Educação
(An Education, 2009)Drama - 95 min.
Direção: Lone Scherfig
Roteiro: Nick Hornby
Com: Carey Mulligan, Alfred Molina, Peter Saarsgaard, Olivia Williams, Rosamund Pike
Quando analiso um filme, seja por diversão (o que é cada vez mais raro) ou por motivos “bloguísticos”, procuro ao máximo separar o que penso sobre a vida, o universo e tudo mais, do que vejo na tela. Trocando em miúdos, procuro não julgar as ações dos personagens, procuro entendê-las e dentro do universo ficcional do filme analisar se elas são compatíveis, inteligentes, idiotas ou geniais.
Porém, as vezes, e em casos muito especiais fica impossível manter esse distanciamento das produções. São casos em que o que você na tela te ofende, te irrita ou simplesmente “te enche o saco”.E antes, que conjecturem, sim e não. Sim, Educação me deu muita raiva, e não, tentarei manter a análise o mais perto do “visto na tela”.
O filme inglês dirigido por Lone Scherfig, e estrelado por Carey Mulligan, Alfred Molina, Olivia Williams, Peter Saarsgaard e Rosamund Pike, conta a história de Jenny (Mulligan) uma estudante brilhante que as vésperas de sua tentativa quase obsessiva de entrar na universidade de Oxford conhece David (Saarsgaard) um homem mais velho, sofisticado e que envolve-se com a garota, oferecendo um mundo de cultura, classe e diversão.
O que fez de Educação um filme premiado e até indicado ao Oscar de melhor filme, é um mistério que permanecerá na minha cabeça por eras.
Não que o filme seja desprezível e que não tenha méritos. Os atores principais, Molina que vive o pai de Jenny, e a própria Mulligan tem atuações interessantes. O ator num papel mezzo cômico mezzo trágico (com muita ênfase no primeiro) é um pai preocupado, ou melhor, desesperado para que a filha entre em Oxford, tem as melhores cenas. Molina (que apesar do nome é inglês), é um típico produto de seu tempo. Repressor, controlador e autoritário, mas de bom coração, que se vê perdido em meio as “novidades de uma nova época”.
Mulligan é o coração, a alma, as pernas e os braços do filme. Ao compor Jenny como uma menina inteligente, esperta e que não se assusta com as repressões do pai, Mulligan escapou de transformar sua heroína em um personagem caricatural.
Os demais do elenco, em especial Pike, apenas mantém o ritmo. Saarsgaard faz pela milionésima vez o mesmo tipo. Misterioso, de olhar frio, com traquejo social e que esconde alguma coisa. A bela Olivia Williams, escondida por óculos, e um visual propositalmente castrador consegue se sair melhor. A professora Stubbs é o “farol” que guia Jenny rumo as descobertas da vida real.
E falemos de Nick Hornby, em sua primeira experiência como roteirista. Honestamente, o cara que escreveu Febre de Bola e Alta Fidelidade (um bem adaptado outro destruído) poderia ter se saído melhor. Quem conhece o autor, vai reconhecer os litros de humor britânico, as piadinhas com cultura pop (e com C.S. Lewis) mas perceberão também que a história contada por ele parece uma enorme correria em sua parte final.
Hornby, e essencialmente Scherfig, contam 70 minutos de sonhos, fantasias, realizações para em meros 20 minutos, virar tudo de cabeça pra baixo, e tentar encontrar saídas para seus personagens.
O que começa muito bem, com grafismos que reforçam o esteriotipo das escolas para mulheres, a descoberta de uma protagonista moderna e esperta, com amigas igualmente interessantes, uma família tradicional mais recheada de diálogos bem humorados, desmorona quando prefere apostar na “saída dos fracos”: o bom é velho melodrama.
Quando disse no começo que Educação me irritou, foi esse (o motivo cinematográfico) uma das razões. O filme não consegue se decidir entre ser uma comédia leve e divertida sobre descobertas e ser um filme de jornada. Se tentou ser um “mix” falhou. Mulligan ainda tenta segurar, mas a inexpressividade de Saarsgaard quase derruba o filme.
O outro ponto “irritante” (e esse não foi o cinematográfico) foi a “liçãozinha de moral” que a protagonista leva. Em um dos momentos mais verdadeiros e realistas do filme, ela se encontra com a diretora da escola (Emma Thompson, presente em 11 de 10 filmes britânicos) e expõe suas dúvidas em relação ao futuro. Ao não acreditar que a universidade pode verdadeiramente lhe trazer aquilo que todos buscamos: felicidade. Entre outras coisas (e não isso não é spoiler) ela diz (sabiamente) que o pais, e podemos alargar as fronteiras e dizer o mundo, só é cinzento como é, pois fazemos “coisas chatas e difíceis” a vida toda. Não que devamos parar de estudar, mas devemos acima de tudo encontrar o motivo para nossa vida deixar de ser “chata e difícil”. Naquele momento do filme, estava prestes a classificar Educação como libelo contra a hipocrisia, ou uma visão realista de mudança de paradigmas sociais.
Mas então, vem os tais 20 minutos finais, e todo aquele discurso verdadeiro da personagem é esquecido e como um cachorrinho, ela volta com o rabinho entre as pernas e parece ter esquecido tudo o que viveu. Novamente, não discordo de sua opção em estudar e da personagem ter encontrado sua felicidade nisso, mas ela parece simplesmente esquecer tudo (como inclusive fica caracterizado na última fala do filme) do que aprender com suas falhas e com os problemas encontrados.
Enfim, sei que muitos podem ver o filme como uma história sobre vencer as tentações , ou se manter no caminho correto. Mas pra mim, tudo isso soa muito careta no pior dos sentidos. Sempre acreditei que as pessoas devem e podem mudar suas opiniões quanto a suas próprias vidas, e o filme de Scherfig parece vir como um trem desgovernado de outro lado dizendo: cuidado com os desvios, não os pegue, sua vida é essa e ponto. A vida está ai para ser vivida, e mais do que vivida, está ai para ser apreciada. Toda experiência é válida, e esquecê-la é uma enorme burrice.
TRAILER:
Um filme bem superior à "Educação" é "Fish Tank", que tem a mesma premissa e acabou de levar o BAFTA de Melhor Filme Inglês (derrotando inclusive o filme de Lone Scherfig). Se puder assista, é tudo que "Educação" queria ser! rs. Escrevi sobre ele hj:
ResponderExcluirhttp://umblogdecinema.blogspot.com/ Abs!
Beto, to com Fish Tank pra ver... o BAFTA é sempre mais "confiável" entre os prêmios de grande apelo mundo a fora. Vou ler sua resenha no blog.
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