segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Origem
(Inception, 2010)
Ficção Científica - 148 min.

Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan

Com: Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page, Tom Hardy, Ken Watanabe, Dileep Rao, Cillian Murphy, Tom Berenger, Marion Cotillard, Pete Postlethwaite, Michael Caine

Desde seus primeiros filmes, Christopher Nolan sempre se afeiçoou por tramas inteligentes, intrincadas , que possuíssem um alto tom de seriedade , e que, acima de tudo, desafiassem a mentalidade de quem as assiste. Depois de estreiar na direção com Following, Nolan fez um de seus melhores filmes, Memento, em 2000. Baseado em uma história contada por seu irmão, ele dirigiu o cult de forma interessantíssima, e deu um nó na cabeça de seus espectadores, com um roteiro tão bem amarrado e extremamente original (que acabou rendendo uma indicação ao Oscar). Nessa ocasião, Nolan fez um filme que dialogava sobre a mente humana, sobre amnésia , com uma trama de suspense que inquieta quem assiste. Em 2005, depois de fazer Insônia, Nolan finalmente conseguiu um trabalho que o colocasse em maior evidência : Batman Begins. Com seu bom desempenho, o cineasta não se limitou a dirigir a franquia, e apresentou em 2006 outro filme instigante mentalmente : O Grande Truque. Depois disso, ele foi arrebatado de vez pelo cinema comercial com o sucesso de The Dark Knight, que todo mundo conhece. Com a confiança dos estúdios hollywoodianos em qualquer projeto que quisesse desenvolver, Christopher Nolan pôs então em prática um projeto que desenvolvia há dez anos . Inception, outro projeto que falava sobre a mente, dessa vez a tratando como uma extensão física. Aproveitando o dinheiro que poderia desfrutar, ele não esqueceu seu passado, e fez um projeto digno do início de sua carreira.



E isso já era de se esperar, mesmo meses antes de assistir ao filme. Logo na primeira notícia que circulou dizendo sobre o projeto, a expectativa surgiu. As idéias geradas pelo cuidadoso diretor sempre são geniais, e uma que vem sendo gerada há dez anos não poderia ser ruim. Durante meses , tudo que rondava o nome Inception ficou em sigilo. A trama permanecia um mistério, e por muito tempo, tudo que sabíamos era que se tratava de “uma ficção científica ambientada na arquitetura da mente” , como foi divulgado durante muito tempo por vários sites de entretenimento. Aos poucos, o primeiro teaser foi lançado e após dois meses, o primeiro trailer . Descobrimos então que o filme falava sobre o mundo dos sonhos, sobre roubos dos mesmos. Entretanto, não se sabia ao certo qual trama o diretor e escritor teria desenvolvido . Com a apreensão e curiosidade dos fãs, a trama enfim foi liberada . O que se revelou foi uma história aparentemente arquetípica, digna de blockbusters. Ledo engano, entretanto. Após assistir a Inception, vemos que o que poderia parecer clichê, se desenvolve como drama original e bem fundamentado . O que soava como apenas um filme de roubo pela sinopse, é na verdade, um filme sobre os sonhos, que didatiza conceitos sobre esse mundo novo, e que utiliza o roubo como meio por onde chegar ao drama, meio por onde chegar as suas idéias e conceitos. O roubo é apenas um pano de fundo. Portanto, se a pergunta inicial é se Inception é tudo o que se esperava, a resposta é que sim. Aliás, mais do que se esperava.


A trama segue Dom Cobb (Leonardo DiCaprio), um extrator que invade a mente de determinadas pessoas em busca de informações sigilosas, que possam ser vendidas para concorrentes ou rivais. Basicamente, funciona como uma espionagem industrial, mas que acontece dentro da mente dessas pessoas enquanto elas sonham. Um dia , entretanto, Cobb é chamado para fazer um serviço diferente do normal. Saito (Ken Watanabe), um alvo seu, solicita que ele realize uma inserção. Ao invés de roubar uma idéia, Cobb precisará plantar uma . Em troca, ele terá sua vida antiga de volta, e poderá “voltar pra casa”. Para tanto, ele recruta uma jovem e promissora arquiteta para sonhos, Ariadne(Ellen Page). Ao seu lado, na equipe, ele também tem o homem-sombra Arhur (Joseph Gordon-Levitt) responsável por investigar a vida dos alvos, e o falsificador Eames (Tom Hardy) que assume a personalidade de outras pessoas durante os sonhos. Juntos, precisam inserir uma idéia na mente do alvo da vez (Cilian Murphy) .

