domingo, 14 de março de 2010

Teta Assustada
(La Teta Assustada, 2009)
Drama - 95 min.

Direção: Claudia Llosa
Roteiro: Claudia Llosa

Com: Magaly Solier, Susi Sanchéz, Efraín Solis e Marino Ballón

O Peru é mais conhecido por causa de sua historia, ligada aos incas e suas cidades históricas como Cuzco e Machu Picchu, que recebem milhões de visitantes todos os anos. Particularmente nunca tinha ouvido falar de nenhum filme vindo desse país. Ainda mais, um filme aclamado e vencedor de prêmios internacionais. Teta Assustada fará o Peru entrar na rota do cinema mundial? Ou será um balão de ensaio como o Brasil?

O filme de Claudia Llosa fala de Fausta, uma garota de ascendência indígena que guarda um segredo bizarro e chocante. Sua mãe, quando jovem, foi estuprada por um grupo de homens, quando estava grávida. A história chocante, com requintes de puro sadismo (que é contada por meio de uma canção no início do filme), fez com que com medo de um eventual estupro, Fausta enfiasse uma batata dentro de sua vagina, como uma espécie de tampão impedindo qualquer “avanço”.


Sim, é bizarro. E não, em momento algum Claudia mostra a batata diretamente. Ela mostra as conseqüências físicas e mentais dessa idéia, no mínimo, absurda. Fisicamente (e isso é dito pelo médico num trecho no início do filme) ela sofre pois a (momento bizarro 2) batata continua a se desenvolver o que causa sangramentos e desmaios (sim, Claudia Llosa deve ter visto filmes do David Cronenberg). Porém, e ai o filme sai do gênero bizarro, as conseqüências mais impactantes são as emocionais. Segundo o folclore local, uma criança que nasce de uma mãe assustada e por ela é amamentada, será para sempre “marcada” como a Teta Assustada. Alguém sem alma, e que teme mais a vida do que a morte.

Fausta perde sua mãe e parte em busca de dinheiro, aventurando-se no “complexo” e “difícil” exercício da convivência humana. Ela é um bicho do mato. Alguém absolutamente anti-social, que luta quase de maneira hercúlea para conseguir lidar com as pessoas e enfrentar seus medos. Uma mulher agoniada, desesperada que sobrevive sem um pingo de alegria em sua vida. Cada dia é um novo martírio, uma nova via-crucis.


Claudia constrói um panorama da periferia de boa parte dos países latinos, com doçura e com uma dose de cinismo por seus problemas mais sérios, ficarem em segundo plano frente a comemorações, casamentos e conversas do dia a dia. A diretora parece dizer: esse povo sofre, mas mantém-se feliz. Esse povo não tem consciência do que faz, não precisa de respostas, apenas tenta viver da maneira mais feliz possível.

Fausta é o oposto de tudo isso. Por causa de seu problema, vive afastando-se de tudo e todos isolando-se numa catarse em forma de canções no idioma indígena (não me perguntem qual) que ela mesma cria, como se quisesse dizer a todos que não vão conseguir entendê-la.

É claro que sendo um filme de jornada, a personagem vai passando por transformações, e vai enfrentando seus medos e encontrando soluções para os mesmos.


Os problemas do filme são até bem claros e simples de serem entendidos. Tecnicamente o filme (volto a frisar é um filme peruano, e esperava ver uma produção fraca) é bastante convincente, e a diretora Claudia Llosa tem “o jeito da coisa”. Criativa, no uso de planos artíticos e com indicios de grande talento (notem o plano que envolve um cadáver e um vestido de noiva sobre uma mesa ou a conversa por entre o pano em forma de x entre Fausta e seu tio) e segura no que quer mostrar. Usando e abusando dos belos olhos de Magaly Solier (que interpreta mais usando-os do que falando; uma interpretação minimalista e delicada), a diretora parece realmente muito mais experiente e madura do que seus créditos (segundo o IMDB, ela fez apenas um filme antes desse, o desconhecido para mim - mas aclamado no Peru - Madeinusa).

Porém, o filme carece de ritmo e parece que se arrasta em determinados momentos. É um grande marasmo a partir da metade e perde ao tentar desenvolver um outra personagem feminina (Ainda, vivida por Suzy Sanchez) que fica com sua historia mutilada e sem um final digno de nota. A personagem de Fausta, apesar de todos os problemas psicológicos e fisicos e da boa interpretação de Magaly é, trocando em miúdos, chata. Parece excessivamente exagerada e excessivamente ingênua e tola. Por vezes temos a impressão que ela é patética. As cenas no hospital, todas elas, são de dar dó. Não no bom sentido, ela parece uma personagem (ruim) de novelas. Daquelas que aceitam caladas as situações e nunca levantam a voz para mudar nada.


Outro problema são os coadjuvantes, ou quase figurantes, que a exceção do tio (Lucido, vivido por Marino Ballón) praticamente não existem. Mesmo o jardineiro que vem a ter importância na trama é fraco, apático e mal interpretado.

O filme tem como maior mérito mostrar que naquele canto do mundo pode-se fazer cinema, e por apresentar ao mundo essa mulher talentosa chamada Claudia Llosa. Espero que na próxima incursão dela nas telas ela consiga construir um roteiro um pouco menos maniqueísta e melodramático. Se conseguir juntará a grande capacidade artística já latente na diretora com um texto capaz de fazer jus a seu talento .

TRAILER:



Um comentário:

  1. Muito bom, bem poético. Quem devia fazer uma refilmagem desse aqui pra já era o Cronenberg, haha. Seria genial.

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