Distrito 9
(District 9, 2009)Ficção Científica - 112 min.
Direção: Neil Blomkamp
Roteiro: Neil Blomkamp e Terri Tatchell
Com: Sharlto Copley
Há muito tempo, circula na internet um curta chamado Alive in Joburg, do sul-africano Neill Blomkamp. Um curta contando a história de uma enorme nave extraterrestre pousando na Terra. E ela pousa (na verdade, plana) em Joanesburgo, capital do país de Neill.
Por ter uma história extremamente atraente, o curta chamou atenção. Então, um produtor chamado Peter Jackson, detentor do Oscar de 2003, resolveu chamar o novato Blomkamp pra filmar Halo, baseado na grande franquia de games.
Com problemas orçamentais, o filme foi cancelado e Jackson então resolveu dar uma nova chance para o novato. Ele pediu para transformar Alive in Joburg em um longa, com efeitos da Weta, companhia de efeitos especiais de Jackson (e responsável pelos efeitos foto-realistas de Avatar). Começou então uma longa jornada para Blomkamp e Terri Tatchell, co-roteirista do filme.
Depois de meses de divulgação, Distrito 9 chegou aos cinemas americanos. Com espetaculares 118 milhões de dólares, o filme ganhou uma repercussão incrível, auxiliada pelas críticas positivas e os 90% do Rotten Tomatoes, que o exaltava como o novo clássico da ficção científica moderna. Tudo caminhava muito bem para um filme simplesmente perfeito.
E, definitivamente, Distrito 9 não é um filme perfeito.
A trama, que desenvolve a premissa do curta, conta a história da nave alienígena que plana sobre Joanesburgo há 20 anos. Quando foram encontrados, os aliens estavam desnutridos, doentes e totalmente desamparados. A partir disso, os camarões (termo pejorativo dado pelos humanos) são tirados da nave e postos num campo chamado Distrito 9, embaixo da nave planando. Os aliens vão se reproduzindo até que chegam a milhões. Nisso, o campo vira uma favela dominada pela máfia nigeriana. Lá, a máfia trafica de armas até prostitutas. A partir dai a brigada que cuida dos aliens, a MNU, resolve transportá-los para um lugar maior. É durante o comunicado aos aliens que o chefe da operação, Wikus van der Merwe (o ótimo Sharlto Copley) entra em contato com um líquido escuro, referente aos alienígenas.
Tecnicamente, o filme é formidável. A Weta arrebenta, de verdade. Faz verdadeiros milagres com os 30 Milhões da produção. Criando aliens foto-realistas, designs de armas e lugares e uma nave simplesmente fantástica, a Weta cobre o filme com ótimos efeitos. A direção de Blomkamp é muito interessante. Quando faz um tom documental, ela esbanja estilo e tem muita identidade. Quando o filme deixa de ser aquele "mockumentary", a direção continua boa, comandando bem as cenas de ação. A trilha sonora de Clinton Shorter é muito boa e dá tons simplesmente perfeitos quando exigida. A edição de Julian Clarke é ágil e auxilia muito a direção de Blomkamp em alguns pontos, principalmente na parte documental do filme. A fotografia de Trent Opaloch é interessantíssima, usando o branco como elemento principal, mas sem acrescentar muito.
E agora, o roteiro. Com uma das tramas mais revolucionárias da história do cinema, o roteiro faz do início ao meio da película algo único. Com diálogos ótimos, entrevistas em tom documental parecido com REC e atuações soberbas, a produção empolga por ter um roteiro tão bom.
Mas aí, vem o meio pro final. E tudo se perde. A trama deixa de focar no drama dos alienígenas, que querem voltar pra casa, mas são impedidos. A história passa o bastão para uma trama paralela de Wikus. E após isso, o filme se torna uma ação desenfreada e frenética. E começam os clichês. O mocinho que se arrepende e se vê lutando ao lado do inimigo, o bruto que é extremamente odiável, aquele confronto final que não tem o menor sentido. E o filme vira uma ação inteligente. Tudo aquilo do início, toda aquela sci-fi politizada, que nos faz ter vergonha de atos como o Apartheid e o racismo, que nos faz ver como um ficção científica pode ser brilhante, inteligente e extremamente humana. Tudo isso, abandonado pela sede de ação, possivelmente achando que o público podia estar entediado com a história parada e política.
