Festival do Rio - O Diário de um Crítico em Formação
A primeira vez que saí sozinho eu tinha 12 anos. Eu já havia viajado com meu avô para alguns lugares, mas nunca tinha ido a um outro lugar sem a presença de meus pais ou familiares. Essa primeira vez deu uma bela sensação, de liberdade até, ainda que fosse limitada.
Pois agora, quatro anos depois, a cobertura do Festival do Rio germinou na minha mente de maneira fulminante e concretizou essa sensação. Era algo que eu queria já no ano passado, embora eu ainda não pudesse. Esse ano, porém, o meu cronograma se realizou e pude então exercer da melhor maneira possível essa profissão que tanto prezo. Ver diversos filmes, de diversas nacionalidades, foi uma experiência única. Tanto como profissional, já que pude conferir grandes produções (em qualidade e quantidade), como pessoal. Ter as primeiras experiências como crítico profissional foram interessantes e o que foi aprendido é pra se levar para uma vida toda.
A cobertura se iniciou no dia 7 de Outubro, primeiro dia das sessões abertas para o público, após a abertura no dia 6 com A Pele que Habito, filmaço de Pedro Almodóvar. Nesse dia, fui até Botafogo, onde estava localizada a Central de Ingressos do Festival, um local onde tive que voltar de forma recorrente devido ás trocas de horário e, principalmente, para comprar os ingressos que faltavam, já que a liberação das cópias no país foram burocráticas (o que fez com que Drive, por exemplo, fosse liberado apenas um dia antes da sessão). Nesse dia, peguei a primeira sessão do Festival, o correto Pior dos Pecados, numa sessão que atrasou devido a "problemas de áudio", segundo a produção. Porém, acredito que o problema tenha sido devido á legendagem complexa e corrida, o que também foi uma constante no Festival.
As legendas, em uma pequena parte da tela, eram á parte da projeção. Isso já dava, de cara, um tom de "correria" ás exibições, já que a perda de sincronia em algumas partes dos filmes acabava denunciando a pressa com que as cópias chegaram ao Rio. Fora isso, alguns problemas eram notados na grade de programação, o que já aconteceu nesse primeiro dia: Sleeping Beauty, o bom filme de Julia Leigh, teve sua sessão de 16:00 cancelada e apenas pude ir na de 22:00, lotada, em que consegui o último ingresso, num inacreditável ato de sorte. Com a vaga aberta no horário das 16 horas, pude então conferir O Moinho e a Cruz, o que se mostrou bem proveitoso já que a obra de Lech Majewski foi um dos melhores filmes do Festival. Antes de Sleeping, fui ver Dublê do Diabo com expectativas boas, já que o belo trailer impressionava pela estética apurada. Porém, deixei a sessão de Ipanema (onde fiquei baseado) com um gosto um tanto estranho sobre o filme, já que a queda de ritmo no mesmo foi explícita.
Pois agora, quatro anos depois, a cobertura do Festival do Rio germinou na minha mente de maneira fulminante e concretizou essa sensação. Era algo que eu queria já no ano passado, embora eu ainda não pudesse. Esse ano, porém, o meu cronograma se realizou e pude então exercer da melhor maneira possível essa profissão que tanto prezo. Ver diversos filmes, de diversas nacionalidades, foi uma experiência única. Tanto como profissional, já que pude conferir grandes produções (em qualidade e quantidade), como pessoal. Ter as primeiras experiências como crítico profissional foram interessantes e o que foi aprendido é pra se levar para uma vida toda.
