sexta-feira, 16 de abril de 2010

Gomorra
(Gomorra, 2008)
Drama - 137 min.

Direção: Matteo Garrone
Roteiro: Maurizio Braucci, Ugo Chiti, Gianni di Gregorio, Matteo Garrone, Massimo Gaudioso e Roberto Saviano

Com: Toni Servillo, Gianfelice Imparato, Maria Nazionale, Salvatore Cantaluppo, Gigio Morra, Salvatore Abruzzese, Marco Macor, Ciro Petrone e Carmine Paternoster

De acordo com a Bíblia cristã, Gomorra (e Sodoma) eram duas cidades onde seus habitantes eram considerados imorais e por isso foram castigados por Deus, tendo suas respectivas cidades varridas do mapa numa enxurrada de enxofre e fogo vindo do céu causada pela ira divina.

Segundo as investigações da policia italiana, a organização chamada Camorra, é de longe, a mais perigosa do mundo, sendo responsável por assassinatos, tráfico de drogas, envenenamento do solo, extorsão, corrupção, assaltos entre outras coisas. Na prática a Camorra é o que se convenciona chamar de máfia. Localiza-se no extremo sul da Itália, na cidade de Nápoles.

Gomorra, o filme de Matteo Garrone, é uma crônica das atividades da organização misturando diversos personagens em diferentes graus de envolvimento com a Camorra. Desde crianças e pré-adolescentes deslumbrados pelo “poder”, a jovens com hormônios demais e cérebros de menos que querem provar sua masculinidade com armas em punho, ao velhos “cappos” e chefes que realmente fizeram daquilo suas vidas, aos coletores e entregadores de dinheiro e até um alfaiate que indiretamente também está envolvido na situação.


Garrone acerta ao não contar a história de um individuo mas de um grupo de pessoas. Apesar de algumas histórias ficarem em primeiro plano (como a do alfaiate Pasquale e dos garotos Roberto e Marco) o importante é discutir e mostrar sem muito pudor o resultado do envolvimento daquelas pessoas com a máfia.

Em sua estrutura narrativa lembra (um pouco) Cidade de Deus, porém não tem o mesmo apelo visceral (apesar de duas sequencias violentas bem intensas) ou a técnica videocliptica do filme brasileiro. A semelhança está em serem dois filmes que tratam do impacto do crime na vida de pessoas que talvez não se envolvessem caso “morassem em outros lugares”. O roteiro feito a doze mãos é baseado no livro de Roberto Saviano, Gomorra, que expos as ligações entre a máfia e orgãos do governo, o que lhe deu um best-seller e uma eterna escolta policial que evita possíveis atentados contra sua vida.


Gomorra é mais lento, onde muito se fala (num dialeto napolitano incompreensível para quem não o entende) e é resolvido de forma rápida e obejtiva. Não existem tiroteios, existem ações programadas e executadas sistematicamente. Garrone mostra isso, evitando cair no clichê do filme policial.

Gomorra conta com um elenco quase todo desconhecido. O nome mais famoso é o de Toni Servillo, que faz o “colarinho branco” Franco, um homem responsável por desovar o lixo hospitalar em pedreiras abandonadas.

O restante do elenco é quase virginal. Porém, e talvez por esse motivo em especial, a credibilidade dada aos personagens é bastante grande. É moda usar gente “comum” e sem experiência para chocar ou afastar o espectador da zona de conforto, que acontece diante de um rosto conhecido. Foi assim no já citado Cidade de Deus, e mais recentemente com a semi-desconhecida Gabourey Sidibe em Preciosa.


Garrone levou pra casa Cannes em 2008, e muito do mérito de seu filme é o de mostrar-se como observador da situação, apontando a câmera e deixando que o espectador tenha as bases para julgar os erros e acertos dos seus personagens.

Não é sempre que essa idéia funciona bem, vide Michael Haneke (que gosto muito, mas que as vezes peca pelo distanciamento excessivo dos personagens, história e público), mas nesse caso o distanciamento foi na medida. Garrone também não foi conquistado pelas câmeras “treme-treme” e pela edição de 30 quadros por segundo, que é moda em filmes policiais, ação e afins.


Ele prefere a tranqüilidade de planos, como a de um homem se afastando vagarosamente num extenso corredor, ou de mostrar a luta de outro para sair do porta-mala de um carro, ou mesmo para mostrar as ações violentas. Ele não expõe seu público ao choque direto do “teco na cara”. Joga com a subjetividade, com o som, e prefere deixar sub-entendido o que aconteceu, do que apelar e mostrar corpos metralhados a todo momento.

Gomorra se destaca como um filme cru e bastante importante em seu tema, ainda mais quando sabemos que a situação mostrada (mesmo que as escondidas) ainda continua a acontecer nas favelas e cortiços italianos.


2 comentários:

  1. O filme é bom, mas o marketing feito em torno dele pela crítica achei exagerado. Muito gente discordou quando o filme não levou o Oscar de filme estrangeiro, mas achei justo. Havia produções melhores. O livro do Salviano é infinitamente superior ao filme. Foi um caso de exagero na divulgação muito parecido com Paradise Now (aquele filme dos dois homens-bomba, não sei se você conhece!). Mas vale pela história em si, que é das mais fortes.

    Cultura? O lugar é aqui:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Conheço sim o Paradise Now e concordo com vc. Gosto do filme mas acho que muito dele é obra de marketing.

    ResponderExcluir