Brighton Rock
(Brighton Rock, 2010)
Drama/Thriller - 111 min.
Direção: Rowan Joffe
Roteiro: Rowan Joffe
Com: Sam Riley, Andrea Riseborough, John Hurt, Andy Serkis e Helen Mirren
Rowan Joffe é um exímio roteirista. Excelente criador de situações narrativas (como as cenas de perseguição em The American), Rowan também é versátil ao transitar bem entre diversos gêneros, indo do terror de ação (Extermínio 2) ao noir, nesse Brighton Rock. O filme, baseado em um livro de Graham Greene, apresenta uma forte história de crime, perseguição e ainda uma sensível história de amor. Porém, sobretudo, é uma história sobre a culpa relacionada a religião. Greene sempre teve seus trabalhos enraizados com temas religiosos. Brighton Rock é um deles. O mais interessante é ver que o roteirista (Joffe), em sua primeira viagem como diretor, mantém essa essência religiosa até o fim - e da forma que é feita, com méritos.
Um tom climático é estabelecido desde a primeira cena. O mar em câmera lenta, seguido pelo surgimento do imponente título do filme, é pontuado com uma trilha pesada, que impõe o tom grave que a história tomará desde o princípio. Joffe ainda é feliz em tornar o mar um símbolo de mudança em seu filme. Sempre que há um momento de mudança importante no filme, surge a imagem do mar. Não por acaso, após surgir o título, essa ideia de mudança é apresentada com a morte do chefão do bando de Pinkie Brown.
Pinkie, por sinal, começa não apenas uma nova etapa na sua vida criminal; começa a se tornar um homem mais maduro. Executar os crimes não é culpa para o inglês. Se for necessário trair um membro do bando porque ele sairá, ele o fará sem o menor remorso. Porém, após ter a necessidade de se aproximar de Rose para roubar um ticket que compromete a segurança de um dos membros do bando, Pinkie tem sua postura testada. Aí, a atuação de Sam Riley é testada, já que o jeito impulsivo, destemido e sisudo do protagonista deveria mudar. Porém, a mudança não chega, e é interessante notar que a postura fria do personagem, que se torna muito boa ao chegar no limite do verossímil, contribui para as interpretações emocionais da história. Apesar de implícito, não sabemos se Pinkie ama a encantadora Rose ou não. Isso tira um tanto de unidade do personagem, mas mesmo assim, torna a experiência válida ao deixar o espectador sentir o que o personagem sentiu.
Como estreante, era de se esperar pouco de Joffe. Mas o antigo roteirista surpreende. Ao trazer uma direção madura de atores, Joffe coordena um excelente elenco, que só tem a atuação dúbia de Riley como ponto questionável. Além disso, Joffe demonstra ser um bom compositor de cenas impactantes, ao dirigir ângulos imponentes e criar uma montagem eficaz, mesclando diversas situações para pontuar a tensão, como na conversa de Pinkie e Rose no campo ou nas badaladas do sino, que casam perfeitamente com a edição das imagens. Vale citar também o brilhante plano gêmeo em que Pinkie atira com uma .45 depois de conversar com Rose, o que representa o sentimento do protagonista e cria uma boa tensão em volta da ação. Ainda que tenha certos tiques visuais sem função narrativa ou visual (como pontuar a luta de Pinkie e Fred com as imagens de elementos diversos no parque), Joffe passa bem pelo teste de fogo que todo roteirista que almeja a direção passa.
O erro maior, porém, fica no exagero de certas situações. O tom de tragédia grega é válido, afinal, o crime nunca tornou a vida de ninguém mais fácil. O romance de Rose e Pinkie não é perigoso só ideologicamente; é também fisicamente (como mostra o brilhante plano dos dois enamorados se beijando a beira de um penhasco). Rose ainda é tida como um ser imaculado, iluminado, enquanto Pinkie é a representação do mal, das trevas, aquele que fica no canto escuro (atentem para a cena da igreja). Porém, se Ida (Helen Mirren) se torna suscetível ao diálogo no final, apesar de sua essência de femme fatale sem sentimentos, por que levar ao limite da vida a perseguição da mesma? Exagero. O final funciona muito bem, emociona até, mas minimiza a importância do momento catártico, que poderia até elevar o filme.
Um romance com bom ritmo, uma história noir forte e um conto moral contundente. Apesar de não inovar, Brighton Rock é eficiente em se estabelecer como um bom filme de crime.
(The Devil's Double, 2011)
Drama - 109 min.
