terça-feira, 3 de agosto de 2010

A grande diferença entre um grande clássico e um filme cult é simples: Cult é aquele filme que você gosta e não necessariamente é tão bom assim (alguns até são), mas que por algum motivo você adora, se diverte e indica aos amigos. O caso é que na ânsia de encaixar esses filmes em alguma sessão, o Fotograma resolveu criar essa nova sessão, onde aqueles filmes amados e cultuados serão aqui comentados. Sempre de maneira leve e divertida, como pede um filme cult.

Hard Boiled
(Lat sau san taam, 1992)

Ninguém filma uma cena de tiroteito como John Woo

Como não gostar de um filme em que o principal personagem se chama Tequila, que tem um tiroteio numa maternidade (onde o personagem principal - o Tequila - atira em meio mundo com um bebê nos braços), trilha sonora jazzistica, centenas de "escorregões" com duas armas na mão por quase todas as superfícies concebíveis, bom humor e aquela liberdade para não levar a sério o próprio trabalho que sempre ajuda quando um filme é passado nesse "mundo real", onde é possível levar um tiro a queima roupa, cair de uma ponte e sobreviver porque um isqueiro o salvou.

John Woo fez uma série de filmes policiais antes de ir aos Estados Unidos e perder muito de sua força. Lá - a excessão de O Alvo e Outra Face - perdeu muito de suas características mais interessantes para mim. Woo nos Estados Unidos é um pastiche. Uma coleção dos seus melhores momentos em Hong Kong, sem o que o diferenciava dos demais diretores americanos: seu humor quase resvalando no non-sense e a sensação de "feel good" que seus filmes sempre passavam. Era uma mistura bem feita de ação bem construída com todas as trucagens e invencionices que Woo sempre foi mestre - dai o sub-titulo do texto - com situações quase impossíveis que faziam o espectador rir mesmo nos momentos mais violentos.

Hard Boiled tem uma contagem de corpos absurda, pau a pau com Vingador do Futuro, Exterminador do Futuro e a série Rambo, só pra ficar nos mais famosos, e mesmo assim você se diverte como se estivesse vendo a uma comédia dos irmãos Farrelli ou de Steve Martin, John Candy, John Hughes entre outros. Coisa de gênio.

Isso sem falar da sequencia final dentro do citado hospital. Vinte minutos de ação sem parada, que começa com a tentativa - espetacular - de abrir uma porta de aço a bala, passando por tiroteios em todas as áreas de um hospital e culminando nas cenas da retirada dos bebês e Chow Youn-Fat (Tequila) atirando em muita gente com um bebê no colo. O cara tem o cuidado de colocar algodão no ouvido do moleque e pedir desculpa quando espirra sangue no garotinho. Hilário.

Hard Boiled (ou Fervura Máxima) ainda tem um jovem Yony Leung num papel muito interessante e o próprio John Woo fazendo ponta como uma espécie de bar-man de um jazz bar. Mas não teria um décimo do carisma se não tivesse em suas fileiras Chow Yun-Fat que antes de alguns pastiches em inglês (como Dragon Ball) era uma espécie de Steve McQueen/Charles Bronson de Hong Kong. Estava em quase todas as produções de ação legais e sempre mostrando algo diferente, mesmo andando no mesmo tema.

Em Hard Boiled ele é tão cool que chega a irritar. Como exemplo, cito a passagem da biblioteca em que o personagem descobre a arma do crime analisando a marca de um livro em relação ao sangue jorrado. Sim, ele tem a "manha" de achar um livro específico numa biblioteca. Detalhe neófito - méritos ao John Woo nessa - é um livro de Shakespeare. E tem o nome... Tequila. Um dos nomes de personagem mais legais da história do cinema de ação.

Para mim - e como isso não é uma crítica e sim uma opinião TOTALMENTE pessoal - é a melhor coisa que Woo já fez na vida. Duas horas de ação da melhor qualidade.




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