Amelia
(Amelia, 2009)Drama - 111 min.
Direção: Mira Nair
Roteiro: Ronald Bass e Anna Hamilton Phelan
Com: Hillary Swank, Richard Gere, Ewan McGregor
Filmes biográficos costumam se dividir entre dois grandes grupos: os que apostam na transformação do ator/atriz que interpreta o biografado e os que apostam no melodrama como forma de atingir diretamente as pessoas. Entretanto, não é incomum que as duas “receitas” se entrelacem. Afinal, Ray (por exemplo), contou com Jamie Foxx incorporando Ray Charles e ainda assim apelou para o melodrama. Outro exemplo é Touro Indomável, onde é impossível esquecer a transformação de DeNiro em LaMotta (para detalhes sobre o filme, leiam o texto sensacional do Fabio no blog Dr.Frame) e mesmo assim Scorsese usa do melodrama (e a palavra, apesar do que muitos pensam não é pejorativa) para contar a história sofrida e doentia de seu personagem. Ambos são exemplos de boas biografias (Ray menos) que foram ancoradas nessa mistura.
Existem outros que preferem apostar em apenas um dos quesitos. Essas geralmente não se saem tão bem, pois é quase obrigatória a necessidade do público em ver retratado na tela alguém que consigam gostar, entender, ou mesmo odiar. A frieza de uma recriação se não for amparada por uma boa história não funciona. E vice-versa. Não adianta nada uma excelente história se o biografado pouco tiver a ver com o que é retratado. Mesmo nos casos mais herméticos (Não Estou Lá, entra como um dos maiores representantes disso) a identificação do personagem é necessária.
E pra que eu escrevi dois enormes parágrafos de teorias saídas da minha cabeça, se a resenha fala de Amelia?
Simples. Amelia se enquadra no entrelace entre os dois elementos mais comuns em biografias, porém com resultado que beira o catastrófico.
A começar pela caracterização. Se você conhece Hillary Swank (que interpreta Amelia Earhart) sabe que a atriz é capaz de Meninos Não Choram, Menina de Ouro e Dália Negra como também é responsável pelos medonhos O Núcleo, O Dom da Premonição e A Colheita do Mal. Ou seja, apesar de dois carecas na bolsa, a atriz é irregular. E irregularidade é o que marca a caracterização da aventureira Amelia Earhart, a primeira mulher a atravessar o oceano atlântico de avião. Em momento algum vemos “alguém”, vemos ações. Ela quer voar, e pronto, voa. Ela se envolve com o personagem de Gere (mal desde O Vigarista do Ano) e sem motivo algum (simplesmente por que se encheu?) muda de idéia e flerta com o personagem de McGregor (estranho vê-lo num filme tão ruinzinho), que é pai do pensador Gore Vidal.
Aliás, o filme mostra em três cenas absurdamente desnecessárias, o suposto “amor” de Amelia pelo garoto. Se Amelia gostava de Gore, tudo bem, mas isso (no filme) ficou jogado. Não existe, novamente, uma motivação convincente.
Outro grande problema é a opção da diretora Mira Nair e dos roteiristas Ron Bass e Anna Hamilton Phelan, em usar um determinado evento da vida de Amelia (apesar de biografia, não vou contar o que acontece) como linha inicial de narração, entrecortando com uma infinidade de flashbacks, retratando o passado da protagonista. São muitas datas, lugares, e eventos que poderiam ser amarrados de forma linear que não fariam a menor diferença. História a serviço de estilo.
O roteiro também falha ao ignorar completamente a infância e adolescência de Amelia (que é retratada em uma mísera cena, que “explica” o seu amor pela aviação) e apresentar a personagem adulta e “pronta”. Não que isso deva ser uma obrigação, mas nesse caso fez falta, já que se a opção de Nair (clara) é apostar no melodrama, nada funcionaria melhor do que mostrar o desenvolvimento da personagem (mesmo que nos já “xingados” flashbacks), o que causaria uma melhor identificação dela com quem vê.
Amelia parece quase robótica, e os eventos de sua vida são contados quase como um jogral (alguém ainda lembra disso?). “Dia tal, ela fez isso” e assim sucessivamente. Tudo fica jogado, e nesse caso seria muito mais interessante, recorrer a internet e procurar na Wikipédia os feitos da aventureira.
Tecnicamente o filme faz o feijão com arroz (sem sal ainda por cima) quando aposta em tomadas aéreas, e peca muito ao apostar numa sucessão ridícula de “nuvens” que mostram como o céu e lindo e como (para a personagem) voar é um sonho. Gratuito, chato e mal-feito.
No terceiro ato do filme, a diretora aposta numa tentativa infeliz de criar tensão que é tão bisonha que dá sono, além de apresentar uma das piores atuações de uma "equipe militar" que já vi num filme americano.
Mira Nair perdeu uma grande oportunidade de transformar a vida de Amelia em um produto visual interessante e que despertasse o interesse no público de conhecê-la mais. Toda grande cine-biografia deveria despertar isso em seu público. Como Amelia passa longe disso, natural que entre para o infame hall dos filmes medíocres.
Eu ainda não assisti a esse filme, mas há algo nele que realmente me faz pensar que não seja mesmo bom. De algum modo, o próprio trailer do filme parece mostrar irregular ou sem graça...
ResponderExcluirVou vê-lo logo, eu acho...