Direção: Lee Tamahori
Roteiro: Michael Thomas e Latif Yahia
Com: Dominic Cooper, Ludivine Sagnier e Raad Rawi
Lee Tamahori é um cineasta falho. Profundamente irregular, o neozelandês consegue ir do elogiado No Limite aos desastrosos Triplo X2, 007 - Um Novo Dia para Morrer e O Vidente. Por isso, o estabelecido diretor de aluguel dos menores blockbusters dos grandes estúdios não tenderia a ter como próximo projeto a cinebiografia de Latif Yahia, o antigo dublê de Uday Saddam Hussein, herdeiro do tirano iraquiano. Porém, surpreendentemente, Tamahori não só conduz o projeto com firmeza como demonstra ser um belo esteta, concebendo um filme plasticamente belíssimo e divertido em sua turbulenta narrativa, que ainda que esquemática, se torna eficaz por diversos elementos.
E desses elementos, 90% respondem por Dominic Cooper. O ator de Capitão América ganha aqui o papel de uma vida. Testado em todos os limites para um ator, desde a composição física até a dificuldade de criar dois personagens. Logo no início, quando vemos o ligeiramente transformado ator (com o bigodinho de Howard Stark), já dá para notar os trejeitos que o ator adotou. Um olhar mais sereno, mezzo perdido mezzo inocente, que ao longo da projeção vai se tornar cínico e contundente, após testemunhar as mais diferentes atrocidades. Como Latif, Dominic demonstra segurança e tem um imenso carisma, que ganha o espectador facilmente. Mas é como Uday que o ator se sobressai. Ao viver o desprezível Uday, Dominic consegue o improvável: fazê-lo com igual carisma, divertindo em diversas cenas, mostrando as excentricidades do filho do ditador. Porém, é só passar um tempo que essa diversão de acompanhar o abobalhado Uday acaba. Um lampejo de violência basta.
Esse mesmo esquema se aplica ao filme em geral, o que é curioso. Repare: se vemos um histrionismo de Uday, não tarda para vermos uma ação horrenda do monstro. Uma hora, os dentes separados do homem podem divertir, mas o mesmo não pode ser dito do atleta iraquiano torturado numa cama de eletros-choque. Alternando a violência e o humor, a primeira metade estabelece muito bem a natureza exótica do modo de vida banhado á ouro do herdeiro. O problema é quando o esquema fica claro. A sacada vira trucagem e o rumo que a história toma, mais humanista e que dá um "basta" no modo de vida de Uday, torna Dublê do Diabo mais sério do que deveria. O tom cinematográfico, reforçado pela espetacular fotografia estilizada de Sam McCurdy e a direção de arte apurada e propositalmente exagerada, acaba se diluindo levemente em meio aos ufanismos. O que antes era uma cinebiografia cheia de humor, ação e com contundentes dilemas morais, acaba se tornando um descompassado filme de vendetta espiritual.
Obviamente, Tamahori mantém o vigor do filme mesmo quando o roteiro parece desandar. É complicado criticar Dublê justamente pelo cuidado técnico que o enérgico projeto tem. O esquemático roteiro cria momentos tão memoráveis quanto genéricos - e isso cria um produto final imperfeito. A "glamorização" (como prova a música agitada ao fundo das imagens de arquivo da guerra), que tinha tudo para representar uma preconceituosa visão dos produtores, havia funcionado perfeitamente no contexto. Porém, o heroísmo toma conta da consciência coletiva e as incongruências, reais ou não, acabam incomodando. Não se propondo a entrar na psique do protagonista, o filme deveria mostrar os fatos da maneira mais fluida e sacana possível. Não importa alterar a história em prol da obra de arte; os problemas começam quando a alteração trai até mesmo o pré-estabelecido pelo filme.
Há problemas, mas o resultado final é satisfatório, muito pelo grande Dominic Cooper e pela estética estilosa. Mas seria mesmo melhor se o filme tivesse mais festas (com todo mundo nu) e tiros no saco (belo simbolismo) que cruzadas impossíveis á cavalo.
Take Shelter
(Take Shelter, 2011)
(Take Shelter, 2011)
Drama - 120 min.
Direção: Jeff Nichols
Roteiro: Jeff Nichols
Direção: Jeff Nichols
Roteiro: Jeff Nichols
Com: Michael Shannon, Jessica Chastain e Shea Wingham
Gotas laranja. Curtis abre sua mão e só consegue ver os respingos alaranjados entrarem em contato com sua pele. Seu olhar cansado, conformado, vê aquilo com uma tristeza clara, mas parece ciente de seu destino, sabe o que vai acontecer. Tem fé naquilo. E vai levar até as últimas consequências. Ao olhar para o céu, Curtis vê uma tempestade. Mas, acima de tudo, vê mudança.
