sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Runaways
(The Runaways, 2010)
Drama - 105 min.

Direção: Floria Sigismondi
Roteiro: Floria Sigismondi

Com: Dakota Fanning, Kristen Stewart e Michael Shannon

Runaways pode ser analisado como um rito de passagem para as duas atrizes protagonistas (Dakota Fanning e Kristen Stewart), como mais uma cine biografia sobre os excessos de uma década e um trabalho razoável da egressa dos vídeos-clipe Floria Sigismondi.

A história, como todos devem imaginar, fala da formação da The Runaways, a mais importante banda feminina da história do rock. Por suas fileiras estiveram duas lendas do rock'n'roll: Joan Jett e Lita Ford.

Lita no filme é um fantasma, mostrada como uma megera sem alma e extremamente sem graça. Culpa também da inexpressiva Scout Taylor-Compton, que transformou sua personagem numa menina chata e que vive aos berros.


Joan Jett, imortalizada pelo hit "I Love Rock'n'Roll" é um dos "guias" do filme. Por seus olhos e pelos olhos da vocalista original da banda Cherrie Currie, vulgo Cherry Bomb, é que o filme é contado. Uma escolha óbvia da roteirista (também diretora), já que Jett foi uma das produtoras e o roteiro (também de Flora) é baseado no livro de Cherrie "Neon Angel".

Outro personagem importantíssimo abordado pelo filme é o produtor Kim Fowley, retratado como um capataz sanguinário, sempre em busca do sucesso a qualquer preço.

Falemos do filme em si: o que nele funciona com enorme sucesso é seu conjunto de atores principais. Michael Shannon surge visceral e imundo, olhar injetado, como se tivesse atuando sob efeitos de narcóticos compondo um produtor obcecado, que trata suas "meninas" como um sádico coronel, com direito até a um "treinamento de guerra". Ainda sobre Shannon e seu personagem é preciso destacar que a falsa libertação sexual promovida pela banda, no filme é retratada como um plano ardiloso de seu mentor.Em nenhum momento o filme entende que o visual e a atitude são obra das Runaways. A transformação gradual da banda em fetiche é obra de Fowley, e as garotas embebidas pelo sucesso fácil e rápido embarcam sem muito pensar.


O quanto disso reflete a realidade é algo que pessoalmente não sei, mas que combinou com a proposta do filme em ser um retrato de um grupo de garotas perdidas e que acham um "norte" ao fundarem a banda.

E a dupla de protagonista que tanto é famosa e amada e odiada em proporções quase iguais? Sai-se muitíssimo bem, e conseguem transformar seus personagens em dois lados da mesma moeda do rock.

De um lado Dakota Fanning compõe Cherrie como uma garota comum, mas que sempre quis ser mais do que via a sua frente em suas oportunidades. Quando surge como Cherry Bomb, o alter-ego, é uma explosão de sexualidade. A menina "come" a câmera com seus olhos azuis (que a diretora faz questão de ressaltar) e convence como mulher. Veremos Dakota com outros olhos agora.


No outro corner , o amálgama da roqueira sexy: a roqueira de atitude. Além de fisicamente Kristen e Joan serem realmente parecidas, a garota abre mão da persona "crepuscular" e apresenta seu personagem como um bichinho selvagem e agressivo, alguém que não conseguiria ser outra coisa caso não empunhasse uma guitarra elétrica.

O problema é que Floria constrói um arco dramático raso com passagens infelizes e onde tudo acontece de maneira mágica e muito rápida. Perde-se um tempo considerável com "viagens"´narcóticas e uma tensão sexual que não passa de uma curiosidade (pelo menos na tela) e não se aprofunda personagens ou transforma o plot principal em uma história realmente interessante. Não nos importamos com aquelas meninas que apesar de bem caracterizadas são atiradas numa trama que não sai do lugar.

Tudo é muito raso e a exceção das duas protagonistas, o restante da banda poderia ser substituído por cones que não fariam a menor diferença. Uma falha grosseira, que filmes como Doors e até mesmo a bobagem chamada Rockstar tiveram um pouco mais de cuidado. No primeiro, ouve um ligeiro aprofundamento em todos, e no segundo todo mundo era raso o que evitava esse declive nas atuações.


Floria pelo menos teve a inteligência de não inventar na fotografia (Benoit Debie de Vinyan é o responsável), que é inteligente e muito boa. Mostra trechos de shows (uma pena não termos uma música inteira no filme) que são reproduções felizes da realidade - em especial no show no Japão - e uma seleção musical inspirada- o que também é uma obrigação dada à temática do filme.

As meninas - falando em trilha - convencem razoavelmente cantando. Dakota sai-se melhor, mas Kristen, e seu tom grave não chega a fazer feio. Dizem que elas tiveram aula com as verdadeiras interpretadas, o que pôde talvez, aumentar a similaridade entre as atrizes e seus personagens.

O que será de Kristen Stewart e Dakota Fanning daqui para frente? Kristen deve repetir Bella nos próximos dois filmes da série Crepúsculo, e tem um drama com James Gandolfini bem elogiado. Além disso estará em On the Road sobre Jack Kerouac. Ou seja, tenta desvincular sua imagem da série de vampiros brilhantes e buscar seu espaço como atriz de mais de um papel. Dakota por sua vez foi uma atriz mirim de grande sucesso, e assim como sua companheira estará nos dois últimos filmes de vampiro. Depois disso uma incógnita. Tem dois projetos em desenvolvimento mas sem grandes detalhes ventilados até então.


Pelo menos, o irregular Runaways serviu para o planeta perceber que: as meninas crescem e fazem coisas pervertidas (como nós) e que as duas atrizes juvenis (agora mulheres) têm condições de irem além de suas personas estabelecidas até então.

Um comentário:

  1. Estou doido por The Runaways, mais o filme nunca chega nos cinemas brasileiros, apenas adiado, espero estar vivo para ver nos cinemas, hahaha.

    Boa crítica!

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