domingo, 25 de abril de 2010

Zona Verde
(Green Zone, 2010)
Ação/Thriller - 115 min.

Direção: Paul Greengrass
Roteiro: Brian Helgeland

Com: Matt Damon, Brendan Gleeson, Jason Isaacs, Greg Kinnear e Amy Ryan

Ou como jogar Call of Duty com o Bourne no comando.


Diretor conceituado, perfeccionista e arrojado, Paul Greengrass sempre tomou conta de seus projetos de perto, sempre tomando as rédeas do roteiro quando encontra algo errado. Quando fez seus primeiros filmes, como Domingo Sangrento, o roteiro era seu ou tinha bastante sua marca. Quando começou a ganhar nome, principalmente em 2004, com Supremacia Bourne, o roteiro fugiu das suas mãos, mas ele continuava com sua marca nos filmes. Sua câmera tremida já estava se tornando sua marca registrada e em O Ultimato Bourne, essa marca ficou consolidada. Tão consolidada que, vendo Guerra ao Terror, muitas pessoas podem desconfiar que Bigelow usou o estilo Greengrass de filmar.

Porém, o estilo de direção de Greengrass não significa muito com um roteiro ruim de base. Logo, quando foi anunciado Green Zone, eu resolvi ver quem era o roteirista. Afinal, em Bourne, Greengrass contava com mestres como Scott Z. Burns e Tony Gilroy e em Domingo Sangrento e United 93, o roteiro era de sua autoria. E aí, quando eu vi "escrito por Brian Helgeland", eu quase tive um desmaio. Pra quem não conhece, Helgeland é responsável pelos scripts de O Sequestro do Metro 1 2 3, O Troco e Assassinos, três filmes que não são fracos, mas são péssimos comparados a filmografia brilhante de Greengrass.
E agora, Zona Verde estreia no Brasil, acompanhado por críticas mistas nos Estados Unidos. Seria o novo filme de Greengrass ou um filme de Helgeland, dirigido por Greengrass?


A trama, conhecida do grande público, segue a Invasão Americana no Iraque. A partir daí, ela segue uma linha mais ficcional. Roy Miller (Matt Damon) é um subtenente do Exército Americano que chefia uma equipe de soldados que procura as tais armas de destruição em Massa que os Estados Unidos foram lá pegar. Porém, depois de receber 3 pistas falsas de um informante desconhecido, ele começa a desconfiar de que tudo ali é mentira e que o motivo da invasão é outro. Quando tenta dizer sua opinião a Clark Poundstone (Greg Kinnear), seu superior e um dos chefes da Invasão, ele é calado e desencorajado. Ele atrai a atenção de Martin Brown (Brendan Gleeson), um agente da CIA que quer entender o que acontece ali também. Logo, eles descobrem que tudo o que foi dito é uma teia de mentiras e que tudo aquilo ali é por algo maior e mais sombrio, sem o papo de armas químicas e democracia (algo que Poundstone quer tanto reforçar). Fora eles, ainda há a jornalista Lawrie Dayne (Amy Ryan), que tenta descobrir quem é a fonte do governo que está contando detalhes obscuros da invasão.

Se a trama parece intrincada e complexa, não se engane. É apenas um filme de ação acima da média que se finge de complexo. Os arquetípicos personagens que Helgeland cria podem até fazer coisas impressionantes inicialmente (afinal, é um filme que envolve espionagem), mas todas são previsíveis se formos ver no âmago. O roteiro de Helgeland já tem esse defeito, mas a coisa piora quando o filme se desenvolve. Se no início o roteiro nos apresenta um interessante ensaio sobre a Guerra do Iraque, com a rotina dos soldados e as tais fontes falsas sendo questionadas a todo momento por Miller, ele se desenvolve mal, virando uma trama de suspense que se esforça para parecer interessante e imprevisível, mas não consegue. Até parece que Helgeland quis fazer um Bourne do Iraque a partir do segundo ato.


Miller chama a responsabilidade pra si e seu núcleo se funde com o núcleo de Martin Brown, soando algo forçado. Com tantos homens capacitados e graduados (inclusive Brown, citado como um especialista no Oriente Médio), pra que eles vão precisar de um soldadinho pé-de-chinelo? É a tal mania de roteiro de filme caro: Já que é o Matt Damon, não podemos fazer dele um cara menos que "fodão".

