terça-feira, 16 de fevereiro de 2010


Música Funcional vs Música Pura

Antes de começar a escrever sobre o tema de hoje, quero agradecer, e muito, aos comentários da última postagem. Fico muito feliz pelo interesse dos leitores nesta nova sessão sobre trilha sonora, e também com a idéia de expansão do blog. Está sendo muito divertido! Muito obrigado aos leitores e ao Fotograma Digital!

Desde os primórdios da história, onde o homem simplesmente observava os sons da natureza que soavam ao seu redor, como trovões, pássaros e o barulho das folhas ao vento, já havia uma curiosidade – ou quem sabe, necessidade – de ter alguma atividade baseada em sons. E nesse momento, podemos dizer que a música “nasceu”, embora existam outras teorias, envolvendo outros pontos de vista menos científicos.

Com o passar do tempo, a música foi crescendo e tecnicamente se desenvolvendo. Vários instrumentos foram inventados por todo o mundo, a partir da busca por novas sonoridades, e novas ferramentas foram sendo descobertas, a partir da ousadia, bom gosto e estética de cada cultura.

Shofar – É considerado um dos mais antigos instrumentos de sopro, sendo usado em ocasiões solenes, como o Rosh Hashaná (ano-novo judaico)


E com estas novas ferramentas e técnicas, vocais e instrumentais, o homem começou a “usar a música” para os seus acontecimentos. É muito comum, quando estudamos alguma civilização antiga, ou até mesmo a cultural musical de um povo, que estudemos as suas músicas ritualísticas, como o mantra, por exemplo, que é um poema religioso original do hinduísmo, também utilizado em outras religiões.

Esses rituais geralmente tinham 3 origens. Os povos antigos geralmente usavam a música para guerras, festas e cerimônias religiosas.

A partir de estudos sobre este hábito de “usar a música” para diferentes tipos de ritual, que foi inventado o termo “música funcional”.

Mas, o que isso tem a ver com Trilha Sonora?

Da mesma forma que isto foi perguntando - por mim mesmo - no post anterior, quero ressaltar neste segundo artigo que a música usada na trilha sonora dos nossos filmes também é uma música funcional.
A análise que precisamos fazer é simples:

Existem vários setores responsáveis por um filme. Enredo, iluminação, figurino, efeitos, música, entre muitos outros. Mas independente de tudo, o mais importante de todos, é o texto. Se a história de um filme não for definitivamente boa, não são seus efeitos, ou figurino, ou iluminação que vão salvá-lo.

Quando surge a idéia de um filme, ele é inteiro estruturado, filmado, e só depois é que a música é feita, porque o compositor precisa ter uma exata precisão da sincronicidade do áudio com o vídeo. Afinal imagine, por exemplo, se a música não acompanha a cena, e a dinâmica só aumenta depois, ou antes, que o casal apaixonado se beija no final do filme. Este é um pequeno exemplo que posso citar, dentre tantas outras cenas onde o áudio precisa obedecer ao vídeo.

Obedecer. Esta é uma palavra ideal para sintetizar o que eu estou falando. A Música do cinema é apenas uma ferramenta que obedece ao vídeo. Afinal, podemos assistir muitos filmes legendados sem volume, uma vez que vamos entender o enredo da mesma forma. Ela tem apenas a “funcionalidade” de acentuar alguns sentimentos, que o texto ou a imagem não podem exprimir totalmente.

Esta é a definição de música funcional, esta que foi usada nos rituais desde a antiguidade clássica, e que chegou literalmente às nossas telas de TV.

Mas junto com esta, existiu um outro tipo de música, que andou paralelamente à funcional. Seu nome é “Música Pura”, e é representada por todas as músicas feitas apenas pela arte, ou por mero entretenimento. Ela é um tipo de música que não foi composta ou executada com um propósito pré-definido.

É a grande maioria das músicas que escutamos hoje. Todas as músicas feitas por todas as bandas de Rock, por exemplo, são exemplos de música pura. Elas não são usadas em rituais religiosos, nem para guerras, obviamente. Músicas de bandas até podem ser ouvidas em festas, mas não foram necessariamente compostas para este fim. Hoje a música tem outros propósitos, tanto estéticos quanto mercadológicos.

Uma comparação interessante é ouvir a própria música funcional como música pura. Como fazer isso? É simples: Lembrando que a música funcional, neste nosso ponto de vista de trilha sonora, nada mais é do que a música que “obedece” a cena, tudo o que precisamos fazer é ouvir a mesma música, fora do filme. Isso já faz com que você ouça uma música funcional, como música pura. Você apenas está tirando a sua “real função”, e está ouvindo apenas pelo entretenimento de ouvir uma música que você gostou. Vou deixar a música "The Breaking of Fellowship" da Trilha Sonora do primeiro filme da trilogia “Lord of the Rings”, mas você pode ouvir qualquer música de qualquer outra trilha sonora, ao seu gosto.

Existe também o inverso, que é o caso de um compositor usar uma música já existente na trilha sonora de algum filme, como Michael Kamen fez em “Highlander” (1986), usando várias músicas da banda Queen, como “A Princess of the Universe” , “A Kind of Magic” (clique para ver os vídeos no Youtube).


Decidi abordar este tema num segundo artigo, porque não deixa de ser uma explicação introdutória para os próximos posts, onde falarei sobre outros detalhes que também compõem uma trilha sonora.


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