domingo, 14 de fevereiro de 2010

Entre Irmãos (Brothers, 2009)
Drama - 104 min.

Direção: Jim Sheridan
Roteiro: David Benioff

Com: Tobey Maguire, Jake Gyllenhaal, Natalie Portman, Sam Shepard

(Observação: essa resenha, precisa ser contada com o auxílio de spoilers... mínimos, mas importantes, já que eles são mostrados até no trailer)

Parece que virou moda, e não é uma moda recente, descrever os problemas e as insanidades da guerra no cinema. Só nos últimos anos (se esqueci algum, perdoem minha memória), tivemos Guerra ao Terror, Soldado Anônimo, No Vale das Sombras, O Mensageiro e Entre Leões e Cordeiros. Todos eles, de formas mais ou menos diretas focando-se nas questão dos traumas, e nas imbecilidades da guerra. Entre Irmãos, remake de uma produção dinamarquesa intitulada Brode (estrelada por Connie Nielsen, mais conhecida de Gladiador e Advogado do Diabo), é dirigido pelo competente Jim Sheridan (de Em Nome do Pai, Meu Pé Esquerdo e In America) é o mais novo exemplo desse tipo de filme.

Versa sobre a família Cahill, formada pelo Capitão Sam Cahill (Tobey Maguire), sua esposa Grace (Natalie Portman), seu irmão Tommy (Jake Gyllenhaal), as filhas do casal Isabelle e Maggie (Bailee Madison e Taylor Geare respectivamente), o pai dos irmãos Cahill, Hank (Sam Shepard) e sua esposa Elsie (Mare Winningham).


A história começa com o eminente embarque de Sam para o Afeganistão, e a saída da prisão de Tommy. Tommy e Sam, apesar de irmãos e próximos, são completamente diferentes. Amam-se mas são opostos. O cerne dessa disputa concentra-se a principio na relação conflituosa do personagem de Gyllenhaal com seu pai (Sam Shepard, fazendo o feijão com arroz). O pai, um antigo militar reformado não aceita os problemas e falhas do filho e questiona suas escolhas. Os dias seguem e a virada na história ocorre quando o helicóptero de Sam é abatido e ele é dado como morto. Tommy, quase que instintivamente “adota” a família do irmão e pouco a pouco cria laços poderosos com as sobrinhas e a cunhada.

Enquanto isso (spoiler alert) descobre-se que Sam não morreu, e a narrativa se divide entre o cotidiano da família nos Estados Unidos e as agruras no Afeganistão.

O filme discute então, até que ponto nossas escolhas, quais quer que sejam, afetam não somente a nós, mas principalmente aos a nossa volta. As vezes, tais escolhas são tão complexas que o resultado delas é “levado” em nossa consciência para sempre. Discute-se o fato de Tommy ter se envolvido com o crime, que afetou diretamente suas possibilidades de construir uma família, e se as escolhas de Sam realmente vão poder o trazer de volta “inteiro” para casa.


Sheridan é parcialmente feliz em suas escolhas. Erra quando divide a narrativa em suas partes, não exatamente pela idéia, que já funcionou brilhantemente em dezenas de outras produções, mas no tom. Todas as sequencias nos Estados Unidos, apesar de relevantes para a narrativa do filme, soaram para mim, estéreis. Não me senti tocado por aquela família, por aqueles momentos e apenas desgastou e impediu que a sequencia na guerra tivesse maior impacto emocional. Já essa sequencia no Afeganistão é bastante interessante, e apesar de curta resolve-se bem. Mostra os incidentes, conseqüências imediatas e abre espaço para a grande interpretação da vida de Tobey Maguire.

Maguire faz de seu personagem uma enorme bomba relógio, aparentemente inofensiva, mas com um timer girando a mil quilômetros por hora, louca pra explodir. E quando tal explosão acontece é um desbunde de talento. Se alguém duvidava da capacidade de Maguire na construção de personagens reais, bem longe da caricatura de Homem Aranha, assistam a esse filme e talvez mudem (eu mudei) a impressão do rapaz.


