domingo, 21 de março de 2010

Criação
(Creation, 2009)
Drama - 108 min.

Direção: Jon Amiel
Roteiro: John Collee

Com: Paul Bettany, Jennifer Connelly, Martha West, Jeremy Northam


Antes de iniciar a resenha mais polêmica do blog em sua até então curta história, aviso que se alguém tem problemas com críticas a religião ou qualquer coisa que o valha é melhor não ler a resenha abaixo, pois a mesma deve ser decorada com alguns confeitos azedos que provavelmente desagradarão aos que acreditam que o homem não evoluiu do macaco.

Pois bem, Criação de Jon Amiel é uma “biografia incompleta” de Charles Darwin, o cara que concluiu que o homem (e todos os animais e plantas) são resultados de uma série de evoluções e de adaptações dos seres vivos para sobreviver no mundo natural.

Por que incompleta? Porque ele não se concentra na vida do naturalista, mas em um trecho que engloba a finalização de seu livro “Da Origem das Espécies” e sua relação com sua filha morta e na dificuldade do escritor em conviver com sua esposa religiosa.


Jon Amiel prefere mostrar apenas em flashbacks, o jovem Darwin descobrindo o que, hoje, dez entre dez pessoas inteligentes sabem (menos em alguns pontos dos Estados Unidos e demais localidades retrógradas): que Deus (caso ele exista) não foi o responsável pela criação das coisas.

Esses flashbacks são o ponto alto de um filme que não se decide entre ser uma biografia ou ser um drama familiar. Neles vemos o explorador investigando civilizações perdidas, se encontrando com uma orangotango e verificando os motivos de algumas algas no mar brilharem a noite.

Existem ainda outros flashbacks que mostram a relação entre Darwin e sua filha Annie, que reforçam o melodrama. Amiel perdeu aqui, uma excelente oportunidade de colocar em pauta uma velha (mais que hoje parece inacreditavelmente viva) discussão entre a religião e a ciência. Talvez por medo de uma resposta negativa de setores mais conservadores da sociedade, ou mesmo por considerar mais palatável ao público a história de um pai arrependido e de uma mãe e mulher que não compreende seu marido. O problema é que Amiel não consegue convencer completamente no melodrama ou mesmo estimular a discussão.


Se não tivesse Darwin na história, o filme passaria como mais um drama familiar arrastado e sem graça. Faltou um pouco de irresponsabilidade e atitude ao diretor e ao roteirista John Collee, que não expuseram as coisas mais importantes da vida desse homem fundamental para o conhecimento científico hoje.

Amiel até esboça alguns momentos belos e de grande virtuose em termos visuais. As cenas que envolvem um “resumo” do que é a tal lei da natureza, é muito bem construído, embora ele pareça muito com outros documentários da BBC sobre o assunto. Os momentos em que Darwin é mostrado enfrentando banhos gelados para curar uma enfermidade também são muito interessantes, assim como a edição de Melanie Oliver que consegue muito sucesso nos efeitos de passagem que mudam entre a realidade de Darwin com flashbacks ou sonhos.


Bettany é um ator muito competente e parece muito a vontade e sereno como Darwin, enquanto Connely pouco faz além de mostrar seus enormes olhos azuis faiscantes na tentativa de atrair algum tipo de sentimento para seu personagem. Infelizmente não é bem sucedida. A menina Martha West teve muito trabalho ao criar a personagem de Anne. Uma mistura de lembrança póstuma com consciência emocional do naturalista, é de longe, o personagem mais interessante do filme. A menina se sai muito bem.

O filme não é ruim mas o diretor Amiel (que tem no currículo o interessante Copycat e o medíocre O Núcleo) perdeu uma chance sensacional de expor duas formas de pensamento contraditórias, o que seria deverás interessante, ainda mais num mundo tão chato, carola e politicamente correto como é o que vivemos hoje.

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