quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Moon
(Moon, 2009)
97 min. - Drama/Ficção Científica

Direção: Duncan Jones
Roteiro: Nathan Parker

Com: Sam Rockwell e voz de Kevin Spacey

Há tempos circulava na internet o plot e uma ficha cinematográfica de Moon, curioso filme com Sam Rockwell, um cartaz fantástico (um dos melhores do ano) e um orçamento, de certa forma, ridículo: 5 milhões de dólares. Moon então foi falado em alguns festivais e estreou nos Estados Unidos e foi recebido com frieza pelo público. Ganhou apenas 4 milhões e meio, não podendo nem pagar marketing. Mas, após ver Moon, é um fato mais que compreensível essa bilheteria baixa. O primeiro filme do talentoso Duncan Jones, filho de David Bowie, é fantasticamente... cult. É o novo 2001 em quesitos de direção de arte e narrativa. Lenta, contemplativa, poderosa e sem entregar muitas surpresas, a narrativa de Moon é de fácil compreensão, porém difícil para o público se entregar a ela e ver o filme. O marketing ridículo que a Sony deu ao filme também é notável.

Aqui no Brasil, estreará direto em DVD e o pior: o teor do filme impossibilita MUITAS locadoras de não o comprar, deixando ele disponível apenas lá no exterior e aqui, para download. Além do que, Moon sofre do mesmo mal de Fonte da Vida: ele é mal vendido. Tão mal vendido que acredito que algumas pessoas foram ao cinema esperando um Star Trek. Mas, nada disso impossibilitou Duncan Jones e Sam Rockwell de fazerem um dos mais bonitos trabalhos dos últimos anos e, porque não, a sci-fi mais inovadora em 40 anos?



A trama, de uma simplicidade tocante e uma temática atual e verossímel, conta a história de Sam Bell (Sam Rockwell), um operário que trabalha na Lua, numa espécie de Estação Espacial. Ele colhe Helium-3 para sua empresa, a Lunar Industries, uma gigante da energia que, com essa energia da Lua, abastece 70% do Planeta. Mas, lá na Estação, Sam não vê a hora de voltar pra casa. Seu contrato de 3 anos com a empresa está acabando e ele está perto de seu sonho. Mas, coisas estranhas começam a acontecer e GERTY (a voz icônica de Kevin Spacey), seu amigo robô, o tranca dentro da Estação para segurança. Mas, depois de um pequeno plano, Sam consegue burlar a segurança de GERTY e faz uma descoberta. No mínimo, intrigante. E isso o deixa cada vez mais paranóico e doente. O desenvolvimento dessa trama é interessante porque introduz um suspense psicológico, sem se esquecer do sci-fi competente. E aqui cabe uma dica: Não espere reviravoltas, não espere um filme comum de suspense e não espere, DE JEITO NENHUM, um filme com ação.

Nos quesitos técnicos, Moon surpreende demais. Um filme que recebe o orçamento de 5 milhões é um drama ou um filme independente underground sobre algum tema forte. Mas, Duncan Jones é mais que isso, ele é corajoso. Com poucos recursos, ele faz uma direção impressionante, lembrando Stanley Kubrick. Takes parados, contemplativos, que exploram o ambiente sem esquecer dos atores. Se o mundo do cinema fosse justo, Duncan merecia figurar, pelo menos, nos 10 nomes a serem lembrados pro Oscar. Talvez não indicado, mas pelo menos lembrado. É um diretor a ser acompanhado daqui pra frente, sem dúvida. A edição de Nicholas Gaster é simplista, o ponto fraco do filme. Ela se baseia na mania dos anos 70: o fade in e o fade out. É apenas na média, mas não atrapalha a mensagem do filme.


A fotografia de Garry Shaw é inspirada, valorizando os tons brancos do ambiente e a superfície lunar, feita a base de maquetes. Mas, dois fatores do filme merecem ser destacados o máximo possível. O primeiro é a direção de arte de Hideki Arichi e Josh Fifarek, que é sensacional. Os cenários criados pela dupla são curiosos, críveis e fabulosos. A predominante cor branca da estação, os aparatos eletrônicos e as roupas de Sam impressionam pela beleza. GERTY também é uma criação competente dos artistas, sendo verossímel e interessante. O segundo ponto é a trilha sonora, do genial Clint Mansell. Mas uma vez ele cria um trabalho memorável, um dos 20 de sua lista. Bem trabalhada e com seu ritmo neo-clássico, a trilha de Mansell é fantástica pro filme e fantástica sem ele, aquela típica trilha que você compra o CD.

