sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


Pi (Pi, 1998)


Direção: Darren Aronofsky

Com: Sean Gullette

Um estudante de cinema de 28 anos com muitos amigos e conhecidos da faculdade conseguiu 100 dólares de cada um e juntou 60.000 para um filme, com uma história dele próprio, um amigo ator chamado Sean Gullette e seu outro amigo produtor, Eric Watson.

Então, ele realizou o filme, conseguiu uma distribuição nos EUA e lançou em Sundance. Seu projeto se chama Pi e chegou no Brasil em 2002, "apenas" 4 anos depois do seu lançamento americano. Obviamente, Pi chegou no Brasil por causa do segundo filme do estudante(agora cineasta), Requiem para um Sonho, que chegou aqui em 2001.




Esse estudante se chama Darren Aronofsky, um dos maiores diretores vivos (o maior, na opinião do humilde crítico aqui). Esse gênio contemporâneo já demonstra todo o estilo de direção que o fez famoso em Requiem e, posteriormente, em Fonte da Vida e O Lutador. Mas não apenas a direção se sobressai. O roteiro de Aronofsky (apenas a história é dos três acima citados) é preciso e, apesar do nível psicológico da trama, ela não se excede demais, mantendo apenas o padrão pesado dessas produções. Pi impressiona pois ser como Cães de Aluguel: representa um talento bruto, sem estar lapidado, sem alguns caprichos de produtores e com mais liberdade criativa.


A trama costurada de forma diferente, o que pode causar estranheza, apresenta Max Cohen (Sean Gullette), um matemático talentosíssimo, mas que corre sérios riscos por sua total imersão no trabalho. Ele tem transtornos, está sempre ansioso e com sangue no nariz. Suas doenças podem piorar se essa imersão continuar e suas enxaquecas não param de aparecer. Mas, ele continua com a cabeça num intrigante enigma: Ele acha que encontrou em Pi, número que representa qualquer circunferência, um padrão pra qualquer coisa na natureza. Das árvores num parque até o ciclo da Bolsa de Valores. Então, ele começa a acertar até as previsões mais difíceis sobre a Bolsa e é identificado por um tubarão do mercado de ações, que oferece um prêmio tentador para Max continuar tentando acertar. Mas, há obstáculos. Seu amigo matemático, Sol (Mark Margolis), acabou tendo um derrame com essas tentativas de achar Pi no Mundo. E, cada vez mais, Max começa a reavaliar sua situação, se vale a pena ir até o limite.





Isso já se prevê uma história difícil de acompanhar. E está correto, apesar da coisa só piorar com o tempo. Aronofsky introduz delírios psicóticos e uma montagem rápida em algo já difícil de se acompanhar. Mas, para a surpresa de todos, isso ajuda. E muito.

Nos quesitos técnicos, Pi é excelente, ainda mais sendo um filme independente. A direção de Aronofsky é o melhor do filme, o grande atrativo. Os impressionantes efeitos de montagem (que o fizeram ganhar fama de clipeiro para alguns desavisados) e sua direção segura auxiliam o espírito do filme, bem sombrio. Alguns takes parados de Aronofsky lembram bastante os de um gênio, Stanley Kubrick. As tomadas que pegam o núcleo do PC de Max Cohen são parecidos com qualquer take de Kubrick, o que torna Aronofsky um cineasta impressionante. Aqui, é sua direção mais segura, porém não é a melhor.




A fotografia de Matthew Libatique, outro estreante, é notavelmente bela. Altamente contrastada, a fotografia em Preto e Branco é bonita e bem interessante. Um ótimo exemplo da falta de recursos que auxilia no final das contas. Desde já Libatique demonstra ser um competente fotógrafo, mas é uma pena que ele nunca tenha igualado esse trabalho.

