quarta-feira, 17 de março de 2010


Diégese
Quando assistimos a um filme, na maioria das vezes, ficamos maravilhados com a Trilha Sonora, com a técnica do compositor em fazer uma música que se encaixe tão perfeitamente àquela cena. Às vezes a música do filme não chama tanto a atenção, e acaba passando despercebida, mas ela ainda está presente. E é simples percebermos o quanto ela faz falta, se experimentarmos assistir a um filme que não conhecemos, sem som. Sem nenhum tipo de voz, ruído música, podemos perceber rapidamente como o filme perde muito da sua sensibilidade.

Antes de o cinema ter vozes, ele já tinha música. Nos primórdios do cinema, no começo do século XX, em que o cinema ainda era mudo, ou antes ainda, quando não se tinha uma tecnologia suficiente para o som e imagem serem disparados em grandes salas, havia um piano em baixo da tela do cinema, no qual o instrumentista “tocava a cena”. Ele improvisava no piano alguma música que se encaixava naquela cena.

Claro que isto não era uma regra. Algum tempo depois, os diretores de filmes e os compositores deixavam partituras para esses músicos interpretarem os temas principais, ficando assim um pouco mais próximo da realidade que temos hoje. É muito provável que os primeiros “Leitmotiv” (do alemão “Motivo Condutor”) foram tocados nesta fase do cinema, sendo este um pequeno trecho musical que remete a um personagem.
Compositores como Ernesto Nazareth, daqui do Brasil, era um destes pianistas que tocavam para o cinema, e com isso conseguiu fazer uma grande variedade de músicas. Era pianista em salas de cinema, bailes, reuniões e cerimônias sociais também. Trabalhou por muito tempo no “Cinema Odeon” batizando com este nome uma das suas músicas mais conhecidas.


Hoje resolvi escrever sobre outro tema diferente, ainda dentro da música.

Achei interessante abordar este tema, uma vez que todos nós somos passamos pela mesma situação.

Vocês já repararam alguma vez, que a música que ouvimos na cena obedece ou não ao contexto da narrativa? Tendo como exemplo o filme “Assassinos por Natureza” (Natural Born Killers – 1994), podemos notar que, em algumas cenas, a música obedece à narrativa, como quando a personagem Mallory Knox está dançando o Blues dentro da lanchonete (A partir dos 2:40 do vídeo).


Mas também podemos notar que, no começo do vídeo (0:07 - 2;38), a música que ouvimos nos créditos iniciais, não está sendo tocada por ninguém, e nem foi selecionada para tocar numa jukebox, como foi o exemplo anterior.

Isto é uma coisa óbvia: a todo o momento, presenciamos músicas interpretadas no filme, e músicas tocadas para uma ambientação da narrativa. É até mais comum o segundo caso que citei, principalmente quando não são filmes com temas musicais, como “Amadeus”, por exemplo. Mas, sendo uma coisa simples de reparar ou não, isto já foi um grande estudo feito pelos compositores da trilha sonora dos filmes. Trata-se da Música Diegética ou Música Não-Diegética.

O termo “Diegese” é de origem grega, e significa “narração”. Dizemos que a música é diegética quando a mesma ocorre na narrativa, ou seja, quando ela realmente aparece sendo tocada no filme. Existem vários casos, como o Blues no Jukebox deste filme que selecionei.

Em “Wall-e”, por exemplo, há uma cena em que nosso querido robozinho assiste a um vídeo em uma fita cassete. Neste vídeo esta sendo tocada uma música romântica, e um casal está dançando, deixando o próprio robô apaixonado. Neste caso, a música está obedecendo à cena. O ritmo, harmonia e melodia que escutamos remetem a música que o casal dança no vídeo ao qual Wall-e está assistindo.


Porém, existe o caso oposto a este, que chamamos de música não-diegética.

É um conceito mais fácil de explicar do que anterior, sendo a música não-diegética qualquer tema incidental, que acompanha uma cena qualquer. Podemos citar vários exemplos, como a “Breaking of the Fellowship" do Senhor dos Anéis, tema este que usei de exemplo nas primeiras postagens. Existe também a “Eye of the Tiger”, a conhecida música da banda Survivor, tema de “Rocky III”.

E como um último exemplo, uso o filme “Gladiador” de Ridley Scott, na cena em que Maximus (Russell Crowe) encontra sua esposa e filho mortos. A música cantada na cena não aparece no filme. Não tem ninguém por perto cantando, o que nos faz perceber que se trata de uma música não-diegética. Não consegui achar a cena para exemplificar, mas imagino que muitas pessoas a conheçam.


Há também casos em que a música que era diegética acaba virando não diegética, ou seja, a música que uma vez fez parte da narrativa do filme deixa de fazer, por alguma livre escolha do diretor. Como a cena em “Kill Bill” que a enfermeira está assoviando a conhecida “Twisted Nerve”, e nas cenas seguintes, uma grande orquestra continua a mesma melodia, em um grande arranjo.


Esta diferença entre a música diegética e a não-diegética mostra o quanto o cinema tem ferramentas que ajudam, da melhor maneira possível, a narrativa. Isso não é de hoje, pois podemos assistir a filmes mais antigos e este conceito de “música DO filme” ou “música NO filme” já está presente.

Um teste interessante de fazer é analisar a cena e tentar diferenciar se as músicas ouvidas são ou não diegéticas. Por exemplo, no primeiro vídeo deste post, do filme “Natural Born Killers”, até os 7:05 temos 7 músicas, sendo diegéticas ou não. Querem tentar analisá-la? Na postagem da semana que vem eu faço um gabarito pra quem estiver interessado!
Com isso, já começo um segundo passo na coluna FotoMusic Score, já direcionando os leitores a uma visão mais técnica da trilha sonora, podendo posteriormente, conseguir fazer uma análise, mesmo que básica, de seus filmes favoritos.

Um comentário:

  1. Estou em Falta com vcs, ando muito atarefada com as escolas e não estou tendo tempo para passar nos blogs dos meus queridos amigos.
    Adorei a postagem

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