segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes
(Sherlock Holmes, 2009)
Ação/Aventura/Thriller - 128 min.

Direção: Guy Ritchie
Roteiro: Michael Robert Johnson, Anthony Peckham e Simon Kinberg

Com: Robert Downey Jr., Jude Law, Rachel McAdams, Mark Strong

Os clássicos livros de Sir Artur Conan Doyle marcaram o mundo, com dois dos mais conhecidos personagens da cultura mundial de todos os tempos: O detetive Sherlock Holmes e seu ajudante, John Watson. A frase " Elementar meu caro Watson " é uma das mais conhecidas das muitas já proferidas. Na década de 40, vários livros de Doyle foram fielmente adaptados para o cinema, e as características dos personagens, as aventuras vividas, todas, foram mudadas muito pouco, quase nada. O filme de 2009, entretanto, não se prende a adaptar e reproduzir com fidelidade as já consagradas aventuras do século IXX. O objetivo é criar novos personagens, transformar as histórias mais paradas em aventuras , com muita ação. Fazer de um personagem sério como Sherlock Holmes um herói de blockbuster, pegando suas caracteríscas mais "agitadas" - como a prática de boxe, conhecimentos em artes marciais - misturando com um pouco do persoangem original e dando origem à um novo Holmes, preparado para satisfazer os bolsos dos produtores e entreter milhões de espectadores.




Ora, cobrar fidelidade à obra original seria pedir um gosto doce de um prato de macarronada. Aqueles que reclamarem por conta disso, estão por fora do contexto do filme. Não é apenas mudar por mudar. É recriar um personagem sob a ótica de um cineasta talentosíssimo. Guy Ritchie - que surgiu fazendo filmes de gângster e se estagnou por ali, não evoluindo para nenhum outro gênero - tem técnica de sobra e é um diretor clipeiro, ágil, contemporâneo. Por isso, acredito que há uma semelhança entre Sherlock Holmes e o novo Star Trek. Mesmo que a qualidade dos dois seja muito díspar, os dois tem o mesmo objetivo : Recriar um universo consagrado.


As mudanças já são observadas nas características dos dois personagens principais. O Sherlock original era um inglês sério, com um semblante calmo, o padrão do detetive. O novo é muito mais descontraído, descabelado, age muito mais em lutas, e está muito mais moderno. Ainda há, claro, suas ótimas características clássicas, como o fato de ser extremamente detalhista e dedutor. Inflando essa faceta do personagem, ele se torna muito mais cool e bastante interessante. Watson, por sua vez, que era um ajudante mais atrapalhado , agora é quem de certo modo segura a coleira de Holmes. Um novo olhar sobre os personagens, um olhar por sinal, interessantíssimo.




Na trama do filme , a dupla consegue capturar Lord Blackwood, um criminoso que sacrificava jovens mulheres, e sendo preso, ele é condenado a morte. Mas ele misteriosamente ressucita, e começa a por em ação um plano mais perigoso. Enquanto isso ocorre, Holmes se depara também com uma antiga ladra , Irene Adler(Rachel McAdams), que entra em seu caminho diversas vezes durante a investigação.


Os diálogos são sublimes. São falas rápidas, inteligentes do modo ágil que são aplicadas. Outra marca de Ritchie, que apesar de não escrever o roteiro, já falou que deu uma mudadinha no que estava no script junto com os atores . O roteiro estrutural em si, é interessante por um lado. A história não é contada no início da carreira da dupla. Muito pelo contrário, ela começa num período de ruptura , já que Watson está perto de seu casamento , vai se mudar de casa e parar de se aventurar com Holmes.




Entretanto, o resto não vai muito além do comum. Toda a base da história, que se alicerça em geral num mistério, não é a das mais inovadoras. Tudo bem, isso já era de se esperar, mas alguns escorregões na hora de desenvolve-la são feios . Não há um mistério em si. Há um vilão, que precisa ser detido, custe o que custar. O mistério está nas artimanhas que o vilão usa para se safar. Mas essas artimanhas já são, para aqueles que conhecem as desculpas dadas em filmes, conhecidas. Pelo menos eu, já sabia. Outro problema é o roteiro explicadinho demais, pelo próprio protagonista. É uma das marcas de Holmes, sem dúvida, mas na situação do filme, fica meio artificial. Além disso, o modo como Holmes detecta as pistas e como as revela não são convencionais, e não caem bem, principalmente num filme que tenta estampar a "modernidade" na cara. Já o resto, é muita ação, aventura e todo o resto. Meio dispensável nesse sentido.




