sábado, 17 de abril de 2010

Mary e Max
(Mary and Max, 2009)
Comédia/Drama - 80 min.

Direção: Adam Elliot
Roteiro: Adam Elliot

Com as vozes de: Toni Collette, Philip Seymour Hoffman e Eric Bana

Mary é uma garotinha de 8 anos que mora na Austrália, gosta de leite condensado, tem uma marca de nascença na testa e é muito solitária. Max é um obeso morador de Nova Iorque, de quarenta e poucos anos e também é muito solitário. Por um total acaso começam a se corresponder e por meio dessas cartas ajudam-se, se conhecem e se abrem para o outro, e por conseqüência criam um forte laço de amizade.

O que diferencia Mary e Max de outros filmes são alguns aspectos interessantes. Primeiro trata-se de uma animação australiana feita em stop-motion e segundo: ela não alivia no humor negro, nas insinuações amargas e na acidez de seus personagens, bem como em suas ingenuidades e maniqueísmos. Em resumo, o filme não ignora a inteligência de seu espectador e o realismo mesmo quando o “joga” dentro de uma história que beira a fábula.


E porque Mary e Max é tão bom? Por que todos esses elementos funcionam de maneira tão afinada que é difícil não se envolver pela história ou ficar impressionado pela qualidade dos comentários mordazes que o diretor e roteirista Adam Elliot faz.

Elliot não quer ser politicamente correto apesar de no fundo contar uma história sentimentalista e melodramática. Porém, consegue misturar esse melodrama todo com humor negro (os comentários sobre religião são geniais assim como a sátira aos psiquiatras), e uma certa “ingenuidade perversa” ao retratar todos os problemas que a pequena Mary enfrenta quando criança.


Definitivamente Mary e Max é o melhor trabalho feito em animação em 2009 e com sobras. Roteiro inteligente e em diversos momentos poético e onírico, e qualidade de animação excelente.

A facilidade com que Elliot usa cores, ou a ausência dela, em seu filme é um ponto mais que positivo e plasticamente belíssimo. Quando mostra a Austrália, ele usa do marrom e de tons de madeira. E dá-lhe iluminação amarelada, dourada com alguns pequenos elementos de cena que se destacam por serem mostrados em outras cores. Nas seqüências nos Estados Unidos, tudo é escuro, beirando o noir, acinzentado e abusando do alto contraste, com algum influencia de expressionismo e também usando alguns elementos que contrapõe as cores. Quando Mary manda alguma coisa para Max o pacote ou o objeto é mostrado naquele tom de marrom e vice versa.


Mais nada disso funcionaria se o texto não fosse bom e as idéias bem conduzidas. É muito bom ver o filme e ir notando a quantidade de pequenas “discussões” na falta de uma palavra melhor, que são propostas pelo filme. São pequenos conflitos que são analisados e resolvidos pelos próprios personagens. E o mais bonito de tudo isso é perceber quanto o diretor presa pelo bom gosto, mesmo quando aborda assuntos mais complicados.

Uma mistura deliciosa de conto de fadas para adultos, fábula, expressionismo, comédia de costumes, humor negro e melodrama. Diferente, muito original e magnífico.


Obs: as vozes na versão original, que espero venha para o Brasil assim, conta com Toni Collette, Philip Seymour Hoffman e Eric Bana. Mais um motivo para conferir.

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