quinta-feira, 19 de agosto de 2010

É Proibido Fumar
(É Proibido Fumar, 2009)
Drama/Romance/Comédia - 86 min.

Direção: Anna Muylaert
Roteiro: Anna Muylaert

Com: Glória Pires e Paulo Miklos


Proibido Fumar guarda semelhanças com o filme anterior de Anna Muylaert (Durval Discos). Ambos guardam dentro de suas cascas muito mais do que uma comédia dramática sobre costumes das cidades brasileiras. São histórias com camadas emocionais mais profundas e que optam pelo silêncio e pela exposição dos fatos. Eles estão lá, e o espectador é um montador e junta os pedaços e elabora a figura.

Sensações emocionais são tratadas de forma angustiada. Elas não fluem como numa história comum com happy end, mas truncada como um filme independente. E seus personagens são vivos e tem conflitos humanos, ansiedades, desejos, "sujeira" e amor. Como agente.

No "barco" se junta uma dupla de protagonistas que entendeu o que a diretora - e roteirista - queria contar e o resultado é que temos um filme que merecia muito mais espaço nas salas de cinema do país.


Glória Pires, em uma composição muito feliz, é Baby uma mulher solitária por opção e sem aspirações na vida. Medrosa e devotada ao vício no cigarro que serve como apoio e âncora simbólica de seu "atraso mental". Vive de dar aulas de violão a pessoas desinteressantes, assistir a programas fúteis, a cultivar uma nada sadia obsessão por um sofá velho e a fumar.

Sua vida é chacoalhada, como a maioria de nossas vidas, com a chegada de um objeto estranho a seu meio. No caso Max - em mais uma beleza de trabalho de Paulo Miklos, revelando-se cada vez melhor - um músico quarentão que com sua postura laid-back cativa a solitária Baby.

O filme então trabalha esse casal como um esboço da realidade suburbana da cidade de São Paulo. Cheio de neuroses, com picos de agonia, tristeza e inseguranças.


Como disse acima, o filme guarda uma virada muito orgânica e que remete diretamente a opção da diretora em usar o cigarro como condutor das neuroses da vida moderna. É nele - e por ele - que a personagem de Glória (despida de qualquer vaidade) atravessa sua curva dramática enquanto Max surge desde sempre com dubiedade deixando mais óbvio seus eventuais problemas.

O filme peca nesse excesso. Não havia necessidade de obviedade em seu personagem, e mesmo que acerte na resolução - sutil - ainda assim tem que entregar ao espectador uma dica mais óbvia do que acontecia a seu redor. Talvez com receio de que seu filme fosse incompreendido pela maioria, Muylaert decidiu entregar mais ao público. Apesar de dar resultados óbvios amarrando o elo emocional dos personagens, é desnecessário vendo o tom adotado pela produção até então.

Desnecessário, mas divertido para os neófitos, é a seqüência em que os personagens se esquivam de sentarem no mesmo sofá. De aproveitamento narrativo questionável, mas divertido quanto à montagem e as marcações cênicas.


A fotografia funciona bem (Jacob Solitrenick) e é muito criativa ao usar as imagens das "câmeras de segurança" como elementos narrativos importantes. A trilha sonora de Marcio Nigro é inteligente ao usar o violão (objeto de adoração do casal) na construção de toda a paisagem sonora observada.

Proibido Fumar é um filme interessante mas que podia ser melhor, e que deve agradar principalmente aqueles que estão acostumados a vociferar que o cinema nacional é uma mistura de favela, sacanagem e violência.

Nós que sabemos que esse clichê não corresponde a verdade aproveitamos menos.


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