Nessas tais cenas de ação no final, não há o que reclamar, se avaliá-las isoladamente. A sincronia da câmera, o tiroteio perfeito, os efeitos contribuindo e transformando o filme em algo extremamente violento e a coreografia dos atores impecável, fazem com que seja uma das cenas mais bem realizadas e empolgantes do ano. Algo realmente interessante de se ver.
Um dos únicos problemas dessa sequência é que ela não pertence a esse filme. Ela pertence á outro blockbuster de ação e pancadaria. Não á aquele filme belo e realista que eu tinha visto no início e pelo qual eu tinha investido minhas esperanças. Agora, além dos clichês, tudo fugiu do controle.
Se o roteiro dos iniciantes Blomkamp e Tatchell se focasse mais na sufocante situação dos aliens, presos e jogados á própria sorte num planeta desconhecido, o filme seria excelente, seria um dos melhores da história da ficção científica, quem sabe. Mas Blomkamp escorregou e se deixou levar pelo gatilho usado por roteiros sem fundamento: a tal ação. Bem executada, mas condizendo com outra realidade.
Peter Jackson faz o que pode, com o que tem. Seus efeitos são lindos. Um belo parabéns a ele e sua equipe. E um parabéns singular a ele, por ter apostado numa trama tão complexa e surpreendente. Talvez ele só tenha lido o roteiro até o meio.
Que Neill Blomkamp faça outro filme, dessa vez de ação. Só assim para eu me entreter com esse novato promissor. Só assim para eu não ficar extremamente triste por tanto potencial cinematográfico desperdiçado. Que ele use seu talento para esse único gênero ou que ele não escreva mais filmes. Não pela metade.
Com problemas orçamentais, o filme foi cancelado e Jackson então resolveu dar uma nova chance para o novato. Ele pediu para transformar Alive in Joburg em um longa, com efeitos da Weta, companhia de efeitos especiais de Jackson (e responsável pelos efeitos foto-realistas de Avatar). Começou então uma longa jornada para Blomkamp e Terri Tatchell, co-roteirista do filme.
Depois de meses de divulgação, Distrito 9 chegou aos cinemas americanos. Com espetaculares 118 milhões de dólares, o filme ganhou uma repercussão incrível, auxiliada pelas críticas positivas e os 90% do Rotten Tomatoes, que o exaltava como o novo clássico da ficção científica moderna. Tudo caminhava muito bem para um filme simplesmente perfeito.
E, definitivamente, Distrito 9 não é um filme perfeito.
A trama, que desenvolve a premissa do curta, conta a história da nave alienígena que plana sobre Joanesburgo há 20 anos. Quando foram encontrados, os aliens estavam desnutridos, doentes e totalmente desamparados. A partir disso, os camarões (termo pejorativo dado pelos humanos) são tirados da nave e postos num campo chamado Distrito 9, embaixo da nave planando. Os aliens vão se reproduzindo até que chegam a milhões. Nisso, o campo vira uma favela dominada pela máfia nigeriana. Lá, a máfia trafica de armas até prostitutas. A partir dai a brigada que cuida dos aliens, a MNU, resolve transportá-los para um lugar maior. É durante o comunicado aos aliens que o chefe da operação, Wikus van der Merwe (o ótimo Sharlto Copley) entra em contato com um líquido escuro, referente aos alienígenas.
Tecnicamente, o filme é formidável. A Weta arrebenta, de verdade. Faz verdadeiros milagres com os 30 Milhões da produção. Criando aliens foto-realistas, designs de armas e lugares e uma nave simplesmente fantástica, a Weta cobre o filme com ótimos efeitos. A direção de Blomkamp é muito interessante. Quando faz um tom documental, ela esbanja estilo e tem muita identidade. Quando o filme deixa de ser aquele "mockumentary", a direção continua boa, comandando bem as cenas de ação. A trilha sonora de Clinton Shorter é muito boa e dá tons simplesmente perfeitos quando exigida. A edição de Julian Clarke é ágil e auxilia muito a direção de Blomkamp em alguns pontos, principalmente na parte documental do filme. A fotografia de Trent Opaloch é interessantíssima, usando o branco como elemento principal, mas sem acrescentar muito.