Primeiramente, é precio ser dito que o roteiro de Inception é complexo, sim. Isso não é novidade nos filmes de Christopher Nolan, que leva para as telas histórias intrincadas desde sempre . Aqui, a complexidade não podia ficar de fora, afinal este é um tipo de filme que cria todo um mundo novo, e por vezes seu roteiro apresenta diferentes camadas, diferentes realidades e vários núcleos a serem apresentados. Entretanto, nada que não consiga ser assimilado pelo espectador. Pelo contrário, Christopher Nolan consegue ajudar quem assiste, e a tarefa de compreender o que ele quer passar fica muito mais fácil . O que Nolan não faz – e ainda bem que não- é mastigar informações para o espectador. Como é falado sempre, é ótimo ver quando o realizador trata seu público com inteligência, e este cineasta é experiente nesse assunto. A primeira coisa que nos enche os olhos em Inception são seus conceitos. Apesar de já ter sido explorado anteriormente nas mãos de outros cineastas, o mundo dos sonhos de Chris Nolan é original, e tem o estilo e a marca registrada do cineasta . Aliás, todo o modo como os sonhos são explorados aqui é original. Vendo o filme, nos deparamos com situações inovadoras e que geram interesse imediato para os apreciadores de boa ficção científica. Totens, sonhos que se desfazem, e sonhos dentro de sonhos são alguns exemplos de conceitos recorrentes no filme. São conceitos intelectuais primorosos que acarretam admiração infindável quando compreendidos por completo.


Outro ponto sensacional deste roteiro tão bem escrito são as inversões de gênero propostas. Geralmente, filmes blockbusters apresentam um objetivo , um MacGuffin, que vale tudo para o personagem, e nada para nós. Inicialmente, ao sermos apresentados ao filme, pensamos que o MacGuffin seria a família de Cobb, e que ela seria a “desculpa” para a ação. Entretanto, da forma como o filme anda, nos damos conta que o ornamento dramático é maior do que a “aventura” em si, e logo percebemos que o MacGuffin é a ação, é a inserção, e o que realmente importa para nós é o drama - bem fundamentado e desenvolvido, por sinal – de Cobb e sua família. E se , no fim das contas, o drama é o cerne do filme, qualquer afirmação de que Inception é um puro e simples filme de assalto cai por terra. Além disso, Inception consegue aumentar de ritmo com o tempo. Como uma boa ficção científica, no início, somos apresentados às regras do jogo. Geralmente, em filmes de sugestão de mundo novo (como Distrito 9, por exemplo), a película começa a mil por hora, nos encantando com todas as suas regras e detalhes inventivos, e , quando precisa desenvolver sua história de fato, perde ritmo e também alguns pontos valiosos. Em Inception, é tudo ao contrário. O filme, quando sugere seu mundo, segue em velocidade calma, até parecendo estar arrastado. Entretanto, quando vai contar sua história, todos os conceitos adquiridos na sua primeira parte são executados e elevados ao mais alto dos expoentes, criando um deslumbramento sem igual. E caso o espectador não entenda o desde já famoso final do filme, não estranhe. Aquele frame final não faz parte de nenhum enigma, nenhuma charada. É apenas uma graça de Christopher Nolan com seu público, como em O Grande Truque. Só que desta vez, o final é dúbio, e é de maneira proposital .Logo, a resposta só será respondida pela cabeça de quem assiste.


Nolan ainda aproveita para , na segunda metade do filme, criar um clímax gigante, que apresenta núcleos paralelos entre si. Deste modo, o diretor pode variar entre os vários núcleos e fazer cortes que vão desde a ação de um personagem, até a conversa de outro, sendo que todos os caminhos convergem para um só destino. Foi exatamente isso que ele fez em The Dark Knight, e deu muito certo. Aqui, o resultado também ficou muito interessante. Mas claro, tudo isso não funcionaria se os seus personagens não fossem bem criados. A construção de personagens de Inception também é impecável, como o filme. Cobb, o protagonista, tem em sua base o que todo o personagem de Nolan tem : É humano, errante, mas que assume a responsabilidade quando precisa. Foge do lugar comum do herói pelo drama que sofre com a sua família. Não é nada apelativo, e extremamente coerente. Outra relação que nos deixa congelados na poltrona, é a de Cobb com sua mulher, Mal (Marion Cotillard). Nessas partes do filme, vemos a instabilidade em que Cobb vive. A originalidade brota nas seqüências em que os dois estão juntos, e o roteiro ganha muitos pontos com isso.


