terça-feira, 24 de agosto de 2010

Diário de um Banana
(Diary of a Wimpy Kid, 2010)
Comédia - 94 min.

Direção: Thor Freundenthal
Roteiro: Jackie Filgo, Jeff Filgo, Gabe Sachs e Jeff Judah

Com: Zachary Gordon, Robert Capron, Chloe Moretz, Rachel Harris e Steve Zahn

Existem filmes ruins e existem atrocidades.Filmes ruins são aqueles que não funcionam: que são mal feitos, que encontram no meio do caminho uma série de problemas ou que apresentam um resultado final extremamente infeliz.Já as atrocidades são aqueles filmes que lhe dão raiva. Assim, curto e grosso. Seus olhos não conseguem captar tamanha imbecilidade, e seu cérebro tenta não processar as informações que o "filme" apresenta.

Diário de um Banana (dirigido por Thor Freudenthal) infelizmente se enquadra na segunda categoria. Na tentativa de retratar o livro de Jeff Kinney, optou por apresentar uma jornada de "herói", com todos os ditos passos para a consolidação de personagem.O problema é que o personagem do garoto Greg (vivido pelo fraco e pedante Zachary Gordon) é um dos protagonistas mais fracos da década. Retratado como uma criança-adulta, chatíssima e cheia de neuroses (quero ser popular é a principal) é um erro do começo ao fim. A interpretação de Zachary não ajuda também, já que o ator mirim retrata as aventuras de seu personagem (que são o "roteiro" do filme) com grau de seriedade que não combina com o tom de tentativa de sátira que o filme apresenta.


Tentativa sim, pois no frigir dos ovos, Diário de um Banana é uma cópia sem nenhum gosto da série de TV Malcolm (que chegou a passar aqui) sem o mesmo humor anárquico e bizarro da série. No filme, tudo acontece como uma grande jornada de amadurecimento modorrenta, tendo como "guia" um pedaço de queijo apodrecido jogado num canto do pátio da escola do garoto. O diretor usa e abusa das passagens de tempo ilustradas pela "evolução" do queijo podre. Algo que Alfonso Cuarón (só pra ficar no universo pop) ilustrou com grande felicidade em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. No filme do bruxo era uma árvore que servia como "relógio". Em Diário, o mal encarnado (e principal "aventura" do filme) é o fato dos alunos não poderem tocar no tal pedaço de queijo, com a pena de serem tachados como párias sociais.

Duas coisas: sim, é uma obra pré-adolescente, mas imagino que os garotos e garotas dessa idade não sejam tão tacanhos a ponto de comprar esse tipo de mote narrativo. O outro problema é que o filme reforça os estereótipos da escola moderna. Um campo de batalha selvagem, onde todos devem ser invisíveis para atravessarem os perigos do dia a dia. Revela que no fundo - ou nem tão fundo assim - o filme diz mais aos adultos do que a molecada.


Somos nós que cultuamos essa idéia doente de que a escola é uma piada ambulante ou uma série de provas complexas que formam nossos traumas, medos e alegrias eternos. Nos Estados Unidos, e seu interminável culto ao "ser popular" isso ainda é mais evidente.
Se o filme tentasse usar a força do cinema para discutir de forma ácida esse problema seria um tremendo sucesso. Como o preguiçoso diretor optou por apresentar o pseudo-crescimento de seu "herói", o filme entrou - muito embaixo - na vala comum dos filmes ordinários.

Recheado de piadas sem um pingo de originalidade e graça, o filme só não é pior - se é que é possível ser - pois apresenta em alguns momentos os traços do próprio livro original para ilustrar algumas passagens.

Conversando com gente que leu - ou conhece a obra - ficou claro para mim que o sucesso da publicação deveu-se a seu formato. O livro é um diário que cobre acontecimentos do dia desse garoto. Freudenthal e sua equipe de quatro roteiristas (Jackie Filgo, Jeff Filgo, Gabe Sachs e Jeff Judah) transformou cada pequeno evento comum em um épico de proporções gigantescas. Tudo é exagerado e se a idéia era ser engraçado e brincar com isso, foi muito mal sucedido.


