quinta-feira, 25 de março de 2010

À Procura de Eric
(Looking for Eric, 2009)
Drama/Comédia - 116 min.

Direção: Ken Loach
Roteiro: Paul Laverty

Com: Steve Evets, Eric Cantona, Stephanie Bishop

Ken Loach é um diretor que prega as soluções de um problema pessoal pela comunidade. Ele diz que embora possamos ter um problema (físico, psicológico, emocional), o mesmo poderá ser resolvido caso o grupo em que o indivíduo se insere atue de forma direta na solução do mesmo.

Em À Procura de Eric, Ken novamente insere um homem comum no centro narrativo do filme e o rodeia com coadjuvantes que de uma forma ou de outra vão ajudá-lo a enxergar, entender, absorver e por fim solucionar suas agruras.

A diferença desses para os demais triunfos do diretor (e já adianto que para mim esse filme é um enorme triunfo) é que esse tem como ponto de partida a realidade fantástica e a comédia leve e divertida. Mais isso é só a camada superficial de mais um filme com a marca de Loach.


Um diretor que entre seus trabalhos mais interessantes conta com: Kes, Pão e Rosas, Terra e Liberdade, Meu Nome é Joe e A Canção de Carla e que é conhecido e reconhecido como sendo o cronista do operário britânico. Um diretor com a sensibilidade ideal para entender aquela gente, o que pensam, o que sentem, o que amam e principalmente quem são.

A Procura de Eric portanto é mais um estudo do diretor sobre o cidadão comum envolvido em situações cotidianas e que precisa da ajuda do grupo (influencia direta da predileção política do diretor, socialista assumido) para enfrentar um, ou um conjunto de provações, que vão do prosaico ao hercúleo.

A trama gira em torno de Eric Bishop (Steve Evets) um carteiro da cidade cinzenta de Manchester que vive um momento de crise extrema em sua vida. Seu filho mais velho tem problemas de disciplina, é “largado” e não respeita o pai; o carteiro vive amargurado por um amor do passado que ele rechaçou e seu trabalho não o encanta mais.


E onde entra Eric Cantona ?

Quando o grupo de amigos/colegas de trabalho de Eric percebem que ele enfrente problemas, se unem para de alguma forma ajudá-lo. Em uma sessão de “auto-ajuda” um dos amigos orienta Eric e os demais a pensarem num modelo de conduta, alguém que eles admirassem para que o usassem como exemplo de prosperidade em suas vidas. Entre Sammy Davis Jr., Gandhi, Fidel Castro, Frank Sinatra, sentou-se Eric Cantona, a escolha de Eric, o carteiro.

O mais incrível, surreal e até certo ponto poético, é que a partir de um determinado momento o carteiro passa a ser visitado por Cantona.


Cantona, que surpreendentemente tem uma atuação segura, serve como guia espiritual e mentor para Eric, o carteiro. O filme é muito feliz ao mostrar que essa relação também serve de uma maneira “torta”, já que o Cantona do filme é uma projeção do carteiro, para que o próprio jogador (um dos maiores da história do futebol francês e um ídolo imortal no Manchester United) também mostre ao mundo mais do que as polêmicas que sua carreira produziu. Em um trecho especialmente feliz, Loach mostra Cantona conversando com Bishop, que pergunta ao ídolo, qual seria o maior momento de sua carreira. Bishop relembra diversos gols fabulosos e Cantona então diz, que o maior momento de sua carreira foi um passe, uma assistência, uma “ajuda”, que se insere como uma luva na temática “coletiva” dos trabalhos de Loach e (metaforicamente) na história do filme.

Loach é um diretor que se foca nos atores e é para ele que todas as luzes, câmeras e atenções devem ser dirigidas. É isso, que parece dizer Loach. Sutil, discreto e muito mais servindo como testemunha do que como um narrador típico , ele é essencialmente um mestre de cerimônias ou um garçom, como seu “astro” Cantona ou um “carteiro” como o alter-ego Eric Bishop, entregando momentos de verdadeira genialidade.


Escondendo-se por baixo de uma comédia de costumes (operários) Loach novamente apresenta seu estudo sociológico sobre seu meio e sobre seus pares. Poucos falam a língua do povo como ele.
Recomendação máxima.



3 comentários:

  1. Tenho medo, é Ken Loach. Mas vou acabar vendo de qualquer jeito.. tenho apreciação pelo Cantona e etc.

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  2. Caio, é o "menos" Ken Loach de todos que vi do cara, se isso for ajudar rsrs.

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