Na direção , Christopher Nolan prefere não abusar . Aqui , ele dirige se assemelhando muito com o que fez em The Dark Knight . Um modo de filmar estiloso, que enquadra decentemente todos os atores em cena , e que não soa repetitivo no emprego de seus closes nas cenas de diálogo. De fato, Nolan prefere utilizar seus takes mais difereciados em cenas-chave, como a da escada Penrose, - que já nos deixava com vertigens nos trailers – e nas cenas de ação. O modo como o cineasta consegue dirigir sequências de ação é espantoso. Nas seqüências da neve, Nolan mostra que consegue acompanhar tiroteios e explosões como muita gente não sabe fazer, e não nos deixa perdidos no meio do caminho. E talvez a parte mais interessante (visualmente) do filme seja a luta com gravidade zero nos corredores. Mesmo que os cenários girem, a câmera segue o sentido da gravidade, o que acaba gerando belas imagens vertiginosas.

Na parte técnica, o filme apresenta um apuro genial. A trilha de Hans Zimmer não para de tocar o filme todo ,e apresenta o mesmo ritmo dos dois filmes do Batman, só que desta vez com um peso maior nos acordes , que faz estremecer a sala do cinema. A fotografia de Wally Pfister, colaborador mais que freqüente de Christopher Nolan , é a segunda melhor da parceria até aqui, perdendo só para a de The Dark Knight. Passa uma elegância que, aliada aos belos cenários e figurinos, gera imagens esteticamente perfeitas. Já os efeitos, mesmo não tendo sido feitos por nenhuma das grandes do mercado , possui qualidade avançadíssima. Todos eles tem praticidade no filme, e não estão ali para ostentar. Todas as seqüências que precisam de efeitos os exploram muito bem, e eles estão de fato em sintonia com a mensagem do filme.


E outro ponto que precisa ser destacado em Inception é o seu casting. Há anos não se via um elenco tão estelar e eficiente ao mesmo tempo. Leonardo DiCaprio, que é um dos grandes de Hollywood mas dificilmente consegue passar uma tridimensionalidade aos seus personagens , tem pontos no filme que surpreendem. Ele tem seus momentos, mas quando enfrenta um Michael Caine em cena, é facilmente engolido pela naturalidade do ator inglês. O filme também reserva a boa atuação de Joseph Gordon-Levitt, que vem ganhado espaço desempenhando papéis diversos, e aqui só mostra sua competência habitual. Mas, sem dúvidas, a atuação do filme é de Tom Hardy, que faz o falsificador. Tendo um papel engraçado mas ao mesmo tempo de homem sacana, Hardy convence , e passa uma verdade sem parecer que está atuando. Um bom marco para um ator em ascensão .

Num apanhado geral , Inception impressiona por ter um roteiro tão inteligente e desafiador combinado com conceitos de mundo tão intrigantes. É uma mistura de idéias cult com recursos de blockbuster. O resultado não podia ser melhor. Nolan consegue nos trazer um filme inteligente, do tipo que faltava no mercado há tempos. O espectador que estiver com a cabeça preparada para pensar vai conseguir compreender todo o filme, e se sentirá louvado pelo modo inteligente como é tratado. Avaliando os anos que se passaram , é fato que a última grande ficção científica original e inventiva foi Matrix, lançado em 1999. E se já estamos em 2010, e nada de tão grandioso chegou até o dado momento, uma verdade precisa ser constatada : Inception é a melhor ficção científica de nossa década, e só tende a ser mais admirada ao longo dos anos.


 
 
 
 
 
 
 
Depois de Following, em 1998, Christopher Nolan começou a entrar no mundo do cinema com mais visão, com o genial Memento. Depois de se tornar famoso por Batman Begins e atingindo o ápice de sua carreira em Batman O Cavaleiro das Trevas (o melhor filme de 2008), Nolan resolve voltar a sua maneira de descansar entre os filmes do Batman. Se em 2006 tínhamos o competente e instigante O Grande Truque, agora temos Inception. Provavelmente, a história intrincada do mundo dos sonhos não atrairia tanta atenção assim na divulgação. Seria algo como aconteceu com Matrix, uma divulgação ok com um boca a boca excelente que ajudou a renovar a bilheteria do filme a cada semana. Mas como o filme é do agora superstar Nolan, a Warner resolveu bancar sua ideia e, além de um gordo orçamento de 200 Milhões, deu cerca de 100 Milhões pra marketing. Logo, o filme está a 3 semanas no Top 10 de bilheterias americanas, atraindo um público em massa, digno de blockbuster arrasa-quarteirão, um reflexo da popularidade que Nolan conseguiu até mesmo com o público médio de cinema.



