(The Hurt Locker, 2008)
Ação/Drama - 131 min.Direção: Kathryn Bigelow
Roteiro: Mark Boal
Com: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Guy Pearce, Ralph Fiennes, David Morse, Evangeline Lilly
O filme de Kathryn Bigelow, tão hypado pela crítica mundo afora, é um poderoso filme de guerra conduzido pela diretora com grandiosidade e com uma infinidade de qualidades técnicas.
Guerra ao Terror é um excelente exercício de técnica, que inclui no seu caldeirão uma história que se não é maravilhosa, é eficiente. Guerra versa sobre a história de um grupo de soldados no Iraque que são responsáveis pelo desarmamento de bombas e que vivem em estado de tensão eterna, sempre “perseguidos” pela sensação de morte a cada esquina.
Dentre os membros do esquadrão estão o Sargento William James (Jeremy Renner, emulando uma mistura de Mel Gibson em Máquina Mortífera com Robert DeNiro em Taxi Driver, misturando o tesão pela adrenalina do primeiro com a característica de auto destruição do segundo) e o Sargento JT Sanborn (Anthony Mackie, seguro, que mantém a “pose” de seriedade a toda prova, para desabar de forma emocionante em uma cena). A história começa quando James chega ao esquadrão e seu estilo “to nem ai pra autoridade” logo entra em conflito com o veterano de unidade Sanborn.
O que se segue é uma série de pequenos conflitos que mostram a caótica rotina da imbecil invasão americana ao Iraque. E durante essa rotina vê-se de tudo: um homem bomba que parece arrependido, um carro em chamas que esconde mais do que deveria, uma rede de fios que levam a descobertas perigosas, uma emboscada no deserto (onde vemos Ralph Fiennes fazendo uma ponta de luxo, outros que fazem pontas são Guy Pierce e Evangeline Lily), todas filmadas com uma urgência estética e narrativa que são perfeitas para o que Bigelow quer contar.
O filme é um verdadeiro espetáculo técnico, com uma brilhante direção, em especial nas sequencias de ação, tão bem conduzidas e com uma infinidade de ângulos interessantes e muito bem fotografada. Outro ponto positivo é a edição moderna (sem cair no videoclipe) que ajuda ao filme a criar a tensão necessária e bem vinda num filme como esse.
A narrativa, apesar de parecer a primeira vista episódica, é enxuta e bastante eficiente. Acho que eficiência é o que melhor define Guerra ao Terror. O filme é todo eficiente. Atuações convincentes (mesmo nas pontas estelares), direção bastante segura, e parte técnica bastante inspirada. O resultado de tanta inspiração é um filme de guerra inteligente e mesmo assim vigoroso e tenso. Muito tenso.
Porém, o principal de tudo isso é que a história, a narrativa funciona. É convincente e os dramas ali mostrados são reais. Não precisamos ir muito longe, ou pesquisarmos com extrema profundidade para percebermos que aqueles homens existem, e que aquela história poderia ser real. Jeremy Renner constrói uma persona de um viciado em adrenalina, apenas para esconder que no fundo aquele cara é somente um homem talhado para aquela tarefa, enquanto Anthony Mackie faz o oposto, criando o sargento perfeito, auto-suficiente, um líder nato, somente como subterfúgio para esconder sua vontade obsessiva de sair de lá e retomar sua vida.
As falhas do filme, talvez encontra-se na forma como Bigelow resolve desenvolver seus personagens. Apesar de os reconhecer como pessoas reais, ela não aposta em soluções óbvias ou em saídas sentimentaloides para forçar a identificação do público com os personagens. Alguns podem reclamar dessa frieza, porém eu entendo como exercício de realismo. Mesmo nos momentos de real emoção, ela não apela a trilha triste ou a câmera lenta por exemplo. É tudo muito cru, muito verdadeiro, muito documental. Identifique-se se quiser, parece dizer a diretora. Torça por eles se acreditar que são pessoas reais, é meu palpite para suas intenções.
Guerra ao Terror é verdadeiramente um espetáculo de ação com um grau tensão tal qual grandes produções setentistas. A sensação de morte a espreita me fez lembrar (e sei que os filmes não tem a nada e ver um com o outro, apenas citarei pela sensação que me causou quando os vi pela primeira vez) Expresso da Meia Noite, por exemplo. Aquela sensação de que a qualquer momento algo vai dar errado e aqueles personagens simplesmente não completarão suas "missões".
