sexta-feira, 6 de novembro de 2009


Acossado (À Bout de Souffle, 1960)

Direção: Jean-Luc Godard

Com: Jean-Paul Belmondo, Jean Seberg

Muito já foi dito sobre Acossado. Se você quiser ler uma análise psicológica ou de qualquer cunho que não seja cinematográfico procure em outro lugar.

Minha análise do filme é puramente cinemática.

Dito isso, e antes de mais nada, preciso afirmar que Acossado não é um filme de fácil digestão.Não tanto por sua temática, mas por sua condução e desenvolvimento.

Godard criou um estilo (que foi batizado de nouvelle vague) e ganhou fama com esse filme e isso fica claro já nos primeiros 5 minutos de projeção, quando vemos um jovem aspirante a Humphrey Bogard (talvez o cara mais imitado do cinema) andando em um carro e pensando em diversas coisas diferentes, todas elas irrelevantes ou mesmo o reflexo de um rapaz comum e medíocre.

Tudo muda quando ele , tomado pela fúria arrogante e adolescente, mata um policial. A forma crua, e quase amadora que Godard filma essa sequência deve ter chocado algumas platéias na França.

É algo muito diferente do que faziam Abel Gance, René Clair, Jean Renoir, Jean Vigo, Marcel Carné, Robert Bresson, Henri Clouzot entre outros. Muito forçado pelo baixo orçamento Godard “criou” algumas inovações na maneira de filmar que ainda hoje podem ser vistas e revistas no cinema.

Jean-Paul Belmondo vive Michel (o jovem adulto matador) e constrói um personagem canalha mas com “bom coração”. Ele rouba, e até mata mas está absolutamente apaixonado por seu “caso” americano, a dublê de jornalista Patricia (a lindíssima Jean Seberg).

Tarantino não assume, mas a fabulosa cena de mais de vinte minutos passada apenas em um quarto influenciou (mesmo que não diretamente) suas “brincadeiras” com palavras e sua habitual construção de roteiro onde os personagens por diversas vezes falam sobre o nada como se aquilo fosse o tudo, e vice-versa.

Outra inovação técnica que surgiu nesse filme foi a total pós sincronização do som gravado no filme, o que abria o leque de Godard quanto ao uso do som em seus filmes. Não mais havia a diferença entre o som da rua e toda sua paisagem sonora, e dos diálogos.

A história, talvez tenha envelhecido um pouco mal. É difícil hoje, assistindo sem estar presente na época dos acontecimentos e aceitar a submissão quase idiota de Michel por sua amante americana. Ainda mais após ser confrontado com uma revelação quase ao final do filme.

Mesmo assim, o filme guarda sequencias memoráveis, como a de abertura, o longíssimo diálogo no quarto, e o belo e poético final.

“ Quando nós conversamos, eu falei de mim, você falou de você, quando deveríamos ter falado de nós dois”... são frases como essas que exultam de brilhantismo o trabalho de Godard.

Para as novas gerações, acostumadas aos “vídeo-clipes movie” talvez seja complicado entender a profundidade do filme, mas no final e sendo bem sucinto e rasteiro o filme fala de amor.

E do que acontece quando esse amor compromete nossos julgamentos, quando a pessoa amada teme o desconhecido, e quando o medo subverte o amor e esse se transforma em aflição.

Godard abre seus “trabalhos” com profunda sensibilidade, o que seria o tocante de toda a sua carreira.

 

Um comentário:

  1. Conheço poucos trabalhos do Godard ("Alphaville", "Tudo vai bem", "Nostre musique" e "Pierrot le fou"). Os meus prediletos são os dois primeiros.

    Seu texto se somou à minha vontade de conhecer a filmografia do cineasta. Então, pretendo assistir, de preferência o mais rápido possível, "Acossado".

    Parabéns pelo texto! Abraço!

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