Alguns erros estruturais também incomodam. Quando um carro, comandando uma frota de tanques, vai mais rápido que um time de helicópteros, tem algo errado. Lastimável o fato de Helgeland ter transformado um projeto pequeno sobre a Guerra em um mega Blockbuster de tiroteios e porradaria. Além disso, o roteiro tem um erro primário. Se decidiu transformar o filme num thriller baseado em personagem, ele deveria ter uma carga dramática e uma aura mais destacada. Mas não, Helgeland não percebe isso. Sendo assim, um personagem sem carisma e comum poderia funcionar no panorama inicial da Guerra, mas transformando o filme em algo diferente, ele se esquece da virada do personagem.

Logo, Roy Miller é um personagem extremamente sem sal e tem uma enorme falta de carisma. Os outros coadjuvantes também não se sobressaem, sendo estereótipos. Lawrie é a repórter, Martin é o agente do bem e Clark é o poderoso almofadinha que é mal e mimado. Assim, Helgeland estraga o potencial de um excelente tema, mas isso não impede de criar um divertido thriller recheado de ação. As situações não são ridículas e, com suspensão de crença, é até legal de assistir os feitos heróicos de Roy Miller.


Muitos tem culpado Greengrass de falhas de continuidade e besteiras de roteiro. O que ninguém percebe é que o máximo que o diretor poderia ter feito é uma direção fantástica. E com relação a isso, não dá pra reclamar de Greengrass. Seu inegável estilo de direção, com a tal câmera tremida, é fantástico e a ação é muito bem coordenada, como sempre. E aqui há um elemento que agrada ainda mais: nas cenas mais calmas, Greengrass optou por uma direção que abusa de zooms, tornando os fatos ainda mais documentais.

Apesar de não ser condizente com o desenvolvimento da trama (afinal, ela esquece o compromisso com a realidade e resolve fazer um pipocão de ação), a direção é ótima e sacia os fãs do diretor. A edição do oscarizado Christopher Rouse é precisa e auxilia bem o estilo entrecortado que Greengrass usa. A trilha sonora de John Powell apresenta a competência habitual do compositor, mas é bem previsível, copiando um estilo de suspense que era utilizado em Bourne. Em alguns trechos, até parece que Powell utilizou as notas que ele havia composto na trilogia do espião. Um ponto que se sobressai tecnicamente é a fotografia de Barry Ackroyd. O fotógrafo de Guerra ao Terror, que merecia ter ganho o Oscar pelo trabalho anterior, cria uma fotografia soberba aqui. Valorizando tons verdes do Iraque, a fotografia é belíssima e faz parecer um cenário de guerra de jogo, o que não é necessariamente ruim.


As atuações de Zona Verde são burocráticas. Matt Damon faz um trabalho razoável. Afinal, Damon já provou ser um excelente ator, dramático ou de ação, e aqui faz a linha de ação. Não que ele atue mal, mas é apenas na média, sem surpresas nenhumas, sendo apenas o habitual "cara durão". Greg Kinnear também não ajuda. Ele, por si só é um ator limitado e não faz nada além do esquecível (sua melhor atuação é em O Matador e ele não passa do mediano). Aqui, ele faz o almofadinha metido que dá raiva e não acrescenta nada pro filme. Horrível atuação e caricata ao extremo, causando risadas involuntárias. Amy Ryan também faz um papel estranho. Aqui, a atriz que já provou ter densidade dramática suficiente pra roubar a cena, o que já lhe rendeu uma indicação ao Oscar (merecida, aliás), faz um papel arquetípico e sem oferecer muito. O único que tem uma ótima atuação no filme é o fantástico Brendan Gleeson, que segura o papel como poucos e apresenta uma atuação muito acima da média, roubando o filme em algumas partes. E isso é outro defeito de Zona Verde: já que Helgeland decidiu fazer um filme de herói de ação, ele deveria transformar Roy Miller em um personagem carismático. E em Zona Verde, nenhum personagem é carismático.

No final das contas, Zona Verde não é um mau filme e também não dá raiva de ver, mas causa decepção para um trabalho de alguém do gabarito de Paul Greengrass. Um excelente ensaio sobre a Guerra do Iraque se perde na ganância do roteirista em tornar tudo aquilo uma mera desculpa para transformar um cara normal em herói fantástico. Isso é uma pena para quem exige muito, mas quem está procurando apenas uma diversão semanal ou um filme de pancadaria desenfreada, Zona Verde é uma boa pedida. Um futuro campeão de locações, um novo favorito do tiozinho da prateleira dos lançamentos, que se amarra numa ação com cara durão.

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