sexta-feira, 26 de março de 2010

Julie & Julia
(Julie & Julia, 2009)
Comédia - 123 min.

Direção: Nora Ephron
Roteiro: Nora Ephron

Com: Meryl Streep, Amy Adams, Stanley Tucci e Chris Messina

É curioso como numa temporada de filmes tão interessantes alguém pode realmente considerar Julie & Julia um filme “oscarizavel”. E falo isso com impressões positivas do filme. Julie & Julia é “bonitinho”, é um filme gostoso de ver se você não tiver grandes pretensões e funciona muito porque apesar de sua simplicidade e falta de pretensões não ofende a inteligência do espectador. Ele é uma comédia levemente (bem levemente) dramática e faz isso com competência. Mas está longe de merecer receber ovações, ou mesmo de apresentar um papel verdadeiramente bom de Meryl Streep.

Baseado em duas “histórias reais” inter-relacionadas, o filme fala do período em que Julia Childs, a primeira mulher a apresentar um programa de culinária da TV americana e de ter “ensinado” a mulher americana a comer com classe e estilo a partir de seu livro “Mastering the Art of French Cooking”, viveu na Europa preparando seu debut como autora. Ao mesmo tempo baseia-se na experiência da escritora e blogueira (olha a “categoria” representada) Julie Powell que dedica um blog a narrar suas aventuras ao cozinhar todas as receitas de Child armazenadas no tal livro no período de um ano.


Plot legal. Funciona como um mix de biografias, narradas de forma paralelas e de forma com que as narrativas se misturem e se “expliquem”. Exemplo: Julie se vê como incapaz de alguma coisa, e na historia de Julia a mesma também se vê da mesma forma. O que o roteiro de Nora Ephron (também diretora) parece querer dizer é que as duas mulheres são “farinha do mesmo saco”. Em resumo, são mulheres que se encontram e a seus talentos pelos caminhos tortuosos da vida.

Das duas historias, a que mais me agradou foi a de Julie (a cada vez mais interessante Amy Adams de Dúvida e Encantada), que funciona divinamente em especial quando aborda o “mundo blogueiro”. O que escrever? Quando escrever? Será que alguém lê o que eu escrevo? Será que alguém vai ler e, melhor, comentar? Tudo isso é abordado de maneira leve durante o filme.


Julie é uma funcionária do governo que trabalha com os seguros das vitimas do 11 de setembro, e que encontra uma válvula de escape quando cozinha. E como cozinha. Sempre que você assistir a um filme culinário de barriga vazia, existe uma enorme chance de a) sua nota pro filme aumentar pelo seu deslumbramento e b) você se pegar comendo qualquer coisa só pra matar a fome.

Julia (Meryl Streep) é a mulher de um adido cultural (Stanley Tucci, especialista em papeis leves em comédias igualmente “light”) que, uma vez em Paris, aprende todo tipo de coisa até se dar conta que verdadeiramente amava cozinhar e que é isso que deveria fazer. A narrativa de Julia é mais corrida e episódica, em razão da divisão do filme em duas partes e pelo exercício hercúleo de Ephron em resumir a fase mais importante da vida de uma pessoa em cerca de 60 minutos (o filme tem 123 minutos).


Ephron acerta (eu disse que o filme era bonitinho e funcionava) quando não tenta mostrar a vida colorida e perfeita e foge (como torci pra isso) do eventual encontro entre as duas. Em lugar disso ela prefere manter a aura mítica de Child intacta e faz de Julie mas do que uma fã, uma verdadeira expert em sua ídola.

Porém, o filme (e Ephron) erram bastante quando transformar a personagem de Child em uma quase caricatura. A todo momento ela é exagerada (e o filme adora enfatizar seu tamanho e seus modos desajeitados) e Meryl Streep erra feio ao compor a personagem dessa maneira. Longe de seus melhores momentos, a atriz entrega-se a farsa e ao tragicômico e esquece que além de ser uma pessoa tridimensional, ela representa alguém que realmente existiu.

E não, nunca vi Julia Child, mas me recuso a crer que alguém pode ser tão “over” em quase todos os momentos de sua vida.


Em compensação gosto cada vez mais de Amy Adams, que transforma sua personagem cheia de pequenos problemas muito humanos (stress, falta de tempo, falta de confiança em si mesma, medo de não conseguir vencer, medo de se manter eternamente presa ao nada, medo de envelhecer fracassado) numa criatura adorável e cheia de paixão pelo que faz. Cada prato preparado é uma vitória pessoal e uma nova rocha escalada em sua tentativa de reencontrar sua alto-estima. Se o filme fosse somente baseado no livro de Julie, com Julia sendo usada como personagem oculto; aquela sombra que paira sobre os personagens os inspirando, gostaria muito mais.

Ao fim da projeção, fico com a impressão que faltou tempo a Julie e que o tempo de Julia foi (sendo generoso) mal conduzido, mesmo com a bela reconstrução de época e com algumas (poucas) piadas e situações que roçam no realismo. Mas quer saber, o filme não se vende como sério e uma avaliação assim iria contra a própria proposta do filme.


Um dos maiores erros (a meu ver) de críticos por ai é a intransigência na crítica. Em outras palavras, não podemos ter o mesmo grau de exigência com filmes que “imploram” para não serem levados a sério. Em compensação, atrocidades como Transformers 2 (que apesar de serem claramente imbecilizantes, mesmo nesse nível, ofendem a inteligência de qualquer ser vivo) não merecem defesa pois querem ser algo que nunca poderão ser: bom entretenimento, pois não acreditam em seu próprio público.

Julie & Julia passa raspando nesse teste. Entretem e sabe muito bem a quem se destina. Um mérito e tanto numa indústria cada vez mais pretenciosa.

2 comentários:

  1. Engraçado, também gostei muito mais do personagem de Amy Adams que o de Meryl Streep. Ela consegue fazer com que a historia seja mais real com seus problemas e também concordo com o que você disse sobre livro de Julie, com Julia sendo usada como personagem oculto.

    ResponderExcluir
  2. Eu gostei deste filme, acho q ele merecia pelo menos ser considerado bom! Sou fã da Meryl e acho q ela é 90% do filme..;

    ResponderExcluir