terça-feira, 6 de abril de 2010

O Povo contra Larry Flint
(The People vs. Larry Flint, 1996)
Drama - 129 min.

Direção: Milos Forman
Roteiro: Scott Alexander e Larry Karaszewski

Com: Woody Harrelson, Courtney Love e Edward Norton

Larry Flint é um pária da sociedade, um lixo sujo e nojento que deveria ser proibido de sequer respirar, diriam os mais conservadores, hipócritas, medíocres e afins. Eu digo que Larry Flint é um gênio. Um gênio ao expor um pais a sua própria podridão e ser esperto o bastante para lucrar com isso.

Larry não é um santo, nem fez o que fez apenas para “lutar pelos ideais de liberdade”, mas querendo ou não foi o responsável direto por algumas vitorias consideráveis das pessoas que prezam suas liberdades individuais mediante aos desrespeitos aos quais somos submetidos.

Esse é o homem, retratado de forma sensível e muito honesta no filme de Milos Forman, O Povo contra Larry Flint, estrelado por Woody Harrelsson, Courtney Love e Edward Norton.


Forman não tem pudores em retratar todos os eventos (por mais condenáveis que possam até parecer) na vida do biografado. Muito do mérito tem de cair nos ombros de Harrelson, que aqui (e não em O Mensageiro como muita gente acha) tem sem dúvida alguma seu melhor momento nas telas.

Harrelson consegue misturar sua “translouquice” com uma capacidade dramática até então desconhecida pelo grande público. Flint é um personagem deveras complexo, pois guarda dentro de si diversas facetas diferentes. O homem apaixonado por sua “esposa” Althea, suas lutas contra as hipocrisias da sociedade americana, e suas cenas bisonhas nos inúmeros tribunais os quais freqüentou com alguma assiduidade.


Tudo isso está lá. Também estão lá (mais uma vez) as denuncias que Forman tanto faz e as biografias “tortas” que o diretor também gosta. Quem lembra de Amadeus, com o Beethoven punk, ou o filme seguinte do diretor, O Mundo de Andy, em que o biografado é igualmente controvertido. No campo das denúncias, Um Estranho no Ninho falou dos hospícios e Hair mostrou a briga entre os “caretas” e os hippies doidões.

Forman é excelente condutor de situações e principalmente consegue tirar “leite de pedra”, pois conseguiu fazer Courtney Love (medíocre durante toda sua vida, que me perdoem os fãs) atuar de forma convincente como a mulher de Flint, Althea. Fechando o elenco de atuações, Edward Norton, apesar de não brilhar como em outros papéis, mantém sua habitual competência com um personagem simplista, mas que funciona como o elo entre o público “normal” e os personagens excêntricos de Larry e Althea.


O mais importante a se destacar no filme, é a sucessão de eventos inacreditáveis que Larry passou na sua vida e sua incrível capacidade de conseguir passar dos limites do ofensivo com uma facilidade quase única.

Papai Noel mostrando as “armas”, Dorothy sendo traçada pelo Homem de Lata, o Leão e o Espantalho, um pastor de TV acusado de ter transado com a própria mãe num banheiro, arremessar laranjas na cara de um juiz, vestir uma fralda feita da bandeira americana, ter conseguido um vídeo de agentes do FBI vendendo drogas entre outras coisas, todas elas mostradas com bom humor o que funciona como alívio para a maioria das situações. Se bem que ver Flint de capacete militar e fralda é tão ridículo que qualquer tentativa de transformar aquilo em algo sério, seria infeliz e não funcionaria.


Esse é outro trunfo do longa, a sua edição “ligeira” com alguns momentos de genialidade, como toda a sequencia de Flint discursando num comício hipponga sobre a hipocrisia, numa mistura de Cidadão Kane com Patton.

O filme só não é perfeito, porque perde sua meia hora final, apesar da excelente sequencia no supremo tribunal, é corrido e dá a impressão de que Forman pensou numa forma quase “épica” de encerrá-lo, transformando Flint de um bastardo filho da terra em um homem comprometido com as liberdades americanas.

Não sei até quanto isso é verdade, ou se no fundo Flint fazia tudo o que podia pra cutucar a sociedade americana e com isso encher o bolso de dinheiro.

Um comentário:

  1. Bela lembrança, Milos Forman é um dos diretores menos falados dos que quase nunca erraram.

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