Por apresentar tamanhas qualidades não é possível compreender no entanto como um filme com tamanho potencial, e que no mínimo faria algum barulho no cinema, saiu por aqui apenas em DVD. Uma piada, no mínimo. Isso sem contar com a tradução lamentável, que faz parecer que veremos algum filme classe z de ação, onde um homem enfrente um exercito inteiro com uma faca de pão. Ele volta aos cinemas, graças ao hype, agora dia 5 de fevereiro, com um pouco mais de um mês de antecedência para o Oscar. Para aqueles que não viram em DVD, é uma ótima amostra para provar porque 9 entre 10 criticos elegeram o filme o mais poderoso do ano passado.
A diretora Kathryn Bigelow foi muito famosa na transição dos 80's pros 90's, com Caçadores de Emoção, cult-sessão da tarde estrelado pelo saudoso Patrick Swayze e Keanu Reeves. O filme era um descartável exercício de diversão e Bigelow nada fazia para ser reconhecida pela direção, tudo bem normal. Era mais famosa até por ser esposa do pré-Oscar James Cameron. Logo depois de Caçadores, Bigelow não fez mais nada de importante mesmo. Mas em 2009, ela apostou numa produção independente com orçamento de 11 Milhões, sobre a guerra no Iraque.
Logo depois de estrear, Guerra ao Terror foi ganhando uma repercussão enorme, sendo elogiado por todos. Aqui no Brasil, o filme saiu primeiro em DVD (a Imagem Filmes deve estar se mordendo agora) e passou batido. Mas, depois de tanto hype, o filme chega aos cinemas aqui. E com um status gigantesco: Senão bastasse ter sido glorificado por sites respeitados como o Rotten Tomatoes (que deu 97% de aprovação), Guerra já vinha ganhando prêmios importantes pelo mundo todo e, em 2 de Fevereiro, foi indicado a 9 Oscar. Era Kathryn Bigelow voltando ao estrelato e agora agraciada pela crítica. Mas fica a dúvida: Guerra ao Terror é tudo isso mesmo? Vale a pena?
A resposta é mais que clara: Sim. E vale torcer por ele para vencer o Oscar porque é o que tem mais chances, ao lado do bom Avatar.
A trama, contada de forma incomum, acompanha um grupo de soldados no Iraque. Eles estão lá para andar de quarteirão em quarteirão com o objetivo de desarmar bombas, conter pequenas ameaças armadas ou apenas ficar explodindo armamento desnecessário. Até que esses 3 soldados vão desarmar uma bomba comum e acabam se deparando com um terrorista, que a dispara, matando um deles (Guy Pearce). Assim, um substituto chamado William James (Jeremy Renner) entra no lugar para comandar a equipe, também formada por Sanborn (Anthony Mackie) e Eldridge (Brian Geraghty). Enquanto eles realizam suas atividades até completarem seu turno no exército, cada um deles vai demonstrando seus medos e ambições.
A narrativa do filme se desenrola assim, de forma diferente e entregando mais da construção de personagens e situações. Nisso, a rotina da guerra é valorizada e as reviravoltas que os estúdios e massa tanto anseiam, não aparecem. O foco aqui é no realismo.
Tecnicamente, Guerra ao Terror é impressionante para seu parco orçamento. A direção de Bigelow, indicada ao Oscar, é alucinante. Lembrando o jeito de Paul Greengrass, Kathryn filma a ação com cortes bem rápidos e bem utilizados. E tudo isso num estilo bem de guerrilha, com a tensão sempre lá em cima. Curiosamente, apesar dos cortes serem rápidos, a direção de Bigelow é fácil de acompanhar, com uma direção de atores excelente.
Até nas parcas cenas fora da Guerra, ela dirige bem. Aqui, ela foi merecidamente reconhecida porque essa é uma das 3 melhores direções do ano, talvez a melhor. Agora, fica a espera por um próximo trabalho dela. A edição de Chris Innis e Bob Murawski auxilia de forma precisa o estilo agressivo de Bigelow filmar.
A agilidade imposta é soberba e merece ser premiada esse ano. Ela é um dos grandes atrativos visuais do filme (e não são poucos). Alguns cortes rápidos que a edição introduz são soberbos. Como o filme não tem uma estrutura narrativa fixa, a edição coloca com perfeição transições longas, como quando uma bomba é desarmada. O corte pula para outro frame com agilidade pouco vista esse ano.
