Drama/Comédia - 109 min.
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman e Sheldon Turner
Com: George Clooney, Vera Farmiga, Anna Kendrick, Patrick Bateman
Jason Reitman é, para a indústria do cinema, jovem, mas já tem certa experiência e sabe o que faz. Tanto em Obrigado por Fumar quanto em Juno, o diretor cria obras muito boas, com temas divertidos e muito interessantes, mas peca ao "carregar" o filme adiante. Sofre com a perda de ritmo , algo que pode atrapalhar um pouco suas criações a receberem uma nota máxima. Amor Sem Escalas (Up in the Air) é outro que segue por esse caminho.
O início, como de costume, é com uma sequencia de créditos iniciais estilosa, como é de gosto de Jason Reitman. Música antiga e rítmica ao fundo, enquanto vários cortes de takes aéreos são exibidos. Dava pra reconhecer o realizador sem nem ao menos ler os créditos em si. Depois, um corte rápido para uma situação diária do protagonista, com uma narração em off nos apresentando tudo. Bem parecido com o primeiro filme do jovem cineasta, Obrigado por Fumar. Baseia-se, como no primeiro filme, num personagem que tem um trabalho um tanto peculiar, que gera situações engraçadas e reflexivas.
O Nick Naylor desta vez é Ryan Bingham, (George Clooney) um Conselheiro de Transições de Carreira, que é, em outras palavras, um profissional contratado por empresas sem coragem de demitir seus funcionários (muito bem explicado o porque desse medo no início, a propósito) para realizar essa dura tarefa. Dinamicamente, Reitman nos mostra o trabalho de Ryan, e também seu cotidiano. Para chegar a todas as empresas que precisa colocar seu trabalho em prática, ele viaja constantemente pelo país, de maneira tão intensa que passa mais tempo da sua vida nos aviões e hoteis do que na sua casa (pobremente mobilhada, devido a motivos óbvios). Sendo tão desapegado a coisas materiais e a sua própria família, Ryan dá palestras de como ser menos apegado as coisas do dia-a- dia, e assim esvaziar a sua mochila mental de preocupações.
No meio de uma das viagens que faz, Ryan conhece Alex (Vera Farmiga), uma versão feminina de si mesmo. Ela também passa mais tempo viajando do que em casa e passa a se encontrar com Ryan a partir de aeroportos e hotéis compatíveis com as agendas dos dois. Em outro ponto de sua vida, Ryan conhece Natalie (Anna Kendrick), uma jovem profissional de sua empresa, que cria um método de demitir pessoas via internet. Receoso de perder a chance de viver viajando e prezando por um estilo mais pessoal de se trabalhar, Ryan decide mostrar a Natalie um pouco mais de seu trabalho na prática.
No roteiro, vemos algumas diferenças. No início, a comédia era ácida e agil, e caminhava muito bem. Depois da apresentação das personagens secundárias, o filme dá uma "acalmada". É o início da parte dramática do filme. É construído, a principio, com maestria costurado entre os encontros de Ryan e Alex e as lições de Natalie com o protagonista. A relação com as duas realçam as facetas de Ryan. Com Alex, ele vive parte de algo que podemos chamar de vida real. Uma relação que começa casual e aos poucos, vai se intensificando. Já com Natalie, uma relação onde se aprende mais sobre sua própria profissão, e que seu trabalho de carrasco tem suas didáticas e um sentimentalismo maior.
Isso nos passa que, muitas vezes, dependendo da abordagem da pessoa que demite, o evento pode não ser um fim, mas um reinício. E o filme serpenteia sobre a vida de Ryan, que pode apresentar um reinício, uma vida real. De resto, o roteiro tem ótimos diálogos, todos afiadíssimos. Muito interessantes são as piadas do filme, principalmente as da primeira metade. Algumas são engraçadíssimas, e os comentários dos demitidos são espetaculares. Entretanto, a parte final dramática cria uma sensação de anti-climax, e isso determina a falta de ritmo citada no início desse texto. O clima do filme muda por alguns momentos, um declive que não compromete o todo, mas impede a nota máxima.
Outro fator que acompanha o declive e mudança de ritmo é a direção de Jason Reitman. Começa fabulosamente bem, fluindo naturalmente e opta por posições por vezes simétricas e interessantes nesse sentido. Existem, no início, espécies de hip-hop montage, que dão uma didática rápida ao filme . Entretanto, conforme o drama chega, a direção vai "esfriando" aos poucos, infelizmente.
As atuações são soberbas. Clooney se encaixa no papel como uma luva. Maravilhosamente bem, como sempre. Um dos melhores atores viventes, ele apenas reafirma isso. Vera Farmiga e Anna Kendrick seguram muito bem. Não posso dizem que transcenderam, mas estão entre as melhores atuações de 2009. A trilha sonora funciona bem como um pano de fundo quase apagado, mas a músicas são boas, em si. A fotografia de Eric Steelberg é muito boa. Meio cinza, nos faz sentir num aeroporto todo o filme.
É possível dizer, no final das contas, que Jason Reitman fez uma mistura de seus dois filmes anteriores, tanto no roteiro (escrito com Sheldon Turner , baseado no livro de Walter Kirn), quanto na direção. Aquilo que começou incrivelmente como Obrigado por Fumar, e terminou com o gosto do filme estrelado por Ellen Page. Uma obra, no geral, muito boa, mas que escorrega no seu ritmo final. Jason Reitman podia abrir o olho para esse fator, pois não é novidade na sua cinematografia.
TRAILER:
Nenhum comentário:
Postar um comentário