Direção: Alan Parker
Com: Mickey Rourke, Robert DeNiro, Lisa Bonet, Charlotte Rampling
Pode um homem não saber realmente quem é , e mais ainda não saber que foi ?
Essa é a pergunta que Alan Parker (diretor e roteirista) responde. A história de Harry Angel um detetive particular de Nova Iorque, que tem fobia de galinhas e ganha a vida resolvendo pequenos casos que envolvem principalmente divórcios, pagamento de dívidas e afins.
Até a chegada de Louis Cyphre um misterioso cliente que deseja que Harry encontra um famoso cantor pré-segunda guerra chamado Johnny Favourite. Segundo Louis ele tem uma dívida que não foi paga e após ter sofrido um trauma na guerra e ficado em um hospital sumiu misteriosamente.
Se você, caso ainda não tenha visto, acha que a história se resume a uma boa e velha “caçada ao desconhecido” no melhor estilo noir, está errado ... e também certo.
Alan Parker brinca com as convenções de gênero e apresenta um estudo da humanidade pelo viés da cobiça, maldade e religião.
Aos poucos somos apresentados ao mundo cinza e granulado (brilhante fotografia de Michael Seresin) de Harry Angel e a sordidez de sua investigação.
Mickey Rourke, no auge do seu sex appeal e de sua popularidade transcende o clichê do detetive noir, falido mas conquistador, e apesar de ecos de Humphrey Bogard serem vistos aqui e ali é a persona cinematográfica de Rourke que enche a tela. Na minha opinião, Rourke tem seu maior momento nas telas com esse filme.
Robert DeNiro é um ator fabuloso por diversos motivos, mas nesse filme em especial sua técnica e talento são visíveis na interpretação segura e sólida do misterioso Cyphre. Uma pena, de verdade, que DeNiro venha apresentando trabalhos cada vez mais fracos.
A investigação de Angel o leva a Nova Orleans, e desse ponto em diante apesar de podermos adivinhar o que estamos assistindo, ou melhor, adivinhar aonde a investigação nos levará, a jornada é sedutora e surpreendente em alguns momentos.
A narrativa tensa e entrecortada com flashes de um passado desconhecido de Harry nos deixam duvidar das intenções do diretor. Teria ele a obsessão por nos deixar loucos ? Teria ele a intenção de nos confundir ?
Aos leitores que não viram o filme, basta dizer que a jornada de Harry Angel em busca de sua própria fé e de respostas para seus vazios é sublime.
Revi esse filme a pouco tempo para escrever esse segundo Filmes Para Ver Antes de Morrer e ele ainda me impressiona, o que me surpreendeu já que não o considerava uma obra digna de figurar nessa lista.
Curioso notar ainda, que muita gente mais nova não viu esse filme, e o que ando percebendo (com enorme infelicidade) é que falta um pouco de vontade de conhecer um pouco mais de cinema e não somente ver as coisas que estão na frente de nossos narizes.
Esse é um dos casos em que a descoberta vale muito a pena. Vale a pena ver Mickey Rourke antes de destruir a sua carreira e perceber o quão talentoso esse cara é.
Vale a pena perceber como Alan Parker, mesmo nos momentos mais elípticos (que existem no filme) ainda mantém a segurança e a serenidade e não nos deixa perdidos em meio ao mistério crescente do filme
As respostas as elipses narrativas são mostradas homeopaticamente e de forma com que você consiga seguir as migalhas e formular as soluções.
As soluções do filme não são sensíveis e nem animadoras, mas poderosas.
Um dos meus filmes de suspense predileto. Lembro que quando assisti no cinema fiquei arrepiada (1987) e o filme gerou muita polêmica devido as suas cenas fortes, envolvendo candomblé. Filme é muito bom, trama bem elaborada. Conta ainda com uma das melhores atuações de Mickey Rourke ( aliás ele estava no auge da sua carreira) além da maravilhosa presença de Robert De Niro.
ResponderExcluirMaravilhosa lembrança, amo este filme!!!!!!!
Júnia digo mais, acho o melhor filme de Mickey Rourke e dos melhores do DeNiro.
ResponderExcluirNão sei se seria heresia minha dizer que é o ponto alto da carreira de Alan Parker, mas considero-o tão poderoso quanto Mississipi ou The Wall
Grande Alexandre
ResponderExcluirO Fotograma Digital está no Blogroll do DrFrame.
E para acrescentar, acho que o termo "elipse narrativa" é o que eu buscava para descrever alguns filmes e não achava palavras. Propriamente, "Coração Satânico" cabe em cheio na descrição, também pelo próprio ritmo que o Parker impõe ao filme. A cena final do filme com o Harry em uma literal descida ao inferno é uma das coisas mais maravilhosas em termos de metáforas visuais que eu vi no cinema dos anos 80 - em termos de cinema, só coloco "Mississipi Burning" acima do Angel Heart na obra do Parker.
Abraço
O Alan Parker é um dos meus diretores favoritos e "Coração Satânico" é uma das obras dele que eu mais gosto, pela densidade, pelo clima de suspense e pela atuação do De Niro!
ResponderExcluirJá vi este filme a um bom tempo e gostei muito do resultado. Acho a busca do Harry um tanto cansativa, mas é um filme repleto de momentos medonhos, especialmente a sequência de sexo com todo aquele banho de sangue. Mas é um filme obrigatório para a mais recente geração de cinéfilos, que de fato verão Mickey Rourke no auge.
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