Outro primor, digno de uma premiação (apesar de Eric Steeberg ter feito um trabalho melhor em 500 Dias com Ela) é a fotografia. Barry Ackroyd fez um trabalho fabuloso, fotografando a guerra como ninguém. Os tons mais amarelos, valorizando o ambiente quente e desértico é fabuloso, extraindo imagens com arrojo e segurança. Aqui, a fotografia é bem parecida com a de Trent Opaloch em Distrito 9, outra peróla em quesito fotografia. Merecidamente, Ackroyd ganhará esse Oscar.
Curiosamente, a trilha sonora foi indicada ao Oscar. Marco Beltrami e Buck Sanders resolveram valorizar o realismo aqui e deixaram a mixagem de som e edição trabalharem, construindo trilhas minimalistas e em poucas oportunidades, visando apenas fortalecer a tensão do filme. Mas, todos agraciaram a trilha de forma bem esquisita, afinal, ela pode até ter qualidade quando exigida, mas ela é MUITO pouco exigida.
Enfim, é um ponto positivo pro filme como um todo, mas isoladamente é bem esquisita (ainda mais pela indicação). A edição de som e a mixagem do filme são fantásticas e os pontos mais impactantes do filme (com exceção da direção). Empolgantes e bem realistas, eles ajudam o espírito de Guerra ao Terror. A direção de arte também é boa, mas perde em relação aos outros quesitos técnicos. Apenas um pouco acima da média, fazendo o habitual em filmes de Guerra.
As atuações de Guerra ao Terror são muito dignas. Jeremy Renner, antes ator coadjuvante de filmes médios, aqui ganha a chance de sua vida. Ele pega um papel arquetípico em um filme independente e se transforma num personagem bastante interessante, alguém diferente, sendo abordado de forma diferente. Logo, a indicação ao Oscar de Melhor Ator veio e digo que é muito justo. A transformação de Renner em James é tocante e corajosa.
Junto a ele, os coadjuvantes fazem bonito. Anthony Mackie, o Sanborn, atua muito bem. Eu até o indicaria-o para Ator Coadjuvante. O pouco conhecido ator (como a maioria, exigência de Bigelow, em prol do realismo) arrebenta e exala veracidade. Brian Geraghty, o Eldrigde, acrescenta uma boa atuação ao elenco, acima da média. Mas nada parecido com as poderosas facetas criadas por Renner e Mackie. Fora eles três, é difícil falar de Guerra ao Terror. Afinal, os conhecidos David Morse, Guy Pearce e Ralph Fiennes tem papéis míseros e de pouco destaque. E os outros são apenas figurantes relacionados a guerra. Então, funcionando como um perfeito "ensemble cast", Guerra ao Terror apresenta um dos conjuntos de elenco mais completos do ano.
O roteiro de Mark Boal ajuda a veracidade que o filme quer impor. O ex-jornalista, sempre baseado em áreas de combate, estudou bastante do tema e isso dá pra ver com facilidade nas situações críveis e nos diálogos precisos que foram escritos. E a direção de Bigelow ainda ajuda esse espírito, dando um ritmo tenso e quase documental pro filme. Foi uma combinação perfeita, afinal, é difícil achar uma maneira completa de filmar um roteiro tão complexo e inovador.
Inovador, eu digo, pela estrutura que Boal usou para construí-lo. O filme não tem uma trama definida ou linear, ele segue a equipe de James desarmando bombas e lidando com situações cotidianas, como um ou outro rebelde iraquiano armado. Por isso, não há um clímax definido e não há as explosões finais, reviravoltas de roteiro ou até mesmo uma ou outra situação de blockbuster.
Em Guerra ao Terror, a estrutura valoriza o ambiente e a Guerra, que moldam o homem. Guerra moldando o homem... Ta aí um conceito bem explorado pelo roteiro, que vai da frase inicial do filme (A Guerra é um vício) até o final, quando o roteiro preza pela transformação e construção final de personagem. O motivo pelo qual James encara aquilo tudo é corajosamente bem abordado e absurdo, tamanha a situação que o filme joga na nossa cara. No meio de todo aquele caos, ainda há que goste.
Num conceito geral, Guerra ao Terror pode não ser o melhor filme de guerra já feito. Mas, sem dúvida, é o que mais nos trata como espectadores reais da guerra. Aqui, sabemos dos horrores dela sem pudores e sem censura. Talvez Guerra não seja carismático como Soldado Anônimo, não seja divertido como Falcão Negro em Perigo, não seja tão aclamado quanto Apocalypse Now, nem tão bom quanto um Bastardos Inglórios. Ele é o que nos trata com mais inteligência, nos mostra com precisão o que uma guerra é, o típico filme que é visto superficialmente como filme-denúncia, mas no âmago é um filme sobre os homens e seus vícios.
