sábado, 28 de agosto de 2010

Splice
(Splice, 2009)
Sci Fi - 104 min.

Direção: Vincenzo Natali
Roteiro: Vincenzo Natali, Antoinette Terry Bryant e Doug Taylor

Com: Adrien Brody, Sarah Polley e Delphine Chanéac

Às vezes quando uma pessoa - ou no caso um filme - tenta dizer muitas coisas, levantar muitas bandeiras e defender teses ou mesmo contar uma simples história, acaba se atrapalhando, sendo rasa ou não conseguindo despertar nenhum interesse no interlocutor.



Esse é o caso de Vincenzo Natali (o mesmo diretor do ótimo Cubo) e seu Splice. Não que o filme seja uma bomba atômica e que mereça o ostracismo, mas ele tenta dialogar com diversas idéias e conceitos e não acaba chegando a nenhuma conclusão, e confunde o que parecia ser uma versão mais cerebral do "Trash" A Experiência.

Splice lembra o referido filme pois ambos tratam de seres estranhos vivendo no planeta, tentando se adaptar a cultura e os costumes de um povo. Diferente da bobagem alienígena , Splice apela para um conceito mais realista e crível: engenharia genética. O filme gira em torno do casal de geneticistas vivido por Adrien Brody (Clive) e Sarah Polley (Elsa) que criam um ser à base de genes de diversos animais, com intuito de ajudar a eliminar pragas no gado. Obviamente o experimento é só um primeiro estágio para o objetivo final do casal: criar uma forma de vida que possa ajudar o ser humano a curar suas doenças crônicas, como formas de câncer e Alzheimer.


O filme então acompanha essa experiência posterior, quando o casal decide ir além e contra os interesses do grupo que financia os cientistas, produz um embrião contendo, entre seus componentes, o gene humano.

O mais interessante no filme é sem dúvida nenhuma a criatura produzida. Longe de parecer com outra criatura vista antes do cinema (pelo menos que eu me recordo em ter visto), a criatura - nominada Dren pelo casal - mistura de forma desconfortável a quem vê traços verdadeiramente humanos com detalhes que a transformam em algo além do humano. Um trabalho de maquiagem e efeitos visuais magnífico. Outro destaque foi à escolha da atriz Delphine Chanéac que tem uma beleza bastante exótica o que ajudou a equipe a transformar a garota em uma criatura quase humana.

Porém o filme tenta fugir do discurso óbvio do "homem brincando de Deus" e resvala de forma superficial em outras questões como insanidade, medo da perda e o simples e puro bizarro.


Essa quantidade de camadas, que geralmente são sinal de profundidade, aqui aparecem de forma "jogada" sem muito a dizer além de querer agregar informações para pouco depois jogá-las fora, em especial quando o filme alcança seu clímax, que é exagerado, de certa forma risível, bastante previsível (assim como uma revelação importante a respeito da origem da criatura) e insatisfatório.

Talvez se Natali tivesse mantido seu foco em apenas apresentar a história e explorar o que nela existe de mais óbvio - e interessante - ou aprofundar-se mais nos conflitos de seus chatíssimos personagens (talvez os deixando menos chatos) o filme poderia sair do lugar comum.

Perde-se tempo (e perde-se mesmo) numa tentativa de criar motivação para as ações da personagem de Sarah Polley, o que resulta em uma explicação forçada, que parece ter sido pensada apenas para tentar dar profundidade. Como se não bastasse a justificativa óbvia de "criar vida", "ser pioneiro" que o próprio filme conta, ainda se insere mais uma questão emocional (que nunca chega a ser explorada de verdade) apenas para "temperar" mais ainda o filme.


Mais o pior e que derruba de verdade o filme é sua conclusão boboca. Além de ser similar a milhões de outras histórias, tem - na falta de um - dois plot twists nos últimos dez minutos, o que é uma solução incompatível com: o ritmo do filme até então, que vinha sendo cadenciado, e uma solução preguiçosa ao amarrar as "pontas" que na verdade são tão óbvias que nem causam apreensão ao espectador que facilmente telegrafa os eventos.

Os atores se esforçam para apresentar alguma coisa, especialmente Adrien Brody, mas não conseguem ir além do que o texto medíocre de Natali, Antoinette Terry Bryant e Doug Taylor conta. O ator ainda protagoniza uma das cenas candidatas a mais provocadora do ano (e que o leitor talvez possa imaginar). Já Sarah Polley apesar de segura, também não é feliz na composição das tais camadas de profundidade de seu personagem. Parecendo perdida sem conseguir demonstrar nada além de antipatia, faz de seu personagem um estorvo. E o que dizer da atriz responsável por dar vida a criatura Dren? Que ela tenta compor o personagem como um animal atordoado e perdido, que aos poucos toma ciência de sua condição. Em alguns momentos ela consegue apresentar um trabalho bastante satisfatório (em especial na seqüência que envolve uma espécie de tortura) mas na maioria das vezes também é vitima do roteiro fraco.


Tecnicamente o filme não tenta inventar e talvez seja por isso que ele não se torne tão desagradável. A criação e evolução da criatura são mostradas com grande felicidade e , nas seqüências em que Dren é mostrada mais nova, Ridley Scott, James Cameron, David Fincher e Jean-Pierre Jeunet são "homenageados" já que o filme emula a quadrilogia Alien na tentativa de criar tensão na fotografia de Tetsuo Nagata.

Splice foi uma tentativa (infelizmente) frustrada de fugir do lugar comum num filme de monstro. Uma pena que Natali não soube manter seu filme suficientemente interessante para o público e nem profundo o bastante para que a crítica notasse algo de novo. No fim Splice é só mais um filme. E isso para um diretor que tinha como cartão de vista o visionário Cubo é muito pouco.


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