O problema é que ninguém mais vê.
Nessa soberba cena inicial, se sabe tudo que se precisa para entender o dilema que percorre toda a metragem de Take Shelter, segundo filme do promissor diretor e roteirista Jeff Nichols. À volta na direção do americano, diretor de Shotgun Stories, demonstra surpreendentemente a mão firme que Nichols tem para a direção de elenco e, principalmente, pela composição de atmosfera.
O campo do onírico é testado em todos os momentos da produção, que ganha intensidade visual quando Nichols compõe belíssimos quadros, como a vista da casa de Curtis, que transita entre o céu azulado, o centeio amarelado e a grama, muito verde. Esses contornos de sonhos (e, na maioria das vezes, pesadelo) que o filme ganha são essenciais para a já citada atmosfera bizarra que auxilia para criar a tensão desejada. Tensão essa que vai do suspense psicológico ao terror físico, o que causa no espectador uma sensação de desconforto crescente. Nichols ainda nos brinda com brilhantes transições de cena, como a do som do trovão que denuncia ser, na verdade, uma escavadeira. Ou a britadeira que corta para a máquina de costura, tudo uníssono.
A sensação de aflição em Curtis é o melhor que Take Shelter tem a oferecer. O ritmo cadenciado, onde cada delírio ocorre para um propósito narrativo, acaba ganhando momentos catárticos só no terceiro ato, o que pode afastar grande parte da audiência. Optar por um delírio psicológico, mental, que envolva muito pouco de físico, acaba criando um ritmo mais lento que o esperado. Porém, essa solução do diretor é a melhor possível, já que o filme ainda ganha contornos de estudo da esquizofrenia. Interessante ver que a tensão não é apenas dos delírios; é saber se Curtis está delirando ou não. O miolo do filme traz o questionamento sobre a própria realidade. E esse miolo do filme é o mais emblemático para o roteiro. Quando Curtis faz uma pergunta aparentemente banal para o amigo, ele ganha uma resposta. Quando Curtis vê um contêiner na rua, á venda, a cena corta. Mas as coisas se concretizam, porque aquilo só PARECIA banal. O que, em síntese, representa um micro-cosmo do que Take Shelter é.
O tal abrigo do título serve como um símbolo. Curtis, como homem mentalmente frágil, se contenta apenas com o simbólico para escapar. É a fuga da mente, é a fuga de seus sonhos. Não dormir é a solução. Triste ironia um homem que escava tanto a terra não poder adentrar melhor sua mente. A falta de respostas aos gigantescos questionamentos aflige não só ao homem, mas á todos. Curtis se pergunta se os delírios são premonições. Mas sua mulher também se pergunta o porquê do marido estar desse jeito. O que motivou isso? Como curar? A cena que antecede o clímax, brilhante, em que Curtis está no almoço coletivo, é fantástica por liberar a tensão para exacerbá-la minutos depois. O grito sufocado há dias na garganta de um homem que não aguenta mais. E Nichols não poderia ser melhor, ao só enfocar o rosto de Samantha por último, como a imagem definitiva da perplexidade.
E Michael Shannon vive Curtis com imensa competência, esbanjando presença em cada cena que participa. O homem atormentado médio, do subúrbio americano, é um verdadeiro palco para a exibição de força do ator. E Nichols capta essa essência ao dar para Curtis uma coadjuvante á altura, a excelente Jessica Chastain (tão linda como em Árvore da Vida), que compartilha os momentos de maior dor emocional com o marido.
Take Shelter chega ao fim com uma sensação de algo grande, mas que não é. É singelo, sutil, emocionante, justamente porque não é excessivamente pretensioso. É um filme que abraça o deus ex machina sem medo, que é corajoso ao optar pelo realismo fantástico do que pelo insosso. O estudo da esquizofrenia já havia se concretizado. Nada melhor que concretizar a mente de Curtis também.
Ao nos deixar perplexos com a tensão que toma os 20 minutos finais, o filme não só angustia como provoca e questiona.
O Brighton Rock quase dormi vendo, bagulho lento esse filme,foi meio sofrivel de ver...
ResponderExcluirNo duble do diabo tem todo aquele esteriótipo da visão americana a respeito da guerra do iraque,e isso não é legal,mas achei o filme bem feito
o ultimo nao vi