domingo, 17 de janeiro de 2010

Vício Frenético
(Bad Lieutenant: Por of Call - New Orleans, 2009)
Drama - 122 min.

Direção: Werner Herzog
Roteiro: William M. Finkelstein

Com: Nicolas Cage, Val Kilmer, Eva Mendes, Jennifer Coolidge, Fairuza Balk, Brad Dourif

Antes de começar a resenha, é necessário dizer que apesar de mesmo título e premissa levemente semelhante, Vício Frenético de 2009, em quase nada se assemelha a versão de 1992 idealizado pelo genial Abel Ferrara.



Dito isso é preciso começar dizendo que Werner Herzog , ao final de Vício Frenético, nos coloca contra a parede e nos pergunta: como podemos criticar ou avaliar uma situação se todos nós, de alguma forma ou de outra, estamos ligados aos mesmos problemas que criticamos. Foi assim que vi e outros podem ter visto de forma diferente.



No entanto, tenho certeza, que todos que viram (ou que ainda verão o filme) vão concordar quando digo que essa é se não for a melhor, é uma das três maiores atuações da vida do ressuscitado, Nicolas Cage.


Sua personificação como o tenente Terence McDonagh é impactante e realmente poderosa. Ele cria o perturbado, cínico, ácido, maldito, cruel, amargo, inconstante detetive com enorme felicidade. Terence é o “herói” que amamos odiar, que somos obrigados , quase a fórceps, a aceitar como mola propulsora nessa história doentia de crime, vício e redenção torta. Ele constrói o personagem carregando os tiques de interpretação, num exercício de over-acted impressionante. Quando ele olha parece não olhar, sem foco, sempre observando um ponto desconhecido entre o objeto e o vazio. Fora a sua postura torta, caída, deixando claro o que os excessos (físicos e mentais) causam a seu corpo.



A história versa sobre o tenente vivido por Nic Cage, que é encarregado da investigação dos assassinatos de uma família de imigrantes ilegais vindos do Senegal que de alguma forma estevam envolvidos com o tráfico de drogas. O problema é que Cage não é o que podemos identificar como poço de valores e de boa conduta. Ao mesmo tempo em que investiga o crime, ele não pensa duas vezes ao entrar na sala de provas e dar um jeitinho para que drogas apreendidas em batidas policiais "sumam".


Essa história se passa na bela e quente (em todos os aspectos) Nova Orleans, logo após o furacão Katrina que devastou a cidade.


Esse fator é fundamental na compreensão de alguns elementos chave do filme de Herzog. A cidade exerce o papel de um personagem tão ou mais importante do que todo o bom elenco encabeçado pelo já citado Cage.



Dentre eles Val Kilmer cumpre seu papel, em mais um papel discreto o que vem sendo sua o habitual em sua carreira nos últimos anos; Eva Mendes linda e bastante convincente; Jennifer Coolidge (que o leitor conhece de comédia americanas “bestinhas” como American Pie) constrói uma excelente personagem; Brad Dourif (o Grima Lingua de Cobra da série Senhor dos Anéis) é outro que se sai bem apesar de ter um papel pequeno.


Herzog por sua vez não apresenta nenhuma grande inovação técnica (apesar das câmeras grudadas nos répteis que observam a ação em alguns momentos, filmada com câmera de mão ou presa aos répteis e em 16 mm), mas para um mestre como Werner, inovações técnicas ficam a segundo plano quando seu objetivo é ser incisivo e apresentar uma boa história.


Sempre brilhante na condução de atores, ele consegue a crueza necessária para com que a história nos prenda e nos transporte para aquela realidade.


Outro mérito do diretor é conseguir fazer com que torçamos para que o personagem principal, apesar de todas as suas falhas morais, ainda pareça ser interessante e diferenciado mesmo entrando no “hall” dos anti-heróis.



Vício ainda apresenta outras questões igualmente interessantes. A análise da corrupção como algo intrínseco ao ser humano, e a possibilidade do vício transformar uma realidade em uma complexa imersão num redemoinho de desilusões, confusões e traições.


Herzog “brinca” com essas questões e não nos oferece soluções fáceis sobre a moralidade dúbia que nos apresenta. O diretor tem um olhar estrangeiro sobre a situação e esse distanciamento emocional é benéfico para que o espectador consiga ver “todo o quadro” e ter a possibilidade de , apesar das falhas morais dos personagens, ver todos os aspectos de suas personalidades; mérito do diretor por não apostar nas soluções maniqueístas.


Diferente da obra-prima de Ferrara, mas igualmente forte e poderosa Vício Frenético é sim uma obra para entrar na lista de grandes obras desse genial alemão, chamado Werner Herzog.

TRAILER:


2 comentários:

  1. Deixei mais um selinho para equipe, fiquem a vontadem em aceita-lo ou nao e também em seguir as regras

    bjo

    Júnia

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  2. Finalmente, um filme que presta do Sr. Nicolas Cage para a gente conferir!

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