A cobertura se iniciou no dia 7 de Outubro, primeiro dia das sessões abertas para o público, após a abertura no dia 6 com A Pele que Habito, filmaço de Pedro Almodóvar. Nesse dia, fui até Botafogo, onde estava localizada a Central de Ingressos do Festival, um local onde tive que voltar de forma recorrente devido ás trocas de horário e, principalmente, para comprar os ingressos que faltavam, já que a liberação das cópias no país foram burocráticas (o que fez com que Drive, por exemplo, fosse liberado apenas um dia antes da sessão). Nesse dia, peguei a primeira sessão do Festival, o correto Pior dos Pecados, numa sessão que atrasou devido a "problemas de áudio", segundo a produção. Porém, acredito que o problema tenha sido devido á legendagem complexa e corrida, o que também foi uma constante no Festival.
Central dos Ingressos, em Botafogo |
Chegando em casa, pensei sobre os mesmos e enquanto Moinho só cresceu no conceito, e Sleeping e Pior dos Pecados se mantiveram, Dublê só piorou, o que o caracteriza como a primeira decepção do evento.
No segundo dia, encarei a primeira sessão no Leblon, no bom shopping de lá, que conta com o soberbo sistema de som THX em suas salas. A "estreia" lá não poderia ser melhor: o drama psicológico Take Shelter, excelente filme de Jeff Nichols (e a maior surpresa do Festival junto com Moinho). Após, aproveitei a brecha na minha programação e conferi Entre Segredos e Mentiras, filme com Ryan Gosling que a Imagem Filmes adia há cerca de um ano no Brasil. O fraco filme de estreia na ficção do documentarista Andrew Jarecki, do elogiadíssimo Na Captura dos Friedmans, peca justamente pela indecisão do roteirista sobre qual modo queria fazer o filme. É curioso ver Gosling vestido de mulher, mas um roteiro indeciso entre ficção ou documentário tornou o filme o segundo pior do Festival. Recuperando o dia para fechar com chave de ouro, fui até a premiére lotadíssima de Um Método Perigoso, o brilhante filme de David Cronenberg. Por lá, encontrei diversos críticos dos quais sempre fui fã, o que não deixou de ser um belo encerramento para o dia 8. O fato de Um Método ter rendido uma das críticas que mais gostei de escrever também foi excepcional.
Kinoplex - Leblon |
O dia 9 começou com uma leve decepção, já que perdi a sessão de The Guard, que estava lotada. Comecei então, na Gávea (e seu labiríntico shopping) com A Outra Terra, contemplativa sci-fi indie americana. A trilha experimental foi o que mais me chamou a atenção nos aspectos técnicos, além de servir de fundo musical para a jornada emocionante da protagonista, que ficou na minha cabeça até o final do dia. Ainda na Gávea, fui ver o mediano Michael, que chama a atenção pela técnica impressionante de seu diretor e sua coragem e que erra apenas em não saber o que fazer com a limitada narrativa. A primeira sessão verdadeiramente polêmica, já que fiquei intrigado com o fato do vazio filme ter sido tão elogiado. De lá, voltei ao Leblon para ver o melhor filme do Festival, o genial Contágio (que conferi pela segunda vez, no dia 13) e terminei no tradicional Roxy com a sessão lotada do mediano One Day, que amedontra a mente dos céticos por pelo menos uns dois dias (sem trocadilhos).
No quarto dia, iria apenas começar a jornada na sessão de 17:00, com A Pele que Habito. Porém, fui antes até a Central e conferi Bora Bora, um musical (?) adolescente (!) dinamarquês (?!). Dizer que o filme é um desastre, uma bomba, uma ofensa, uma aberração e um soco na cara do bom senso é pouco, mas pelo menos a raiva incomensurável na projeção infinita de 75 minutos que senti foi recompensado com o espetacular filme do diretor espanhol. Dali, fui ao Odeon ver Terraferma, filme de Emmanuele Crialese. A presença do diretor, que foi gentil e respondeu perguntas antes e depois da projeção, foi o maior atrativo da sessão, já que o aceitável filme italiano é maniqueísta até a raíz. O dia se encerrou com o remake-reboot-prequel A Coisa, que em breve terá crítica no Fotograma, na época do lançamento.
