quinta-feira, 26 de agosto de 2010


A grande diferença entre um grande clássico e um filme cult é simples: Cult é aquele filme que você gosta e não necessariamente é tão bom assim (alguns até são), mas que por algum motivo você adora, se diverte e indica aos amigos. O caso é que na ânsia de encaixar esses filmes em alguma sessão, o Fotograma resolveu criar essa nova sessão, onde aqueles filmes amados e cultuados serão aqui comentados. Sempre de maneira leve e divertida, como pede um filme cult.

Calafrios
(Shivers, 1975)

David Cronenberg é meu diretor favorito, já tive a oportunidade de ver quase todos os seus filmes e desde quer vi pela primeira vez A Mosca com meus saudosos 12 anos acho que alguma coisa deu errado dentro da minha pessoa e me atraindo para o macabro/estranho/esquisito ou até mesmo do mal feito. Se hoje eu gosto de tanta podreira a culpa é desse senhor.
Calafrios apesar de não ser a estréia do diretor em longas é aquele que pode ser considerado o seu primeiro passo rumo ao “desconhecido”. Em Calafrios ele já apresenta os temas básicos da filmografia de sua filmografia. Estão lá a sexualidade doentia, a violência gore e suja e o uso do corpo como laboratório para mudanças bizarras.
Cronenberg é um gênio no que tange o comportamento humano. Em todos os seus filmes o diretor busca algo novo em relação a sua visão da humanidade.

Nessa quase estréia ele critica (mesmo que de forma sutil) a sociedade como “cachorrinhos amordaçados” que ficam contentes por morarem em condomínios luxuosos com cada vez mais coisas disponíveis, mesmo tendo cada vez menos tempo para usufruir.
Calafrios fala de um desses condomínios , o Starfleet, que abriga milhares de moradores, felizes com suas vidinhas comuns.

Dentre os moradores , existe um médico (Dr. Hobbes) que (na minha opinião) de saco cheio com essa “conversinha mole” e com esse bom mocismo resolve criar um parasita que uma vez inserido no hospedeiro (vulgo homem) afetará as suas funções cerebrais e o fará seguir seus instintos em detrimento a razão. É, na visão do tal doutor, uma volta ao homem em estado original, antes da “catequese” mercadológica e dos cabrestos da sociedade.

O problema ocorre quando sua cobaia, uma moreninha gatinha de sainha colegial, apresenta comportamentos estranhos. Ela passa a precisar de sexo mais do que o Michael Douglas precisava antes de se “curar”. Nisso ela transmite os parasitas para outros homens e ai a bagunça está armada.

Tecnicamente o filme é "tosco". Mal filmado, por vezes mal editado, com efeitos (ou seriam defeitos) visuais paupérrimos (os parasitas são medonhos de tão mal feitos) e com interpretações bem fraquinhas. O protagonista é um tal de Paul Hampton (aqui vivendo o Dr. Roger St. Luc) e nunca fez nada que preste seja antes ou depois. Suas reações as atrocidades vistas são risíveis de tão ruins.

Mas por outro lado, Cronenberg tem idéias bem criativas e deverás bizarras, em especial na metade final do filme. Enquanto o doutor saí a caça de uma saída do condomínio ele se depara com coisas bem escabrosas. Duas crianças aparentemente nuas servindo como cães guia, um velho babão que oferece sua filha ao nosso doutor, uma cena de gore que faria o mestre Mario Bava sorrir com orgulho e uma catarse na piscina no melhor estilo Romero.
Cronenberg veio a melhorar muito tecnicamente por questões óbvias, mas a semente da mente perturbada do mestre canadense já estava lá, no saudoso ano de 1975, nessa pérola do mal gosto chamada Calafrios.

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