As atuações de Moon são notoriamente curiosas. Sam Rockwell é praticamente o único ator do filme e é o único com relativa importância. Claro que tem GERTY também, mas o adorável robô não vale. O resto dos atores só aparecem por pequenas telas, vistas da estação Sarang, a na Lua.


Voltando a Rockwell, o ator britânico arrebenta. Seu jeito esquisito, como se não estivesse nem aí pra nada, é explorado na primeira metade do filme. Quando virem Moon vocês entenderão porque.Na segunda parte do filme, ele embarca numa atuação espetacular, de uma forma meio bruta até, transformando-se num cara mais violento, enérgico. A atitude calma muda. Já Kevin Spacey faz seu trabalho de forma breve. Sua voz em GERTY é intrigante, dando uma áurea confortadora e misteriosa sobre a máquina.

O rorteiro de Moon é impressionante. O trabalho de Nathaniel Parker sobre a ideia de Duncan Jones é tocante. Um debate psicológico que usa um contexto muito atual pra ilustrar o mundo perfeito que o ser humano criou com a tal tecnologia. Um grande reflexo disso são os dois primeiros minutos do filme, de tirar o fôlego. Existe até a possibilidade do espectador gostar menos do filme comparando-o aos primeiros minutos. Um rápido e brilhante modo de explicar o mundo. Outra sacada de roteiro boa é não dizer em que época estamos. Com isso, a liberdade de efeitos é maior, podendo criar coisas mais inverossímeis com explicações críveis. Curiosamente, pela falta de verba ou por ser desnecessário, o filme não se excede e é peça de convencimento como poucas, mostrando uma Lua verdadeira e aparelhos que não são difíceis de acreditar.


Já nos diálogos, travados por Sam Rockwell e GERTY, há uma precisão interessante. O tom de humanidade que o roteiro impõe a GERTY é inovador e bem executado. A própria criação do personagem é uma mais-valia para o filme. E, se todos podem ter uma certa desconfiança sobre GERTY ser igual a HAL 9000, de 2001, ela é coerente porém inválida. GERTY tem muito mais emoções e é ligado emocionalmente com Sam, o que mostra uma bonita relação de amizade. Por criar criativos personagens e excelentes situações, o roteiro de Moon é um grande destaque.

Já que o orçamento de Moon é baixo, se esperaria um filme bem feio, mal-feito. Mas, incrivelmente não é. A já citada direção de arte se soma a uma criatividade enorme. Se dentro de Sarang o visual é lindo, fora dela não está devendo nada. Apesar de ser claramente uma maquete, o solo lunar é muito rico em detalhes e é decente, bem-produzido. E, além disso, existem efeitos especiais no filme. Alguns são de uma riqueza impressionante (como a Terra vista no espaço ou a escavadeira na Lua), mas outros são fracos, meio toscos até (como a nave saindo da estação), o que lembram o quanto o filme é barato. Mas é incrível o que se pode fazer com tão poucos recursos.


Estranho, filosófico, pesado e bem científico, Moon é uma sci-fi como poucas. Não tem o entretenimento e diversão de Star Trek, não tem os magníficos efeitos de Avatar, mas tem a simplicidade de roteiro de um 2001 ou Solaris. Isso deve conquistar a todos que esperam um filme científico bem politizado e diferenciado. Uma grande prova de sua didática em relação ao mundo é o já citado primeiro minuto, o que certamente fará o espectador ficar até o final no filme. Um filme difícil, que merece mais ser visto que muito blockbuster por aí. Um trunfo de Duncan Jones. Que seu próximo projeto lance logo e nos cinemas.

 (Obs: Não vamos colocar o trailer desse filme, pois ele entrega uma parte importante da trama).
 

Um comentário: