quinta-feira, 22 de abril de 2010

Roman Polanski: Wanted and Desired
(Roman Polanski: Wanted and Desired, 2008)
Documentário - 99 min.

Direção: Marina Zenovich
Roteiro: Joe Bini, P.G.Morgan e Marina Zenovich

Esse é o primeiro documentário que aparece no Fotograma, sendo resenhado. Documentários (pra mim) tendem a estar classificados em duas categorias: provocativos e contemplativos.

Os contemplativos mostram um fato, assunto, pessoa ou situação. Exemplos disso são os documentários de Eduardo Coutinho, ou biografias como Brando, Marcha dos Pinguins, coisas do National Geographic, Discovery Channel ou o “fabuloso” Santiago, sobre a vida do mordomo de um cineasta brasileiro famoso.

Os provocativos são aqueles que além de expor os fatos (tal como os contemplativos) não se privam de dar sua opinião, de cutucar uma ferida ou de causar polêmica. A maioria dos documentários de sucesso com o público podem ser enquadrados nessa categoria. Todos os do Michael Moore, Super Size Me, Na Captura dos Friedman, Uma Viagem com Martin Scorsese pelo Cinema Americano (outro que deve ganhar resenha), Sob a Névoa da Guerra e o citado e resenhado Roman Polanski: Wanted and Desired.


Wanted é polêmico. Polêmico porque tenta defender a tese de que o diretor polonês é uma vitima de uma vida cruel e que por isso seus atos que culminaram na sua prisão e julgamento por estupro e pedofilia podem ser “compreendidos”, “aceitos” ou até defendidos.

A diretora Marina Zenovich é bastante inteligente para defender seu ponto de vista. Desvia-se do foco sobre o ato em si, e apresenta revelações escabrosas sobre os meandros do julgamento. É sobre isso basicamente que o filme fala: como Polanski foi usado por um juiz “aparecido” como bode espiatório para que esse conseguisse ter seus 15 minutos de fama.

Ao mesmo tempo, tenta traçar um retrato humano e condescendente com a figura pública e privada do diretor.


Pois bem, é impossível ficar impassível a quantidade absurda de desmandos ridículos que foram descobertos (e confirmados pelos advogados dos dois lados) sobre os meandros do julgamento. É impossível não se solidarizar com Polanski nesse aspecto. Uma vez julgado sua pena mudava mais do que técnico de futebol. Uma hora ele era punido com 10 anos, depois com um tratamento alternativo, depois com liberdade condicional. Enfim, uma sucessão de pataquadas.

Também é impossível não ter um mínimo de piedade sobre as tragédias que se abatem sobre Polanski (mãe morta no campo de concentração, mulher assassinada com requintes de crueldade).

Porém, o filme de Zenovich é falho ao ignorar o fato, e como diz o be-a-bá do jornalismo: contra os fatos não existem argumentos. É um fato que Polanski transou com a garota de 13 anos. É um fato que ela estava alcoolizada e sob efeito de drogas. São fatos. Simples e objetivos.

Impossível negar, impossível esconder e até feio quando tenta-se diminuí-lo.


Zenovich quase não mostra a menina, hoje uma mulher, e pouco tenta ouvir o que ela tem a dizer. Outra falha é a ausência de uma análise maior e mais interessante da filmografia de Polanski, que pode ser explicada e defendida pelo próprio filme. A idéia parece ser mesmo a de focar na “pessoa” Polanski e não no artista. Apesar disso, aqui e ali, temos algumas coisas, e umas cenas dos maiores filmes do diretor.

A diretora tentou defender o artista Polanski, através do homem. Falhou. Os fãs de seus filmes (como eu) não mudarão de opinião quanto a arte, e aqueles que consideram o diretor culpado (como eu também) também não vão se sentir convencidos pelos argumentos do filme.

Como tentativa de estabelecer uma ligação emocional entre o espectador e o personagem até funciona, mas quando tenta defender, atenuar ou explicar os atos de Polanski é um atentado a inteligência.


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