E agora, o roteiro. Com uma das tramas mais revolucionárias da história do cinema, o roteiro faz do início ao meio da película algo único. Com diálogos ótimos, entrevistas em tom documental parecido com REC e atuações soberbas, a produção empolga por ter um roteiro tão bom.
Mas aí, vem o meio pro final. E tudo se perde. A trama deixa de focar no drama dos alienígenas, que querem voltar pra casa, mas são impedidos. A história passa o bastão para uma trama paralela de Wikus. E após isso, o filme se torna uma ação desenfreada e frenética. E começam os clichês. O mocinho que se arrepende e se vê lutando ao lado do inimigo, o bruto que é extremamente odiável, aquele confronto final que não tem o menor sentido. E o filme vira uma ação inteligente. Tudo aquilo do início, toda aquela sci-fi politizada, que nos faz ter vergonha de atos como o Apartheid e o racismo, que nos faz ver como um ficção científica pode ser brilhante, inteligente e extremamente humana. Tudo isso, abandonado pela sede de ação, possivelmente achando que o público podia estar entediado com a história parada e política.
Nessas tais cenas de ação no final, não há o que reclamar, se avaliá-las isoladamente. A sincronia da câmera, o tiroteio perfeito, os efeitos contribuindo e transformando o filme em algo extremamente violento e a coreografia dos atores impecável, fazem com que seja uma das cenas mais bem realizadas e empolgantes do ano. Algo realmente interessante de se ver.
Um dos únicos problemas dessa sequência é que ela não pertence a esse filme. Ela pertence á outro blockbuster de ação e pancadaria. Não á aquele filme belo e realista que eu tinha visto no início e pelo qual eu tinha investido minhas esperanças. Agora, além dos clichês, tudo fugiu do controle.
Se o roteiro dos iniciantes Blomkamp e Tatchell se focasse mais na sufocante situação dos aliens, presos e jogados á própria sorte num planeta desconhecido, o filme seria excelente, seria um dos melhores da história da ficção científica, quem sabe. Mas Blomkamp escorregou e se deixou levar pelo gatilho usado por roteiros sem fundamento: a tal ação. Bem executada, mas condizendo com outra realidade.
Peter Jackson faz o que pode, com o que tem. Seus efeitos são lindos. Um belo parabéns a ele e sua equipe. E um parabéns singular a ele, por ter apostado numa trama tão complexa e surpreendente. Talvez ele só tenha lido o roteiro até o meio.
Que Neill Blomkamp faça outro filme, dessa vez de ação. Só assim para eu me entreter com esse novato promissor. Só assim para eu não ficar extremamente triste por tanto potencial cinematográfico desperdiçado. Que ele use seu talento para esse único gênero ou que ele não escreva mais filmes. Não pela metade.
Realmente é de cair o queixo o bom rendimento de Distrito 9 obteve nas bilheterias. Com uma produção de orçamento baixo o filme conseguiu quase quadriplicar o valor do orçamento inicial (de 30 milhões) apenas nos EUA.
Um fator da grande atenção e dos holofotes virados á essa produção se deve ao nome de Peter Jackson , que apadrinhou o diretor estreante em longas (Neill Blomkamp) e produziu o filme.Inicialmente, eles eram cotados pra trabalhar em uma adaptação do game Halo, da Microsoft, que, por problemas com o orçamento, foi cancelada, e substituída quase em última hora por Distrito 9, filme baseado no curta realizado por Blomkamp. E que genial é essa trama inicial de Distrito 9.
Sem dúvidas teria vindo para revolucionar todos os outros anteriores do gênero. Colocando um contexto até mesmo político na trama. O filme começa sem muito alarde, mostrando logo de cara que é para ser encarado como um documentário falso sobre acontecimentos decorrentes de uma nave alienígena sobre a capital da África do Sul, Joanesburgo.