A edição de Oren Sarch é muito boa também, auxiliando a direção de Aronofsky no Hip-Hop Montage e dando ritmo bom ao filme quando as cenas são paradas. Mas, outro fator de destaque é a trilha sonora. E já está até chato falar que Clint Mansell fez um trabalho soberbo, perfeito. Ele simplesmente arrebenta em sua estreia como compositor. Apesar de tardia (Mansell tinha 36 anos), a estreia é igualmente poderosa a suas trilhas atuais. Não é uma trilha de Requiem para um Sonho, mas é fantástica. Gênio.





Sean Gullette, ator amador e amigo de Aronofsky, faz um trabalho imensamente poderoso. Seu Max Cohen é neurótico, inteligentíssimo, transtornado e desesperado. Impressionante, uma pena que Sean tenha absloutamente SUMIDO. Ele é um ator talentosíssimo. No drama, ele atua bem. Mas quando surge o psicótico, Sean some no papel. Interessante. Mark Margolis, no papel de Sol, também atua bem. Seguro, apesar de seu pouco tempo de tela, Margolis conduz seu papel com destreza e serenidade. Outro que merece citação é Ben Shankman, o Lenny Meyer, que introduz Max na Kaballah. Ele atua bem, na média e não compromete seu relativamente grande tempo de tela.

Por isso é difícil de falar de Pi: Além de amadores, os atores não são muito valorizados quando se sabe que o filme é de Gullette. Ele é a película, o protagonista, o sentimento, o âmago do filme. E, por isso, ofusca os outros com certa facilidade.





O roteiro de Pi não decepciona. Aronofsky é refinado e constante no roteiro, sem deixar o filme ficar entediante. Ele até cai de ritmo em certa parte, mas nada que prejudique o fantástico resultado final. Os diálogos, inteligentes e estimulantes intelectualmente, são precisos e só são travados quando é necessário, o que dá uma bela sensação de que o diretor faz questão de seguir a regra dos mestres: Apenas explicar o que uma boa imagem não pode mostrar.

A estrutura também é competente, demonstrando a habilidade de Aronofsky em criar tramas complexas e até prolixas. Aqui, novamente, deve ser exaltado o talento do gênio, afinal Pi é baseado apenas em suas ideias e de seus amigos, sem ser adaptação de livro (Requiem) ou roteiro terceirizado (O Lutador). É claro que Aronofsky deixa sua marca em cada um desses filmes e sem dúvida o resultado final fica melhor que o planejado, mas indiscutivelmente tem que se elogiar uma criação própria e independente. Quando o ritmo do filme cai, não é culpa toda do roteiro e sim das saídas que eram possíveis. O "caminho" do filme premeditava uma diminuída no ritmo e isso é compreensível. Num balanço final, o roteiro é brilhante.





Interessante e lisérgico, Pi impressiona e assusta a audiência. Um suspense psicológico com pitadas de ficção-científica que causa admiração na crítica em geral. Nos grandes festivais, o filme também foi bem recebido, mesmo sendo tão estranho como é. O tenso filme foi um ótimo ponto de partida para Aronofsky, que faria filmes muito melhores posteriormente. E um parabéns particular a Europa Filmes por ter trazido um filme independente como esse para o Brasil. Mesmo com o atraso, é digno de aplausos.

Quem puder, compre o filme para apreciar esse talento genioso num ponto cru, em sua estreia. Sensacional, um filme para ver antes de morrer.

E uma última curiosidade, para ajudar o espírito do filme: A minutagem do filme é 1 Hora, 23 Minutos e 45 Segundos. 1:23:45. Acredite no Caos. =)

6 comentários:

  1. Já assisti ao filme e não me encantei tanto com ele. Encaro "Pi" como um rascunho de "Eraserhead".

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  2. Ai está um cineasta que não me chama atenção!

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  3. Não vi esse filme, mas tenho vontade por se tratar de uma obra de Aronofsky.

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  4. Eu adoro o Aronofsky, e é quase um pecado eu não ter visto Pi ainda.

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  5. O Pi é excelente, mas é a obra menos melhor de Aronofsky. Quem não conhece vale a pena correr atrás dos filmes dele porque ele é genial.

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