domingo, 18 de abril de 2010


A Malvada (All About Eve, 1950)

Direção: Joseph L. Mankiewicz

Com: Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Celeste Holm, Gary Merrill, Hugh Marlowe, Gregory Ratoff, Thelma Ritter e Marylin Monroe

Se você não considera (por qualquer motivo que seja) Betty Davis, umas das maiores atrizes da história da arte dramática mundial, tenho certeza absoluta que sua opinião mudará quando assistir A Malvada (tradução infeliz do título original All About Eve, numa tradução livre “Tudo sobre Eve”).

Faltam elogios e adjetivos para descrever a performance inacreditável que a atriz entrega ao público, colegas e ao seu diretor nessa película. Estão lá todos os ensinamentos e idéias que qualquer ator gostaria de ter talento para seguir. É curioso que tal interpretação inspirada aconteça quando Betty interpreta uma atriz, que é tão grandiosa em talento quanto ela mesma. Sútil, ácida, mordaz, sensível, carente, amarga, agressiva, engraçada tudo isso misturado numa personagem só, num mesmo filme.





Meu humilde texto não seria capaz de expressar o magnetismo que essa mulher conseguiu causar em mim durante as mais de duas horas de exibição de seu filme.

Seu filme.

Pois apesar do título referir-se a Eve (Anne Baxter), a menina “ingênua” e “perfeita” e que no decorrer do filme revela-se como uma megera disposta a tudo para conseguir vencer tentando passar por cima da personagem de Davis, é Betty que consegue transformar qualquer tomada em algo sublime e especial.





Para a alegria de todos os que viram (e espero que vejam a partir do texto, ou seja, que eu consiga de alguma forma despertar em vocês a curiosidade para conferirem o filme) A Malvada, é das construções de roteiro e de interpretação mais fabulosas da história.

Mankiewicz, o diretor e roteirista (dos brilhantes: O Solar de Dragonwick, Quem é o Infiel, Sangue do Meu Sangue, Cinco Dedos, A Condessa Descalça e Jogo Mortal entre outros), é soberbo em cada diálogo, preciso como os ponteiros de um relógio suíço. A facilidade como ele passa da confissão dramática (a excelente sequencia dentro do carro com Davis e Celeste Holm) as inúmeras piadas cínicas que permeiam o filme é um trabalho genial. Ele mistura com muita segurança a comédia, o drama, a narração com resquícios do noir e ainda dá muito espaço e tempo para seus atores. Não é a toa que a perfeição encontrada no filme foi agraciada com impressionantes 14 indicações ao Oscar, levando 6 pra casa.





Num mundo perfeito, Davis levaria o seu de atriz (junto a Gloria Swanson do Crepúsculo dos Deuses), mas em uma daquelas injustiças do prêmio, não levou. Porém,o filme foi agraciado com os prêmios de figurino para filme em p&b, som, ator coadjuvante (George Sanders, como o dandi colunista DeWitt) e os mais que merecidos prêmios de roteiro, diretor e filme (que num mundo perfeito levaria junto com Crepúsculo dos Deuses).

Além de Davis, saíram sem o prêmio Anne Baxter para melhor atriz (a Eve do título original, que transformasse de garota ingênua em mulher sem escrúpulos), Celeste Holm e Thelma Ritter (atrizes coadjuvantes), direção de arte para filme p&b, fotografia para filme p&b, edição e trilha sonora.

O que fez A Malvada ter essa quantidade impressionante de indicações e ainda hoje ser lembrado como um dos grandes filmes da historia do cinema, pode ser explicado em três pontos principais.





O primeiro é, como já citei, o “fator” Davis e sua interpretação deslumbrante. Mas não só Davis, como todos do elenco (inclusive uma “deliciosa” Marylin Monroe fazendo aqui sua primeira aparição nas telas, numa ponta divertida). Baxter consegue administrar bem a luta com Davis, porém perde por “nocaute técnico” quando é confrontada diretamente. Sanders é outro que tem um trabalho fabuloso, cheio de cacoetes e com um ar de superioridade e vilania, e uma certa arrogância que é inerente aos “entendidos” em arte. Completando a lista de atuações importantes, Celeste Holm que faz a melhor amiga de Davis é uma grata surpresa e faz o papel de elo (tão importante em qualquer filme, e que era muito usado na “velha Hollywood”) entre o público e o filme.

É com ela, que o público começa a acompanhar a história, via flashback, a partir de um exercício bastante ousado para a época. O filme começa sendo visto pelo seu final, para depois via flashback, sermos informados do que levou aquela situação (esse é ponto número dois). Que me lembre apenas Kane, tinha feito essa subversão da ordem cronológica num filme americano antes. Mais um excelente trabalho de Mankiewicz, que era "intelectual minucioso, esteta exigente" segundo o crítico francês Philippe Paraire. Ronald Bergen, no famoso Guia Ilustrado Zahar de Cinema diz sobre Mankiewicz "A tela foi, sobretudo, o veículo para seus roteiros eruditos, inteligentes e satíricos". Diante das palavras acima só faço em concordar.





O terceiro ponto é a análise mais profunda dos textos e contextos da obra. O texto é a homenagem bela e tocante a arte dramática mais antiga e considerada por muitos a mais verdadeira: o teatro. Sobram referencias diretas ao amor do ator pelo palco, de como ele, e apenas ele, é capaz de tirar do ator seu melhor. Curioso ver também, como em diversos momentos, o “fantasma” do cinema é mostrado, seja pelo namorado de Davis (Gary Merrill) que vai dirigir um filme, a personagem de Baxter que tem encontros com “homens de Hollywood”, todos de forma ou de outra roubando os astros e estrelas do palco, o que sempre aconteceu na história do cinema.

Já o contexto, refere-se essencialmente ao âmago da história. Mulher jovem se aproxima de mulher mais velha com “boas intenções” apenas para replicá-la e no futuro substituí-la. Quantos casos já vimos, ou presenciamos de pessoas que não medem esforços ou palavras, passando por cima de tudo e todos, mentindo, usando de amizades escusas somente para conseguiram o tão almejado lugar ao sol. A Malvada é pródigo ao mostrar essa situação e mais cínico impossível ao finalizar o filme quase como se quisesse que o público embarcasse numa nova viagem, dessa vez um pouco mais precavido e preparado talvez.

Ou será que não?

Um comentário:

  1. Um filme que resume o conceito de vilania na história do cinema mundial. Bette Davis sempre magnífica! Está merecendo uma revisão de minha parte.

    Cultura? o lugar é aqui:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

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