O início é espetacular, e mostra com todo o cuidado e calma os eventos, suas consequencias e perigos. Os áliens, achados em condições precárias dentro da nave , são transferidos para um lugar como ''um campo de refugiados'' denominado Distrito 9. Entretanto o relacionamento entre áliens e seres humanos na região fica difícil, com muitos conflitos e problemas. Assim,depois de 20 anos desde a chegada da nave, o governo prepara um plano para transferir toda essa população alien para um outro campo, afastado da cidade.
Essa trama de início, como uma sinopse, é muito boa. Mostra uma referência óbvia porém muito bem colocada ao Apartheid. Colocar aliens é mostrar com imagens o que talvez um discurso não conseguisse. Dessa premissa, esperamos uma história dramática desse povo extra-terrestre, suas dificuldades de relacionamento com os humanos e sua vontade de voltar para casa. Blomkamp nos dá esse gosto, colocando de início todos os problemas e toda a ambientação da trama . Faltava apenas desenrolar o resto. Mais foco dramático, talvez um embate entre as duas raças e o problema do retorno dos E.Ts pra casa. Entretanto, ele nos tira o doce da boca e vira a trama em cima de um personagem um tanto descabido e tirando a trama do seu foco mais legal.
Wikus van de Merwe (o bom Sharlto Copley) é o trabalhador da MNU (um tipo de ONU para relações alienígenas) que fica encarregado como chefe da operação de transferencia dos aliens para o novo local. Esse personagem foi o início do erro do cineasta. Um protagonista seria nocivo para o desenvolvimento da trama, pois toda atenção seria desviada a ele. Assim foi. Em meados do filme, Wikus já tinha se tornado o cerne da história. Suas implicações mais fúteis ainda, se comparadas ao grande drama de ficção que Blomkamp poderia ter tornado esse filme se desse mais atenção a didática do E.Ts.
Contudo, ele coloca um protagonista com problemas ''sérios". É quando Wikus é infectado pelos aliens e começa a ser perseguido pelo governo,que quer coloca-lo sob testes, pois obtendo dois DNAs, ele pode manusear as armas potentes dos áliens. Deste modo, o filme fica condenado, dando 80% da atenção aos problemas do protagonista e o resto a trama dos áliens. Mas o bom espectador sabe o que é melhor assistir. E não é a trama de controle bélico com certeza. A partir daí, o filme se restringe a um grande filme de ação, com uma sequencia final monstruosamente agitada e violenta (a censura dar apenas 14 anos foi estranho) com uma batidíssima cena de sacrifício do herói.
Descrever a direção como um só é um tanto difícil, se tratando de um filme que apresenta uma boa parte de documentário. Mas sem dúvidas, o estreante é um ótimo diretor de ação. Não acrescenta nada muito revolucionário aos tipos de direção já existentes, mas registra tudo sem perder nada e só aumenta o ritmo. Sem parecer artificial. Outro quesito técnico que merece distinção é o visual do filme. O clima quente de Joanesburgo é bem capturado, e a fotografia nessas cenas externas é maravilhosa e quase consegue nos passar a sensação de calor real. Em cenas internas, o diretor de fotografia Trent Opaloch opta por um tom esbranquissado, o que cabe muito bem, mesmo já tendo sido usado antes em outros diversos filmes.
Uma observação técnica do filme também deve recair sobre os efeitos especiais. Com pouco orçamento, os efeitos tanto de naves como de seres extraterrestres são maravilhosos. Os detalhes dos ''camarões'', apelido dos seres, são ótimos, e não devem nada a muita superprodução por aí. Por falar nisso, em comparação com filmes de orçamento um pouco mais alto como Presságio, Distrito 9 se sobressai facilmente em relação aos efeitos. Tudo bem que sendo o dono da Weta o produtor do filme, os efeitos dos camarões devem ter sido feitos com um preço camarada.
Fica então o meu desejo de que esse filme tivesse sua parte do meio para o fim inteira refeita, pois é um tema muito bom, mas mal executado pela falta de coragem e visão a longo prazo de Neill Blomkamp. É uma pena. Mais um dos tantos lamentos cinematográficos.
TRAILER
Falaram um exagero em torno do filme, que é só bonzinho.
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