Um filme memorável, que usa a Guerra, o ambiente, o clima e até mesmo um traje (o tal Hurt Locker do título original) para mostrar que homens só são homens quando estão guerreando. E essa questão abordada é linda. Guerra ao Terror nos faz um grande questionamento no final: Seria mais verdadeiro o homem com uma arma na mão, numa Guerra, ou com uma faca na mão, cozinhando com sua família?
Bigelow e Boal jogam na cara a realidade de vários homens no mundo. E se no final o choque é grande, não se preocupe. Não é sempre que a guerra é mais importante que um bebê.
PS.: Imagem Filmes, tenha mais cuidado com o modo que vocês lançam seus filmes. Uma pérola como essa, direto em DVD, é no mínimo estranho. Coloque os atores principais na capa do produto, não os mais famosos. Chega a ser até absurdo o fato dos 3 atores na capa aparecerem, somando, 4 minutos no filme. Por favor né...
TRAILER:
A trama, contada de forma incomum, acompanha um grupo de soldados no Iraque. Eles estão lá para andar de quarteirão em quarteirão com o objetivo de desarmar bombas, conter pequenas ameaças armadas ou apenas ficar explodindo armamento desnecessário. Até que esses 3 soldados vão desarmar uma bomba comum e acabam se deparando com um terrorista, que a dispara, matando um deles (Guy Pearce). Assim, um substituto chamado William James (Jeremy Renner) entra no lugar para comandar a equipe, também formada por Sanborn (Anthony Mackie) e Eldridge (Brian Geraghty). Enquanto eles realizam suas atividades até completarem seu turno no exército, cada um deles vai demonstrando seus medos e ambições.
A narrativa do filme se desenrola assim, de forma diferente e entregando mais da construção de personagens e situações. Nisso, a rotina da guerra é valorizada e as reviravoltas que os estúdios e massa tanto anseiam, não aparecem. O foco aqui é no realismo.
Tecnicamente, Guerra ao Terror é impressionante para seu parco orçamento. A direção de Bigelow, indicada ao Oscar, é alucinante. Lembrando o jeito de Paul Greengrass, Kathryn filma a ação com cortes bem rápidos e bem utilizados. E tudo isso num estilo bem de guerrilha, com a tensão sempre lá em cima. Curiosamente, apesar dos cortes serem rápidos, a direção de Bigelow é fácil de acompanhar, com uma direção de atores excelente.
Até nas parcas cenas fora da Guerra, ela dirige bem. Aqui, ela foi merecidamente reconhecida porque essa é uma das 3 melhores direções do ano, talvez a melhor. Agora, fica a espera por um próximo trabalho dela. A edição de Chris Innis e Bob Murawski auxilia de forma precisa o estilo agressivo de Bigelow filmar.
A agilidade imposta é soberba e merece ser premiada esse ano. Ela é um dos grandes atrativos visuais do filme (e não são poucos). Alguns cortes rápidos que a edição introduz são soberbos. Como o filme não tem uma estrutura narrativa fixa, a edição coloca com perfeição transições longas, como quando uma bomba é desarmada. O corte pula para outro frame com agilidade pouco vista esse ano.
Outro primor, digno de uma premiação (apesar de Eric Steeberg ter feito um trabalho melhor em 500 Dias com Ela) é a fotografia. Barry Ackroyd fez um trabalho fabuloso, fotografando a guerra como ninguém. Os tons mais amarelos, valorizando o ambiente quente e desértico é fabuloso, extraindo imagens com arrojo e segurança. Aqui, a fotografia é bem parecida com a de Trent Opaloch em Distrito 9, outra peróla em quesito fotografia. Merecidamente, Ackroyd ganhará esse Oscar.
Curiosamente, a trilha sonora foi indicada ao Oscar. Marco Beltrami e Buck Sanders resolveram valorizar o realismo aqui e deixaram a mixagem de som e edição trabalharem, construindo trilhas minimalistas e em poucas oportunidades, visando apenas fortalecer a tensão do filme. Mas, todos agraciaram a trilha de forma bem esquisita, afinal, ela pode até ter qualidade quando exigida, mas ela é MUITO pouco exigida.