O filme, no máximo gera risos nervosos e de vergonha alheia pelas situações. Notem a seqüência de dança ao som de Intergalatic dos Beastie Boys e tentem entender a necessidade daquilo. Qual o objetivo? Retratar o personagem mostrado como uma criança completamente bobalhona? Qualquer que tenha sido a idéia, falhou.

Outra falha gritante e irritante é a caracterização dos personagens como estereótipos estúpidos. Novamente, se estivéssemos falando de um filme satírico de alguma qualidade (South Park, a série de TV faz isso muito bem por exemplo) seriam tiradas inteligentes e uma fonte de piadas. Mas como tudo se encaixa num ambiente real e embalado pela jornada angustiada, os estereótipos só reforçam a má qualidade do texto.

Estão lá desde o irmão mais velho raso e acéfalo, os pais preocupados mais desligados, a menina que quer ser popular a todo custo (e que usa até trancinhas), a garota inteligente e "cool", aparentando ser muito mais velha que os demais (essa vivida pela atriz sensação: Chloe Moretz), o estranho garoto com problema de higiene e o amigo que não cresceu, que numa análise mais profunda, representa o que nós, mais velhos, imaginamos como o ideal para uma criança daquela idade.


Explicando melhor: o filme trata de crianças de uns 10 ou 12 anos de idade. Nós, e isso é visível em qualquer programa de TV ou jornal, vivemos vociferando que a infância de hoje é "adulta" demais. Tem preocupações e faz coisas (incluindo sexo) que quando tínhamos a idade referida nem imaginávamos ter. O que o filme apresenta é justamente um personagem assim. Uma criança, com defeitos de criança e que deveria brincar e se divertir. O problema do filme é que o garoto é mostrado como um ideal, como o verdadeiro herói.

Mais uma prova da falha medonha do roteiro. Imaginar em plena era da informação que as crianças sejam como éramos é de uma infantilidade atroz. É um traço de moralismo bobo e que tenta catequizar os mais novos mostrando que no fundo, bom mesmo é ser bobalhão e nunca crescer. Não que concorde com garotos e garotas mini-adultos (irritantes e metidinhos) mas elas são reflexo de nossas sociedades ocidentais, e por conseqüência direta de nós mesmos.

Ao apresentar esse tipo de análise sobre o ideal infantil, caímos no golpe do julgamento de valores que nós mesmos sofremos quando tínhamos menos idade. Ou você acha que sua mãe, ou seu pai acham mesmo que sua infância foi melhor que a deles?


Diário de um Banana, no contexto, presta um desserviço em várias esferas. Não funciona como comédia rasgada ou mesmo irônica. Ainda apresenta estereótipos infelizes que só ajudam a reforçar preconceitos e que nem dão graça e por fim tenta cooptar para a causa as crianças de hoje.

Bom ou ruim, certo ou errado, mas faça a seguinte pergunta a uma criança de uns 12 anos. O que ela prefere: mexer no ipod ou no computador ou brincar na rua? A resposta da imensa maioria é meio óbvia, pena que o filme não percebeu essa obviedade e se adequou.


2 comentários:

  1. Olá Alexandre, de fato o filme não vem a ser nenhum fenômeno. Assisti sem saber ao certo do que se tratava.

    Para minha surpresa eu gostei, achei que lembrou muito os típicos filmes de sessão da tarde, de antigamente.

    Mas não é grande coisa não, assisti e me diverti!

    Mas no entanto é só minha opinião!

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  2. Grande Barão, bom te ver por aqui. Eu não consegui (mesmo) gostar do filme, mas concordo com vc que ele tem uma "pegada" sessão da tarde

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