terça-feira, 10 de agosto de 2010

Fúria Pela Honra
(Dark Matter, 2007)
Drama - 88 min.


Direção: Shi-Zheng Chen
Roteiro: Billy Shebar e Shi-Zheng Chen


Com: Meryl Streep, Ye Liu e Aidan Quinn


Alguns filmes estrangeiros conseguem ser destaques nos Estados Unidos. Geralmente, isso ocorre com 1 ou 2 filmes de países exóticos a cada 5 anos. A Coréia do Sul faz sucesso, trazendo filmes como Mother, O Hospedeiro e Oldboy para a América e ter dado visão a seus icônicos criadores, Bong Joon-Ho e Park Chan-Wook. O Brasil já teve um momento assim, com Cidade de Deus e a merecida indicação de Fernando Meirelles ao Oscar e agora é a vez de um filme chinês ganhar um pouco de repercussão. Fúria pela Honra, péssimo título para Dark Matter (a matéria negra do espaço, tema recorrente do filme), é um pequeno drama feel good que conseguiu um prêmio em Sundance e passou pelo resto dos EUA. Ainda mais, o filme tem Meryl Streep, conhecida por selecionar a dedo seus roteiros, o que faz a expectativa pro filme só aumentar. Tudo bem ensaiado para um excelente drama indie, certo? Pois é, certas coisas são relativas.

A trama, que vai da comédia a tragédia, segue um brilhante estudante chinês, Liu Xing (Liu Ye), que vai para os Estados Unidos para estudar na Universidade de Iowa. Como seu professor, ele terá Jacob Reiser (Aidan Quinn), um homem que Liu admira muito por ter desenvolvido uma Teoria das Cordas, que influenciou diretamente a sua teoria sobre a Matéria Negra do espaço. Junto com seus 3 amigos, ele vai tendo suas aventuras pela América, enquanto conhece uma garota que ele se apaixona e uma mulher chamada Joanna Silver (Streep), que adora a Cultura Chinesa e se afeiçoa ao estudante. Porém, quando Liu desenvolve sua teoria, desperta a inveja dos acadêmicos e isso resulta numa série de eventos imprevisíveis.


Olhando a história, ela resultaria facilmente num clichê ambulante, uma típica história de jornada que até gera carisma e conquista o público pela emoção, mas irrita os críticos por ser tão arquetípica. Infelizmente, Fúria pela Honra trabalha muito com isso, afinal, as partes que Liu está com seus amigos são previsíveis e testadas anteriormente em qualquer filme de jornada ao país estrangeiro. Se há alguma coisa em que o filme se sobressai são nas partes emocionais, em que Liu Ye atua com uma entrega tocante, fazendo bem o papel do estudante nos dias mais difíceis de sua vida.

Porém, se as partes emocionais até tocam, não se pode dizer o mesmo da estrtura do roteiro. Pífio, o roteiro constrói personagens com desleixo e vemos até uma Meryl Streep apagada num papel sem razão de existir. Joanna Silver não serve pra nada no filme e é estranho ver uma profissional do calibre de Streep se sujeitar a atuar num desastre de personagem desses. Aliado a isso, temos uma indecisão constante na constatação de gênero do filme. Digo, ele começa como uma comédia feel good, passa pro drama leve, vai pro drama forçado e termina como um bizarro e risível filme de psicopata. As viradas no comportamento do protagonista são tão convincentes quanto a originalidade do roteiro de Avatar. O pacato estudante, que se preocupa tanto com a família a ponto de negar sua fase difícil pra ela (mentindo nas cartas), vira um cara perturbado. E o pior: sem um motivo realmente plausível. Fora os clichês absurdos, tipo ele citar que quer o Nobel e casar com uma americana loira, pra depois cortar pra ele conhecendo uma americana... Loira! Mal planejado desse jeito, o roteiro deveria ter sido no mínimo polido pra haver uma estrutura decente. Estranho ver como um filme tão esquisito pode ter sido apreciado pelos festivais na América. Vai ver é o final, vingativamente americano.


Pra não dizer que o filme é fraquíssimo, a estética é bem apurada. A direção do diretor de óperas Chen Shi-zheng é boa e bem contemplativa. Com takes bonitos e dando uma boa valorizada a algumas imagens, a direção faz um papel importante, segurando o filme como pode. Aliado a isso, a fotografia (Oliver Bokelberg) também é maravilhosa e tem tons cinzentos que combinam bem com o filme. Parece que está sempre algo nublado, o que na tela fica bonito. Mesmo com a direção de arte (Christopher DeMuri) fazendo o filme parecer feito pra tevê em alguns momentos, a fotografia compensa. O mesmo, porém, não se pode dizer da trilha sonora de Van Dyke Parks. Assim como o próprio filme, ela tem seus momentos bons (sinfonias bonitas e tocantes, em takes abertos de natureza), mas tem momentos muito vergonhosos, quando tenta forçadamente extrair alguma emoção da situação, mesmo ela sendo pouco profunda. Nas cenas felizes, a trilha também é forçada e risível em certos pontos.

Nas atuações, Liu Ye que rouba a cena. Seu jeito meio desengonçado, o inglês burocrático e um olhar meio empolgado meio perdido fazem uma atuação que não consegue sustentar o filme, mas pelo menos faz muito bem sua parte. Aidan Quinn, por outro lado, faz um sujeito caricatual, que começa muito legal e faz a linha do sábio cool, mas termina como um invejoso arrogante e pouco inteligente (mais uma virada de personagem sem sentido). Seguindo Quinn, temos uma perdida e irreconhecível Streep, no pior papel de sua carreira. Streep até tenta ir bem, mas acho que o próprio roteiro fez ela, visivelmente, falar suas falas sem ter crença nelas. Daria até pra falar que essa foi uma atuação pra pegar o cheque rápido, se não fosse o valor baratíssimo do filme.


No geral, Fúria pela Honra poderia até ser um descontraído filme de jornada ou um pesado filme sobre a queda do protagonista. Como escolhe ficar no meio termo e exagera coisas desnecessárias (aquele final é intragável), o filme é um esquecível e hypado estrangeiro fraco. Com uma trama como essas, não dava pra fazer muito. Mas daí cobri-la com situações fracas e viradas de personagem toscas? Aí é algo até amador.


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