentimentos nas quais texto e imagem não podem transmitir. Uma única melodia, às vezes, pode dizer mais que várias palavras.


Isso fez com que alguns compositores achassem a música do cinema algo subalterno, um verdadeiro rebaixamento às grandes orquestrações operísticas. Um filme poderia deixar de ter música, mas nunca poderia deixar de ter texto. E por isso, alguns compositores não quiseram modificar seus padrões para fazer as trilhas às quais eram convidados a fazer. As músicas eram compostas, mas elas precisam ser editadas e cortadas, para poderem se adequar à cena, o que era muito ofensivo para alguns compositores.

Alguns não queriam se envolver com isso, à medida que outros viram no cinema o grande meio artístico do século XX.

Acho sinceramente que essa afirmação sobre o rebaixamento da música é errada. É óbvio que é apenas a minha opinião, mas a música do cinema nunca proibiu outras de serem compostas e tocadas. Ela tem uma nova linguagem, mas ainda assim é possível ver ritmo, harmonia e melodia, elementos indispensáveis para a música.

Achei esse tema realmente interessante para escrever no FotoMusic Score. Essas opiniões a respeito do possível rebaixamento da música apareceram nas primeiras décadas do cinema, mas sendo rebaixadas ou não, muitas experimentações foram feitas até chegarmos ao que temos hoje.

Um comentário: