Direção: Jean-Luc Godard
Com: Eddie Constantine, Anna Karina, Akim Tamiroff
Imagino Godard sentado em um café em Paris, comendo um croissant e tomando um “pingado” e pensando “Vou fazer um sci-fi gastando menos do que gastei nesse café”.
Brincadeiras a parte, Godard realmente realizou um tremendo filme de ficção científica sem usar sequer um efeito especial.
Tudo começa quando o investigador Lemmy Caution chega a cidade (ou seria planeta ?) Alphaville determinado a encontrar e talvez matar o professor VonBraun. Entre idas e vindas (que não vou contar para não estragar a experiência de vocês leitores) ele se decide a destruir um supercomputador.
Esse supercomputador chama-se Alpha 60 e comanda o planeta (ou seria cidade ?) como um autocrata que pune os dissidentes de suas intenções. Palavras foram banidas das conversas e das mentes das pessoas e os sentimentos mais puros são punidos com a morte.
Mortes essas, que acontecem em uma bizarra piscina olímpica ao som de aplausos, com discursos inflamados dos que estão a beira do “precipício” e com sensuais mergulhadoras que “terminam o serviço” que as balas iniciaram.
Lemmy Caution (vivido por Eddie Constantine) é um típico herói dos pulps e dos filmes noir americanos. Tem o rosto marcado pelo tempo, e o charme dos grandes canalhas do gênero.
Godard aqui reforça seu discurso sobre o amor e a beleza da vida dessa vez através de um gênero que infelizmente ele não voltou a visitar.
Depois de terminar de ver o filme, fiquei pensando em que outras obras poderiam ter sido tocadas pelo talento do francês.
Tudo funciona muito bem, e a genialidade estética é esplendorosa. Godard usou prédios de visual (segundo a concepção da época) futurista, neóns, placas de sinalização e uma locução absolutamente tétrica para o computador, para ilustrar sua visão de futuro.
As alegorias visuais e temáticas estão sempre presentes no trabalho do diretor e mesmo enveredando-se em caminhos mais perigosos e até então desconhecidos, não deixa de abordar o existencialismo, seu tema favorito e recorrente em sua obra.
Alphaville é extremamente convincente como filme de gênero mesmo desvirtuando todos os predicados tradicionais da ficção científica.
Nada de óvnis, armas modernas, lasers ou roupas exóticas. Alphaville fala mais do homem corrompido pela autocracia, do amor e de poesia.
Natacha não conhece o amor e a consciência (seja ela social, política, ou qualquer outro complemento que você leitor queira encaixar aqui) e é por meio da poesia que Caution encontra os resquícios desses sentimentos profundos nela.
Godard era realmente um cineasta muito corajoso. Assim como em Acossado, ele interrompe sua narrativa, até então, fluída e de fácil compreensão para encaixar um encontro num hotel recheado de indagações filosóficas e cheia de referências poéticas.
No fim, Caution dirige um Ford Galaxie e usa uma pistola 9mm, usa chapéu panamá e veste um sobretudo claro e nada mais. É um homem comum jogado numa atmosfera incomum. Godard em seu esplendor de criatividade subverteu a ficção científica ao mesmo tempo em que homenageou os noir, os quadrinhos (Dick Tracy é citado), os filmes expressionistas (alguns jogos de luz e sombra na fotografia e em um dos nomes dos personagens) e mais uma vez pagou seu tributo ao amor e a arte de fazer ótimo cinema.
Aproveitando o post para agradecer muito a Júnia do blog Vintage Blog que me ofereceu sem custos o selo abaixo. Quem ainda não clicou no blog dela que está no blog roll aqui ao lado, não perca tempo. Acompanho sempre e é uma aula da professora Júnia, sobre o cinema. Passem por lá !
Mais um filme que eu nem conhecia! Não sou muito familiarizada com a obra do Jean-Luc Godard.
ResponderExcluirAlexandre meu querido,
ResponderExcluirdeixei um selinho francês (mon coeur à to) para você no meu blog.
Passa lá e pega - esse não tem regrinhas de repassar para ninguém tá.
Estou te dado como forma de agradecer o carinho de sempre com relação ao meu simples blog
abraços
Amo Alphaville! O filme é genial! Godard faz uma interessantíssima crítica aos que tentam tornar tudo racional.
ResponderExcluirAbraço!
Um dos meus filmes preferidos.
ResponderExcluirUm Sci-Fi poético genialmente feito por Godard