quarta-feira, 4 de agosto de 2010

L'Armée du Crime
(L'Armée du Crime, 2009)
Drama/Thriller - 139 min.

Direção: Robert Guédiguian
Roteiro: Serge Le Péron e Gilles Taurand

Com: Simon Abkarian, Robinson Stévenin, Grégoire Leprince-Ringuet

Filmes sobre a segunda guerra mundial brotam a cada ano em todos os lugares do planeta, envolveram direta ou indiretamente o conflito. São desde filmes sobre a guerra, passando por aqueles que estudam seus efeitos nas pessoas, cine biografias, aqueles que têm o background passado durante a guerra, histórias de amor impossíveis e até musicais.

Geralmente esse tipo de filme não consegue grande êxito comercial - pelo menos desde Soldado Ryan, que tinha "pedigree" - mas a crítica em geral aceita o valor de sempre discutirmos esse conflito. Se o foco for então no massacre dos judeus, seu roteirista e diretor podem aguardar algum prêmio americano qualquer.

L'Armée du Crime é francês e tenta ser um filme denúncia travestido de thriller de ação, com a idéia básica de que "todos" somos culpados pelo avanço da guerra e não existem mocinhos no povo passivo. Manter-se inerte as invasões ou abusos é tão ruim quanto fazê-los em si.


É uma posição interessante e com muitos méritos, porém é reducionista. Querer que toda uma população pegue em armas e "vença o invasor" é tão limitado e "facistóide" quanto qualquer ditadura. Muitos não pegam em armas porque não queriam ou porque - e não como tirar a razão disso - queriam cuidar "do seu". Manter-se neutro e cuidando da própria vida e se adaptando ao que acontecia ao seu redor.

Robert Guédiguian mostra a passividade do francês médio durante boa parte de seu filme, ao mesmo tempo em que entrelaça diversos personagens - com histórias de vida das mais diversas - que de uma forma ou de outro se envolvem no tal Exército do Crime, um grupo real que operou na clandestinidade durante a ocupação nazista e que era responsável por diversos ataques terroristas aos alemães.

A maioria deles era formada por judeus e imigrantes. Missak era um poeta armênio que de pacifista passa a líder da "revolução", Marcel Rayman é o bad boy que não respeita as ordens e que é levado pela emoção para cometer seus atos de violência, Thomas é o brilhante estudante que se torna revolucionário por ser judeu, Melinée é a mulher sempre presente de Missak entre muitos - mesmo - outros personagens que surgem na tela.


Essa é um dos principais problemas do filme. O desenvolvimento de cada núcleo é levado ao extremo, causando uma profusão de inserção sem foco. Ou seja, muita coisa acontece sem algum propósito e muitos personagens que deveriam ter sido limados na edição permanecem até o final. É um filme confuso no que se propõe e sem foco quanto ao que quer mostrar. Ora ele quer ser direto e dizer: "não, quero falar da montagem e dos atos desse grupo", outras ele prefere dizer "vamos mostrar como o povo francês como vendido". Se fosse bem feito seria genial, mas como nem Guédiguian nem Sergé Le Péron e Gilles Taurand (os roteiristas) o são, sua narrativa fica prejudicada.

Em compensação é interessante apresentar outra imagem de uma cidade dominada. Paris é mostrada como uma cidade comum, onde os eventos da invasão alemã foram absorvidos por seu povo. É nesse momento - talvez único - que a crítica ao francês feita pelo diretor funciona. São nesses planos e seqüência em que o soldado alemão confraterniza com o francês e a cidade é vista como uma bucólica cidade moderna que a crítica fica mais pertinente. Uma pena que esses momentos sejam recheados de diálogos tacanhos que tentam provar que o país não ligava para a guerra ou que os alemães eram muito legais com os habitantes - não judeus - do lugar.

Mesmo a questão judia no filme é tratada como questão secundária. Os nazistas que apregoavam a violência contra todos os judeus não foram - para o filme - os verdadeiros responsáveis pelo envio das pessoas para os campos de concentração. Segundo o filme, os franceses é que os denunciavam, a polícia prendia e só ai que os alemães entravam, indicando para onde eles deveriam ser mandados.


Em diversos momentos do filme, o filme parece simpatizar com alguns líderes nazistas, os expondo como homens preocupados com o "bem-estar" do país e cheios de elogios a polícia francesa e seus métodos.

O que existe de real aqui, honestamente, não faço a menor idéia. Mas real ou não, pareceu professoral e canhestro. Uma situação exageradamente forçada tentando criar um clima de denúncia e ajuste de contas com o passado que não funcionou.

A sucessão de clichês e de abusos continua em alguns exemplos narrativos que refletem escolhas técnicas infelizes. Primeira delas é a trilha sonora (do talentoso Alexandre Desplat). A trilha não é ruim, mas a forma como ela foi usada não foi a melhor, e mesmo os momentos em que ela foi inserida não ajudam. Um exemplo claro para mim é uma cena em que o personagem Mussak está fumando um cigarro na janela de seu apartamento e a trilha entra emulando os países árabes. Nada contra a música árabe, mas o personagem é armênio. Esse tipo de simplificação é o mesmo que faz muita gente achar ainda que a capital do Brasil é Buenos Aires, por exemplo. Custava ter inserido algo que lembrasse a Armênia, como o mesmo filme faz quando insere canções do país durante um encontro?


Outro problema é que em todo filme que envolva um grupo de pessoas que dão golpes, planejam ataques ou coisas do gênero sempre é mostrado uma seqüência em que quase tudo da errado, mas no final todos os envolvidos aparecem rindo da situação. No caso, L'Armée apresenta uma situação bizarra envolvendo uma granada e um bordel, que trás desdobramentos que ainda envolvem uma agulha de costura. Tudo isso - tentando - sendo engraçadinho, o que foge totalmente de tudo o que o filme mostrou até então.
Não que ele seja sisudo, mas é sério. E uma brincadeirinha "pra descontrair" não causa risos, mas incômodo em que assiste, pois mistura um humor fraco, uma situação inverossímil e interpretações ruins.

As interpretações no filme são medianas. Não existem destaques negativos - ninguém arruína o filme por isso - mas não existe ninguém que realmente mereça o crédito de grande performance. Talvez Simon Abkarian, que vive Mussak, tenha feito o trabalho mais interessante, já que seu personagem passa por mudanças radicais durante o filme, que o ator soube mostrar com inteligência.


A parte técnica é comum. A fotografia de Pierre Milon é a mesma que 95% dos filmes de guerra usam. Tom envelhecido - caindo pro mostarda - para demonstrar uma situação de desconforto e a idade dos eventos. Quando a fotografia de guerra não cai para essa visão, ela geralmente busca a crueza das imagens quase sem contraste, estilo documental, para dar "realismo" a quem assiste.

L'Armée du Crime não entrará para a lista dos bons filmes de guerra. É mais um filme "denúncia" que se perde entre ser acusatório e ser emocional. Não sabe se quer mostrar seu exército ou alertar o mundo sobre os perigos da inércia coletiva. Na ânsia de misturar tudo, fracassou.


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