quarta-feira, 3 de março de 2010


A Trilha Sonora como um Todo

Depois de alguns posts tanto técnicos quanto introdutórios, pretendo escrever sobre a trilha sonora em si, no intuito de fazer hoje um primeiro contato com todos os fatores importantes para que, a cada segundo, a sincronicidade entre áudio e vídeo esteja perfeitamente integrada, fazendo com que um filme seja uma exata união entre ambos.

Como já havia dito nas postagens anteriores, a trilha sonora nos ajuda a conduzir a história, acentuando o filme nas mais variadas formas, adicionando texturas interessantes, nos ajudando a mergulhar na idéia da cena. Enfim, nos auxilia a transmitir emoções a mais, que só uma boa melodia é capaz de fazer.
Quero começar mostrando, a princípio, uma coisa curiosa no próprio termo “trilha sonora”. Muitos acham que a Trilha Sonora remete-se apenas à música, o que é um engano. Vejamos um detalhe:


Vocês viram as setas vermelhas?

Muitos pensam que a trilha sonora remete apenas à música, o que na verdade é um engano. Como podemos ver nas capas destes CDs, temos escrito que a MÚSICA é composta, arranjada e/ou conduzida por tal compositor. Respectivamente, Hans Zimmer e James Newton Howard, John Williams, Howard Shore e Nobuo Uematsu (esse último sendo um conhecido compositor para Games - desde os anos 80, até hoje. Um grande exemplo do seu trabalho é a série Final Fantasy, onde são gravadas verdadeiras orquestras para os momentos mais marcantes do jogo).

Quando falamos que gostamos das Trilhas Sonoras, nos referimos às músicas compostas para filmes, porque a trilha sonora, na verdade, remete-se a todos os sons contidos na imagem. A música é inteira parte da Trilha Sonora, assim como todas as vozes dos atores, e todos os ruídos (portas abrindo, torneiras, respirações, etc), também.

Na verdade, a Trilha Sonora - sendo esse conjunto de três elementos, Voz, Ruído e Música - precisa obedecer a uma hierarquia. O primeiro e mais importante ponto é a voz. Por ela se passa toda a história, por ela é que vem toda a tradição do drama, vindo da Ópera até as telas de Cinema/TV. Sem ela não seria possível fazer os filmes como são feitos hoje. No começo ainda existia o cinema-mudo, que fez um grande sucesso com, por exemplo, “Modern Times” de Charles Chaplin, mas hoje quando a voz aparece em cena, tanto o ruído quanto a música ficam em menor destaque.

Em segundo lugar temos os ruídos, um grande exemplo disso são as cenas de guerra, ou filmes futuristas, como em “Transformers” e “Wall-e”, onde cada ruído de cada membro do robô são complemente pensados e estruturados. Os sound designers são verdadeiros mestres em inventar sons cada vez mais originais, para incorporá-los naquele monstro, ou naquela máquina. Um filme, copiando nossas próprias vidas, imita cada segundo do nosso dia-a-dia, fazendo com que tudo o que acontece tenha um som específico. E como podemos ver no filme, todos os sons são ouvidos junto com as vozes, e junto com a música.

E para a surpresa de muitos, a música é a última dessa hierarquia. Uma vez que a voz é o mais importante de todos, e que os ruídos são coisas naturais da vida - e por consequência, dos filmes - por exclusão, nós temos a música como um terceiro lugar na hierarquia da Trilha Sonora, primeiro porque, diferente da ópera, a música do cinema não é contínua (como discutimos nos últimos posts), ou seja, ela não está presente em TODAS as cenas, podemos conferir isso em qualquer filme. Segundo porque os ruídos e as vozes estão 100% presentes na grande maioria dos filmes de hoje. Como temos atores falando e ruídos aparecendo, a música, mesmo estando presente e nos emocionando, está em terceiro lugar.

É óbvio que isso não é uma regra. Há momentos em que tudo pára, e que a música toma todo o espaço, como em momentos de câmera lenta, por exemplo. Momentos assim acontecem com frequência. Há outros momentos em que os ruídos aguçam os nossos sentidos, e qualquer barulhinho a mais já é um motivo de alerta, mas todas essas exceções sempre acontecem quando a voz não está em primeiro plano.

Esse é o grande trabalho da mixagem, digna de oscar! Ela é responsável por nos fazer ouvir cada som, cada grito de dor, cada lança perfurando um inimigo de guerra, cada soco em um ringue de boxe, cada botãozinho de um robô, cada porta batendo no andar de baixo da casa, enfim, uma grande variedade de sons e situações. Junto com tudo isso, a mixagem é responsavel por unir todos os sons, com a música, e ainda assim, fazer com que os dois juntos não “briguem” com a voz.

Música e Ruído podem estar em primeiro plano, mas quando as vozes aparecem, vocês podem perceber como a música sempre fica mais baixa, com um arranjo mais simples, ou apenas com a batida da bateria. Um som de um helicóptero, que é extremamente alto, desaparece em segundos, para poder dar espaço a outros componentes, sendo eles outros ruídos, ou uma música para indicar uma grande passagem de tempo, ou até uma outra cena com atores falando.

Isso acontece com a grande maioria dos filmes, mas não é exatamente um clichê. Acredito que o termo correto para isso é uma convenção, usada para que o filme fique dentro de um padrão de qualidade. Nós assistimos vários filmes por mês/semana, e presenciamos todas esses fenômenos da Trilha Sonora, só que muitas vezes isso acaba passando despercebido. E a intenção é exatamente essa, o “passar despercebido” indica que “tudo está no seu devido lugar” dentro da mixagem da Trilha Sonora.

Esses 3 elementos da Trilha Sonora nunca podem se sobrepôr, nem competir um com o outro. É muito importante que tudo seja exposto de uma forma bem coesa. Se a música, por exemplo, ficasse mais alta que a voz ou o ruído, é como se uma guitarra, em um show de rock, estivesse muito mais alta que todos os outros instrumentos, encobrindo tudo.

Compreender a composição de uma trilha sonora em seus 3 elementos é importante para refletimos, posteriormente, sobre cada um deles, entendendo o papel que desempenham e como complementam o filme, trazendo emoções mais definidas e um impacto maior.

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