Enfim, é um ponto positivo pro filme como um todo, mas isoladamente é bem esquisita (ainda mais pela indicação). A edição de som e a mixagem do filme são fantásticas e os pontos mais impactantes do filme (com exceção da direção). Empolgantes e bem realistas, eles ajudam o espírito de Guerra ao Terror. A direção de arte também é boa, mas perde em relação aos outros quesitos técnicos. Apenas um pouco acima da média, fazendo o habitual em filmes de Guerra.
As atuações de Guerra ao Terror são muito dignas. Jeremy Renner, antes ator coadjuvante de filmes médios, aqui ganha a chance de sua vida. Ele pega um papel arquetípico em um filme independente e se transforma num personagem bastante interessante, alguém diferente, sendo abordado de forma diferente. Logo, a indicação ao Oscar de Melhor Ator veio e digo que é muito justo. A transformação de Renner em James é tocante e corajosa.
Junto a ele, os coadjuvantes fazem bonito. Anthony Mackie, o Sanborn, atua muito bem. Eu até o indicaria-o para Ator Coadjuvante. O pouco conhecido ator (como a maioria, exigência de Bigelow, em prol do realismo) arrebenta e exala veracidade. Brian Geraghty, o Eldrigde, acrescenta uma boa atuação ao elenco, acima da média. Mas nada parecido com as poderosas facetas criadas por Renner e Mackie. Fora eles três, é difícil falar de Guerra ao Terror. Afinal, os conhecidos David Morse, Guy Pearce e Ralph Fiennes tem papéis míseros e de pouco destaque. E os outros são apenas figurantes relacionados a guerra. Então, funcionando como um perfeito "ensemble cast", Guerra ao Terror apresenta um dos conjuntos de elenco mais completos do ano.
O roteiro de Mark Boal ajuda a veracidade que o filme quer impor. O ex-jornalista, sempre baseado em áreas de combate, estudou bastante do tema e isso dá pra ver com facilidade nas situações críveis e nos diálogos precisos que foram escritos. E a direção de Bigelow ainda ajuda esse espírito, dando um ritmo tenso e quase documental pro filme. Foi uma combinação perfeita, afinal, é difícil achar uma maneira completa de filmar um roteiro tão complexo e inovador.
Inovador, eu digo, pela estrutura que Boal usou para construí-lo. O filme não tem uma trama definida ou linear, ele segue a equipe de James desarmando bombas e lidando com situações cotidianas, como um ou outro rebelde iraquiano armado. Por isso, não há um clímax definido e não há as explosões finais, reviravoltas de roteiro ou até mesmo uma ou outra situação de blockbuster.
Em Guerra ao Terror, a estrutura valoriza o ambiente e a Guerra, que moldam o homem. Guerra moldando o homem... Ta aí um conceito bem explorado pelo roteiro, que vai da frase inicial do filme (A Guerra é um vício) até o final, quando o roteiro preza pela transformação e construção final de personagem. O motivo pelo qual James encara aquilo tudo é corajosamente bem abordado e absurdo, tamanha a situação que o filme joga na nossa cara. No meio de todo aquele caos, ainda há que goste.
Num conceito geral, Guerra ao Terror pode não ser o melhor filme de guerra já feito. Mas, sem dúvida, é o que mais nos trata como espectadores reais da guerra. Aqui, sabemos dos horrores dela sem pudores e sem censura. Talvez Guerra não seja carismático como Soldado Anônimo, não seja divertido como Falcão Negro em Perigo, não seja tão aclamado quanto Apocalypse Now, nem tão bom quanto um Bastardos Inglórios. Ele é o que nos trata com mais inteligência, nos mostra com precisão o que uma guerra é, o típico filme que é visto superficialmente como filme-denúncia, mas no âmago é um filme sobre os homens e seus vícios.
Um filme memorável, que usa a Guerra, o ambiente, o clima e até mesmo um traje (o tal Hurt Locker do título original) para mostrar que homens só são homens quando estão guerreando. E essa questão abordada é linda. Guerra ao Terror nos faz um grande questionamento no final: Seria mais verdadeiro o homem com uma arma na mão, numa Guerra, ou com uma faca na mão, cozinhando com sua família?
Bigelow e Boal jogam na cara a realidade de vários homens no mundo. E se no final o choque é grande, não se preocupe. Não é sempre que a guerra é mais importante que um bebê.
PS.: Imagem Filmes, tenha mais cuidado com o modo que vocês lançam seus filmes. Uma pérola como essa, direto em DVD, é no mínimo estranho. Coloque os atores principais na capa do produto, não os mais famosos. Chega a ser até absurdo o fato dos 3 atores na capa aparecerem, somando, 4 minutos no filme. Por favor né...
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