sábado, 20 de março de 2010

Um Sonho Possível
(The Blind Side, 2009)
Drama - 129 min.

Direção: John Lee Hancock
Roteiro: John Lee Hancock

Com: Sandra Bullock, Tim McGraw, Quinton Aaron e Kathy Bates

Quando se escreve sobre um filme ou livro sempre é mais fácil elaborar um texto de alguma coisa que você gostou ou detestou. Aqueles filmes em que você fica no meio termo sempre são os mais difíceis de serem resenhados.

São aqueles filmes que não deixam sequer uma marca. Não contém nenhuma atuação digna de registro, nenhum plano fotográfico ousado ou criativo ou mesmo nada de relevante ou interessante sendo dito por seu roteiro.

Esse é o caso de Um Sonho Possível, um filme que passaria totalmente batido por todos (de verdade) caso não tivesse tido o inacreditável reconhecimento a interpretação comum e sem brilho de Sandra Bullock.


A história “real” do jovem Michael Oher (Quinton Aaron) que de enjeitado passa a ser um astro do futebol americano universitário é mais uma das novecentas histórias assim que já foram mostradas com melhor qualidade no cinema

A única mudança é que o foco do filme varia entre a Cinderela da vez e a Fada Madrinha, o que poderia ser uma ótima idéia caso o diretor e roteirista John Lee Hancock (do medíocre O Alamo) não transformasse todos os seus personagens em criaturas unidimensionais e desprovidas de qualquer capacidade de questionamento ao que lhe é apresentado.


Traduzindo: quando a personagem de Bullock (a chatíssima Leigh Anne Tuohy) decide abrigar o cara em casa, ninguém (isso mesmo ninguém) de sua família sequer questiona os motivos ou reclama da situação. Simplesmente aceita-se a situação como sendo “um dever cristão”. Esse discurso direitista e bushista (o ex-presidente americano é citado duas vezes no filme) não pode ter sido verdadeiro. Se foi, já da pra considerar a família Tuohy como a mais tola da história do cinema. São discursos assim que enfraquecem a boa história de superação. Faltam os mínimos conflitos óbvios que aconteceriam em qualquer casa normal, que por ventura quisesse abrigar alguém abandonado.

Mas não, Hancock parece querer santificar a família Tuohy de tal maneira que se você forçar os olhos é capaz de conseguir enxergar as áureolas sobre suas cabeças.
A única coisa verdadeiramente interessante de Um Sonho Possível é o personagem de Oher. Uma boa atuação de Quinton Aaron, que convence como o calado, tímido e incompreendido Oher. Essa sim é uma atuação de destaque no filme.


Sobre Bullock, muitos já disseram e tantos outros dirão, que ela não faz nada de mais do filme inteiro. Sua personagem é irritante, controladora e intrometida apesar de todas as “qualidades cristãs” que a personagem apresenta. Não se trata de uma anti-heroina ou de alguém humano com diversos erros e qualidades que poderiam transformá-la em alguém interessante. Trata-se de alguém chato. A interpretação de Bullock também não ajuda.

Quando disse que ela parecia emular Julia Roberts em Erin Brockovich não estava mentindo. Leigh Anne (cuja interprete original deveria ter sido Julia) é uma irmã mais rica e mais insuportável da já insuportável Erin, que pelo menos tinha a seu favor ser uma personagem carismática, coisa que Leigh e Bullock não conseguem ser em nenhum momento.

Os demais personagens pouco tem a fazer. A professora que parecia interessada no desempenho de Oher, some na metade do filme. Os filhos de Leigh Anne são as crianças perfeitas. Não xingam, não correm, não gritam, não reclamam e não existem.


O filme tem em seu âmago boa intenções, e isso não pode ser negado. Ajudar ao próximo, ou simplesmente tratar a todos com respeito é uma boa mensagem, mas que se perde totalmente quando embalado em uma história tão “santificada”, com personagens que parecem ter saído do pior do que a Disney poderia oferecer.

Tecnicamente o filme é “certinho”. Hancock consegue posicionar bem sua câmera para o que lhe interessa e consegue extrair uma ou duas risadas na sucessão de entrevistas dos olheiros das universidades, onde o filho pequeno de Anne rouba a cena. Uma das poucas cenas boas no filme inteiro. Falando nelas, algumas são verdadeiras seqüências de “vergonha alheia”. Na cena em que Leigh Anne dá um quarto a Michael e mostra tudo o que tem dentro, Michael responde : “Isso tudo é meu. Eu nunca tive isso”. Ao que ela responde: “Um quarto”. “Não, uma cama” – responde o rapaz. Só faltou a música triste e a 22 do lado, pronta para que o espectador um pouco mais exigente e inteligente tentasse o suicídio. Esse é o clima de toda a projeção.


Um Sonho Possível é essa sucessão de momentos de lançamentos direto para vídeo, hypado pela presença de uma estrela essencialmente cômica, num papel “diferente” e “dramático”. Muito, muito pouco mesmo para agradar os olhos e ouvidos de quem gosta de cinema.

Obs: o melhor ângulo de Bullock é quando a câmera a pega por trás (como no pôster do filme) e podemos ver uma parte essencialmente interessante da atriz.


2 comentários:

  1. Eu não sei se você assistiu ao filme de maneira impessoal ou se já começou a vê-lo com uma sutil implicância com a atriz principal, mas, de qualquer modo, eu até acredito que ela possa ter tido algum destaque. Não a acho ruim, mas é inegável que houve certa cultuação demais esse ano.

    Como eu ainda não assisti a esse filme, fica difícil dizer o que achei, mas logo vou vê-lo e terei a minha própria opinião sobre essa obra. E eu nem acho que a Erin seja assim tão chata, até gosto dela!
    sasiOSOSAOsahisai

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  2. Não vi com minha "sutil implicancia" não rsrs, por mais incrivel que pareça. Pra ser sincero, eu escrevi a resenha a dois meses, e depois de ver o filme e das premiações, é que minha implicancia começou. A atuação n tem nda demais mesmo, e a historia em si ... não vale a pena.

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