Foi então com um sorriso no rosto e um abraço na alma que conferi As Quatro Voltas como primeira sessão do outro dia. O contemplativo, sensível e lindíssimo filme italiano foi revigorante para cabeça, já que me animou consideravelmente, mais ainda, para o resto da bela semana que eu tinha pela frente. No Roxy, conferi Margin Call, que em preve terá critica, junto ao lançamento. O bom suspense, que cria uma tensão humana como poucas e que desenvolve com destreza seus personagens, apenas peca pela falta de ousadia. Mais detalhes na análise, obviamente. Terminei o dia no Odeon, com o esplêndido Eu Receberia as Piores Notícias de seus Lindos Lábios, novo filme de Beto Brant. A sessão cheia, apesar da distribuição de ingressos que aconteceu previamente, estava cheia de profissionais do ramo, como Rodrigo Santoro e Milhem Cortaz. Eu ainda tive o prazer de cumprimentar, ainda que por segundos, o diretor Brant, do qual sou admirador.
Roxy |
Após a revigorante noite anterior, a corrida semana continuou com a sessão de Tiranossauro em Ipanema. Um filme que eu tinha uma boa expectativa que foi saciada devido ás atuações brilhantes de Peter Mullan e Olivia Colman, que tomam o belo filme dramático, de assalto. Após, fui ao Odeon onde fiquei numa imensa fila para o documentário de Anderson Silva, Como Água. A presença do diretor e dos produtores empolgou, claro, mas a presença estelar do astro do UFC (e o assédio em volta) foi, ainda que rápida, empolgante. A sessão foi legal também, pois a vibração visceral que os espectadores tiveram foi incrível e contagiante, o que tomou o Odeon inteiro. O que em outro filme seria uma falta de respeito, acabou se encaixando perfeitamente na proposta do filme. Então, saí da curta sessão e fui para a também imensa fila para Abismo Prateado, novo filme de Karim Aïnouz. A presença dos diversos profissionais do filme, como a deslumbrante Alessandra Negrini, chamou bastante a atenção, mas não é qualquer dia que um gênio como Willem Dafoe senta 5 poltronas atrás de você...
O dia 13, o último dia efetivo do Festival, começou com o recente espetáculo estilístico de Nicolas Winding Refn, Drive. A trilha de Cliff Martinez deixou-me anestesiado para a segunda sessão de Contágio, o que formou uma bela sessão-dupla das trilhas do ótimo compositor. Após, fui para Ipanema acompanhar a sonolenta sessão do fraco Win Win. A irregularidade do filme, somada com meu cansaço após uma semana de almoço de Twix, apenas me fez ter poucas esperanças para a sessão final do dia, The Hunter. O temperamental filme australiano, porém, supriu minhas expectativas e cumpriu bem seu limitado papel.
As sessões derradeiras se dividiram nos calmos dias 14 e 15, aonde acompanhei Casa dos Sonhos, o recente e péssimo filme de Jim Sheridan e o divertidíssimo shake de cultura pop, Attack the Block. Terminei então com Restless, o irregular (ainda que bonitinho) filme de Gus Van Sant, que me surpreendeu nos dois espectros de qualidade recentemente, ao realizar esse bom ensaio sobre a morte que se torna um boy meets girl e o visceral Elefante, seu retrato emocional sobre o massacre de Columbine.
Odeon |
Minhas experiências não podiam ser melhores. Tive uma semana bem cansativa, onde dormia ás 6 da manhã escrevendo para acordar meio dia e correr pra primeira sessão, mas tudo foi muito bem recompensado com o prazer que tive ao conceber as críticas e em poder, finalmente, saber como é ser um crítico profissional. E ser, sobretudo, uma pessoa mais independente.
Após relembrar dos fatos, não consigo imaginar em não repetir essa experiência. Ano que vem, com certeza, esse tal de Festival do Rio me espera. E eu, o espero ansiosamente.
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