Gyllenhaal, que por metade do filme parece ser o personagem mais interessante, faz nessa primeira parte um trabalho bastante competente, mas não brilhante. A partir do momento em que Maguire “assume” o protagonismo, Gyllenhaal parece desistir da briga e relega seu personagem ao segundo plano.

Portman, excelente atriz, faz seu habitual, ou seja, competência+segurança+carisma. Ela da uma enorme carga de tridimensionalidade a sua personagem; já Shepard resume-se a interpretar o mesmo tipo que faz a anos: o velho militar durão mezzo grosseiro mezzo doce.

Sheridan, tecnicamente, também é outro que faz o simples. Não quer “criar a roda”, e limita-se a “botar os caras na frente da câmera e dizer ação”. Claro, que o faz com competência, mas esse não é um filme de tomadas marcantes ou de trabalho de direção para a história. É um filme sobre essas pessoas, esses personagens, e principalmente sobre essa situação.


O filme tem boa fotografia, a cargo de Frederick Elmes (que fez Hulk, Sobre Café e Cigarros, Sinedoque, Guerra das Noivas, Flores Partidas, Kinsey) e uma trilha sonora bastante eficiente (Thomas Newman de WALL-E, Soldado Anônimo, Foi Apenas Um Sonho, Desventuras em Série, Procurando Nemo, Luta Pela Esperança entre muitos outros), com uma música feita pelo The Edge do U2 que encerra o filme.

A real graça do filme, é o que acontece em sua metade final. É onde Sheridan finalmente acerta na mosca (e que fez ganhar uns pontos comigo), e quase faz esquecer a primeira hora irregular. Entre mortos e feridos ele escapa, mas por pouco.


Confiram pelo trio de atores (muito bons) e pelo tema, que apesar de batido nos últimos anos, ainda é eficiente e relevante

TRAILER:


5 comentários:

  1. Gostei bastante da sua resenha e concordo com a maioria dos seus comentários.
    O tema (traumas psicológicos que os soldados trazem das guerras) já está, realmente, ficando um pouco batido. Apesar disso, gostei muito de No Vale das Sombras, Soldado Anônimo e Guerra ao Terror é excelente.

    Sheridan realmente ficou um pouco perdido na primeira metade do filme, mas depois ele vai melhorando bastante.

    A atuação do Gyllenhaal é, denovo, muito boa, sou fã dele; e sempre gosto da Portman, talvez, um pouco, por ela ser tão bonita hehe.

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  2. Alexandre, como vai?
    Vou esperar esse chegar por aqui nos cinemas, ( o que está demorando demais pro meu gosto) ai irei conferir!

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  3. Felipe: Bem vindo, obrigado pelos elogios. Sheridan é meio irregular mesmo. Tem filmes excelentes e alguns meio "mais ou menos". Entre Irmãos, entra na segunda categoria em grande parte da projeção. A meia hora final melhora muito o filme.

    Jack: Demorando mesmo pra chegar. Inclusive essa resenha foi programada para ontem, em função do anúncio inicial da estréia para dia 12, porém ficou somente para Abril... nada como não ser indicado ao Oscar. Filmes independentes sem burburinho ou sem campanha do Oscar vão sendo jogados. Vide Dr. Parnassus (esse com indicações) que só chega aqui em maio.

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  4. Já li opiniões muito ruins sobre este filme, a sua nem é tanto assim, mas vem cheia de ressalvas. O problema de "Entre Irmãos", pra mim, é que o trailer contou tudo do filme. Nem me deixou ansiosa para ir assistí-lo no cinema.

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  5. Kamila: O trailer conta "quase tudo". A graça do filme é essa discussão entre quem fica e quem vai a guerra. Enfim, acho que funciona muito mais pros americanos do que pra gente.

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