Porém, a expectativa virava mistério pra quem acompanhar de perto os detalhes do filme anteriormente divulgados. Um teaser intrigante, uma ideia fabulosa e poucas informações da trama. Até que quando a trama foi divulgada, 40 dias antes do lançamento do filme, a expectativa baixou um pouco, afinal a trama parecia arquetípica, mas com os sonhos envolvidos, poderia ficar intrincada ao extremo e, apesar de ser uma história de roubo, envolvia crimes em um território desconhecido, o que é sempre complexo de se lidar. E agora Inception estreia nos cinemas brasileiros. E devo dizer: Christopher Nolan criou um produto a altura da expectativa, em qualidade e em complexidade. O roteiro é absurdamente genial, com a história do roubo servindo de pano de fundo pro verdadeiro propósito do filme: O mundo dos sonhos. Aqui, o sonho é tido como uma coisa colonizada, algo acessável e com um arquitetura fabulosa. E, se há momentos em que as leis da física são testadas no filme, todas fazem sentido. É um roteiro que inova em suas situações e inova em seus conceitos, afinal o sonho já foi trabalhado outras vezes mas nunca com um roteiro redondo e amarrado como o de Nolan. E sobre a complexidade, bom, o filme é complexo sim, mas não é difícil de entender e nem forçado afinal Nolan cria tudo aquilo pra nos ambientar em seu mais novo mundo.


A trama segue Dom Cobb (Leonardo DiCaprio), é um ladrão especializado em extração, o roubo de segredos valiosos das profundezas do inconsciente durante o sono com sonhos, quando a mente está mais vulnerável. Na sua equipe, temos o falsificador Eames (Tom Hardy), o arquiteto Nash (Lukas Haas) e o homem-sombra Arthur (Joseph Gordon-Levitt), um homem responsável por procurar os alvos da equipe. A habilidade de Cobb e sua equipe o tornou peça fundamental no mundo da espionagem industrial e quando um trabalho dá errado, ele vira um fugitivo internacional. Cobb tem sua chance de redenção, porém, quando um alvo seu, Saito (Ken Watanabe), o oferece um trabalho que pode dar-lhe sua vida de volta, se ele conseguir o impossível: inserção. Ao invés do roubo perfeito, a tarefa de Cobb e sua equipe não é roubar uma ideia, mas plantar uma no subconsciente da pessoa. Pra essa nova tarefa, Cobb chama uma nova arquiteta, a criativa Ariadne (Ellen Page), para planejar os sonhos do alvo da inserção (Cilian Murphy).

Como percebe-se pela trama, o roteiro é complexo, apesar de ser um filme de roubo com algumas situações anteriormente testadas. E essas situações são totalmente modificadas desde o ponto que o mundo dos sonhos está ali. Ao contrário do que ocorre na maioria dos filmes de ficção, Nolan coloca o pano de fundo como o fato que realmente importa no filme, criando um produto único. E se há algum motivo pra questionar o filme por seguir uma trama trivial de roubo, é infundado pelas decisões que o filme tomam. Por exemplo, a cena final, que deixa bem claro que aquilo dali é importante pelos sonhos e não pelo roubo em si. Porque Inception existiria muito bem sem o roubo, mas não existiria sem os sonhos. Além disso, Nolan gasta a primeira hora do filme apenas pra ambientar o espectador no mundo, o que pode decepcionar um pouco quem esperava ação logo de cara. Mas como bom criador de mundos, Nolan apenas gasta o tempo necessário pra ambientar a todos no seu mundo, já dando pistas do que ocorrerá pela frente.


Outro trunfo de Nolan é a criação de personagens. Cobb pode até ser um herói com motivos previsíveis (ele quer voltar pra sua família), mas quando se olha mais de perto, dá pra ver que algo o atormenta. Assim como Cobb, temos Arthur. Um coadjuvante excelente que serve tanto pra espalhar as informações para os leigos no assunto quanto ajudar grandiosamente nos sonhos, potencializando isso na sequência final. Eames é o falsificador e seu jeito meio blasé e sua habilidade interessantíssima o fazem de um personagem que é o mais cool do filme, sem descambar pro engraçadinho. Porém, se todos esses personagens servem pra delimitar o mundos dos sonhos, pela seriedade que cada um tem sobre seu trabalho, um novo personagem chega pra bagunçar um pouco isso: Ariadne. Ela é a visão leiga do mundo, uma arquiteta que vê nos sonhos uma possibilidade infinita de criação e se encanta com isso. Nolan não só cria situações excelentes como dá ambições críveis pra seus personagens. Mas o destaque dramático do filme é a personagem Mal, de Marion Cotillard. No filme, ela não é só a esposa de Cobb mas algo muito maior e excelente. Uma grande sacada do diretor.

