sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Valhalla Rising
(Valhalla Rising, 2009)
Drama - 93 min.

Direção: Nicolas Winding Refn
Roteiro: Roy Jacobsen e Nicolas Winding Refn

Com: Mads Mikkelsen

Nicolas Refn é um homem para prestarmos atenção, já que ele pretende mais do que contar uma história. Fez isso em Bronson, quando no meio da pancadaria e da violência estilizada Refn perguntava ao espectador "Vale tudo pela fama?". Em Valhalla Rising ele não faz perguntas, nem questionamentos, mas mostra de forma visceral o homem perdido em meio às névoas da loucura, da incerteza e do medo.

Por cerca de noventa minutos acompanhamos a história de One Eye (Mads Mikkelsen) um guerreiro aparentemente escravizado e mudo que guia o espectador por entre as trevas que são: sua mente e seu ambiente. Sua mente é caótica, porém serena, por mais dicotômico que pareça, pois diante do caos, ele conhece a si mesmo e sabe como prosseguir diante do ambiente inóspito e perigoso.

One Eye é o guia, mas não é meio. O meio é The Boy - o Garoto - que interpreta (por algum motivo espiritual, metafísico ou afim) cada palavra que o homem mudo quer dizer. E são poucas, num filme com menos palavras ainda. Menos de trinta linhas de diálogo são proferidas, o que faz o diretor Refn e o espectador terem suas atenções totalmente voltadas para a magia da tela grande e suas luzes e cores.


Refn é magistral. Cada plano, cada seqüência e cada corte são um trabalho de gênio, sem nenhum exagero. Refn é ousado e divide seu filme em partes, a lá Tarantino, porém cada capítulo de seu livro tem função mais estética do que narrativa, como se marcasse a mudança ou acréscimo de um elemento visual novo.

Notem - quando assistirem - que do capítulo Um: Raiva ao capítulo 6 (que não vou contar pois entrega uma parte da narrativa), a paleta de cores se expande - por razões óbvias de cenário - e por escolha do diretor. O filme começa gélido, idílico e com a violência "estúpida" na sua cara todo tempo. Mikkelsen, que atua apenas com a linguagem corporal, estrela algumas das seqüências de luta mais cruas da história do cinema recente. Tudo é lama, sujeira e frio.

Na metade do filme o "Guerreiro sem Voz" - que como Odin também não tem um dos olhos - passa a ser ilustrado num ambiente úmido, estranho, enevoado. Refn diz no filme inteiro que cinema é imagem em movimento e que é possível contar uma boa história por meio de grandes imagens, apesar de grande parte delas não passarem de grandes "pinturas", onde o movimento fica em segundo plano. Lembra a forma que Kubrick usou para montar 2001.


O diretor e seu fotógrafo (Morten Soborg) compõem obras de arte a cada nova imagem. Não existe plano errado, e cada idéia visualmente é explorada ao máximo. Mesmo quando o filme deixa suas imagens assimétricas - com um personagem num canto de tela, enquanto o resto da imagem é preenchido pelo ambiente a sua volta - o filme é muito bem resolvido. Notem as perturbadoras seqüências de sonho/delírio de One Eye e notem como o uso do vermelho transforma uma imagem simples num pesadelo surrealista. Uma idéia simples mais que foi usada com extrema competência durante todo o filme, sem soar exagerado ou pedante.

Outro acerto é o uso dos efeitos sonoros e da trilha sonora de forma muito inteligente, causando ao espectador o mesmo desconforto que os personagens naquele momento deveriam estar sentindo. Um exemplo óbvio de uso narrativo de um elemento externo a história para causar - sem apelar - respostas emocionais em que é atingido pelos zumbidos que o filme explora.


E sobre o que versa Valhalla Rising? Esse talvez seja o principal "problema" que o filme de Refn tem. E o responsável direto para que tenha entrado na categoria dos filmes "ame ou deixe-o", já que ele fala sobre muitas coisas de forma superficial sem querer se aprofundar em nada. Vejamos: temos jornada do herói, período de descobertas, homem contra natureza, expansão do cristianismo, discussões sobre mortalidade, sobre o medo do desconhecido entre outras análises que o espectador pode tirar do filme.

Outros podem simplesmente concluir que o filme não tem história alguma, e que usa belíssimas imagens para dizer nada.

Discordo dessa análise simplista, já que o filme é suficientemente inteligente para deixar a seu público - que espera ser adulto e maduro - a tarefa de juntar as peças e formar o mosaico de influências e histórias que o filme conta. Uma boa história diga-se de passagem. Uma bela idéia amarrada por imagens deslumbrantes.


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