Na direção, Ritchie demosntra segurança, e não perde em momento nenhum as rédeas do filme. Dirige muito bem, com alguns takes mais diferenciados, e alguma lembrança distante de seu hip-hop montage já usado em Snatch. Em alguns momentos, utiliza da câmera de forma padrão, como nos cortes das cenas de ação. Mesmo assim, em um outro corte nessas cenas, ele usa bons takes em locais interessantes. A câmera lenta, utilizada em duas ou tres sequencias do filme, é realmente interessante, visualmente ótima. Mas parece que virou moda usá-la depois que Zack Snyder fez, já que até James Cameron usou em seu Avatar.

A parte técnica me surpreendeu um pouco. A trilha do genial Hans Zimmer está estranha, mais enlatada até, escancaradamente inferior ao trabalho que fez em Batman por exemplo. A fotografia é boa, só peca nos momentos de maior escuridão. De resto, nos introduz numa Londres bem suja, e contribui na modernizada que o filme pretendia.




Sherlock Holmes perde muito, portanto, ao tentar fazer dinheiro e não disperdiçar essa chance por nada. A trama tem de ser explicada, uma continuação tem de ser feita, e tudo isso reduz o filme praticamente a um caça-níqueis de ação, que tinha muito mais potencial para ser desenvolvido. Sobram a direção e as boas atuações de Downey Jr. e Law. Mas Sherelock Holmes ainda tem utilidades fora da tela. Coloca o talentoso Guy Ritchie fora do seu carma criminoso, em outra atmosfera, agora testando orçamentos altos.

TRAILER:


 





(Nota do Editor: Essa postagem marca o início de uma nova fase no blog. Nessa fase os lançamentos terão prioridade para aparecerem por aqui. Agradecendo de público já aos meus parceiros Gabriel e Joaquim, que cederam imediatamente a postagem do Sherlock para a publicação por aqui. Quem quiser ler essa ou outras resenhas, algumas ainda por entrar aqui inclusive, acessem o blog dos caras, por que eles tem talento e merecem ser prestigiados). 

3 comentários:

  1. Joaquim, discordo em alguns pontos. O primeiro deles é em relação ao Ritchie nunca perder as rédeas: a primeira metade me deu sono, e fazia tempo que não sentia isso no cinema. A metade final, até para o público sair satisfeito, é muito melhor do que a inicial, que parece uma colagem de situações unidas com cola tenaz, muito frágil e aborrecida.

    E discordo da comparação com Star Trek, porque aqui houve uma reinvenção, e não uma renovação. Ritchie reinventou um personagem que não tem como características sair para a ação, não tem como característica aquela expressão meio maluca e cabelo desgrenhado. Ele usou elementos da história e reinventou.

    Já o Abrams renovou Star Trek, mantendo a mitologia, sendo fiel á história original - inclusive citando vários acontecimentos dos filmes 2 e 3 explicitamente - e mudando apenas um personagem em essência, que foi Uhura.

    Renovação e reinvenção são bem diferentes. Eu gosto do primeiro, mas fico com um pé atrás no segundo.

    Minha nota para esse Sherlock ficou entre 5 e 6. O final movimentado não me fez esquecer os bocejos da primeira metade

    Abraço

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  2. Fábio, aqui o erro foi meu (Alexandre)... a nota do Joaquim é 5.5 (já alterei) e não 7.0, isso que dá os caras votaram em 0/5 e eu inventar de fazer nota redonda rsrs.

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  3. Eu achei a parte inicial mais agitada até. No final o filme apresenta muitos problemas de roteiro. E quanto em relação ao Star Trek foi só uma citação de comparação básica, de mudar o jeito de ver algo já consagrado , realmente nos detalhes a intenção dos dois foi bem diferente. E quanto ao personagem, eu acredito que ele misturou detalhes não existentes com características próprias do personagem, como o boxe, como falei na crítica.

    Abraço.

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