Se o roteiro é impecável em todos os aspectos, inclusive dramaticamente (criamos laços com os personagens e o roteiro ainda emprega tensão), o filme é brilhante também tecnicamente. Nolan pode até não ser conhecido por sua direção, mas ela é brilhante. Se nos takes mais parados ele emprega uma direção diferente da de Cavaleiro das Trevas, na ação é que ele se diferencia mais ainda do filme anterior. Vertiginosa, a direção é fantástica, com destaque pra cena da escada de Penrose e as sequências de efeitos especiais, assim como a câmera na mão empregada nas ruas de Paris. Auxiliando a direção, temos a ótima edição de Lee Smith, que tem a fluidez necessária pras cenas de ação. Porém, dois fatores se destacam com a direção de Nolan: Trilha Sonora e Fotografia. Hans Zimmer cria uma trilha completa, com todos os fatores que se esperam dela. Músicas icônicas, que ajudam o clima tenso que permeia o filme. Já a fotografia de Wally Pfister é mais impressionante ainda, com tons escuros, lembrando quase um noir de ficção-científica. Balanceada na medida certa, a fotografia merecia ganhar o Oscar até agora.


Embasbacante também, ao menos pra quem gosta de arquitetura e cenários pesados e fortes, temos a direção de arte. Os prédios, na maioria gélidos, tem tons variados de azul e cores escuros, mas variando também para o azul claro como na primeira sequência da escada de Penrose. Excelente. E tudo isso é potencializado pelos efeitos especiais contundentes do filme, que servem pra deslumbramento visual e impacto como também servem pra cada detalhe da trama, tendo uma importância inestimável. Porém, não é como Avatar, que os efeitos servem para deslumbrar, criar o mundo que serve de pano de fundo pra trama. Aqui o negócio é mais sério, pesado, frio, com o pano de fundo sendo a trama e os efeitos tendo participação em cada detalhe. E não estou dizendo apenas dos magníficos efeitos da criação dos sonhos, mas dos efeitos práticos, como o truque de câmera da escada ou as câmeras super lentas pra diminuir o ritmo do sonho. E ainda tem a excelente mixagem de som, barulhento e fortíssima candidata ao Oscar, com tiros se espalhando pelos subwoofer do cinema. De encher os olhos.

Atuações também são o forte de Inception. Nolan chamou um time de primeira pros personagens. Leonardo diCaprio, um ator que eu gosto muito, mas que não acho que convença tanto assim, tem uma atuação excelente aqui, mesmo sendo a pior do filme. Com uma densidade dramática inesperadamente grande, o ator faz um trabalho impecável. Ellen Page também está excelente, não apenas sendo uma sidekick do mocinho, como o trailer aparenta. Marion Cotillard tem uma atuação divina, sendo melhor aproveitada aqui do que em Inimigos Públicos. Fora a importância que o personagem já tem, que Marion só aumenta com dramaticidade. Joseph Gordon-Levitt aqui se consolida como um grande ator novamente e demonstra que não só tem carga pra segurar um grande vilão em Batman 3 como também é um ótimo herói de ação. Seu jeito mais franzino dá imprevisibilidade, que na cena do hotel se demonstra. Porém, a melhor atuação é de Tom Hardy, o astro de Bronson, em ascenção. Sem cair no lugar comum do alívio cômico, o personagem poderia soar Kitch, mas é altamente estiloso, com o carisma na medida.


No final das contas, Inception é um filme que deve ser visto e revisto. Não só pra absorver todos os conhecimentos do filme (o que dá pra fazer tranquilamente em uma primeira visita), mas pra aproveitar novamente essa verdadeira viagem imersiva que Christopher Nolan proporcionou. Amnésia, filme que trabalhava com a montagem ao contrário e a estrutura de quebra-cabeça, é quase um aquecimento pra essa ideia madura intelectualmente, com o criador tendo pleno controle de toda sua obra. Divertido e emocionante, Inception agrada demais. Pra entender o filme, nada de impressionante, basta querer pensar. E, se quiser, o espectador terá uma experiência sem igual.


Um grande parabéns a Christopher Nolan, que junto com Darren Aronofsky e Tarantino, é o cineasta com mais talento atualmente. Um parabéns por ter criado um filme tão icônico, melhor até mesmo que as obras-primas que são O Grande Truque e Amnésia. E, pensando que esse é apenas um filme que o cineasta fez pra descansar do Batman, fico pensando o que vem a seguir. Depois de Grande Truque, veio Cavaleiro das Trevas. Tenho até medo de pensar no que pode vir depois dessa maravilha de filme. Chega logo 2012.

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