A Hora do Espanto
(Fright Night, 2011)
Suspense - 106 min.
Direção: Craig Gillespie
Roteiro: Marti Nixon
Com: Anton Yelchin, Colin Farrell, Toni Collette, David Tennant, Imogen Poots e Christopher Mintz-Plasse
Não me lembro de A Hora do Espanto dirigido por Tom Holland (que veio a dirigir Brinquedo Assassino e Fenda no Tempo também) em 1985. Certamente assisti, em algum momento da infância/adolescência, mas honestamente, não me lembro de sequer um frame do filme, por isso (e até de forma mais correta) vi o remake dirigido por Craig Gillespie (cujo trabalho mais conhecido é a direção de alguns episódios da série United States of Tara com Toni Collette) sem pré-conceitos ou ideias comparativas.
Ambientado em um distante e emocionalmente frio subúrbio de Las Vegas (nem sabia que Las Vegas tinha um subúrbio típico americano), já no primeiro frame somos apresentados a simetria geometricamente perfeita daquele mundo de casas iguais afastadas por uma estrada desértica do mundo de alegria e diversão que é a Las Vegas como popularmente conhecemos.
Nesse ambiente somos apresentados a Charley (Anton Yelchin), um garoto popular, boa gente e que namora com a deslumbrante e sexy Amy (Imogen Poots). Criado pela mãe Jane (Toni Collette), ele tem uma vida quase perfeita, tão perfeita que não repara quando diversos colegas de classe começam a sumir da escola sem deixar maiores rastros. Alertado pelo "ex-amigo" Ed (Christopher Mintz-Plasse), um nerd nível freak, de que um de seus melhores amigos havia sumido, acaba convencido a ir até a casa do suposto desaparecido e verificar o que acontece. Ed começa a dizer que os sumiços eram culpa de um vampiro infiltrado na cidade, que sistematicamente estava matando todos ao redor e que sua identidade era conhecida de Charley. O tal vampiro era seu novo vizinho, o misterioso Jerry (Colin Farrell) que encanta sua mãe e sua namorada. Negando a idéia - aparentemente absurda - Charley segue sua vida, até perceber que seu amigo também pode ter sido vitima de um sumiço misterioso. Ao encontrar anotações de Ed, se convence da idéia vampírica e parte em busca de ajuda.
Isso resume os primeiros vinte minutos do filme, que apresentam superficialmente todos os envolvidos na história, que não esconde ser um filme b e não tenta inventar a roda, mantendo-se simples e divertido, apesar de ser profundamente bem realizado.
Um dos problemas do filme é o fato de Yelchin e Poots não convencerem como garotos do high school. A idéia de utilizar atores mais velhos para interpretar adolescentes quase nunca dá certo e aqui também isso acontece. Apesar disso, existe uma química razoável entre o casal e Yelchin mostra versatilidade, sendo capaz de em sua até então curta carreira, ir do drama (como em sua ótima atuação em Um Novo Despertar) ao herói de ação (em Star Trek e aqui), mostrando ser capaz de fazer uma carreira longa no ramo.
Farell por sua vez, está mais canastrão do que nunca, e isso é absolutamente essencial e perfeito para o filme. Se Farell fizesse de Jerry, um ser em conflito, cheio de dúvidas e que brilhasse na luz (não posso perder a chance de cutucar, me desculpem) não funcionaria na história de Marti Nixon (uma veterana da tv, com créditos de produtora executiva em Private Practice, Grey's Anatomy, Buffy e Angel entre outros e como escritora nessas duas últimas entre outros) que tem em seu background a facilidade de transitar nesse mundo vampírico contemporâneo ao misturar o kitsch, o suspense, o drama e a comédia. Para o bem e para o mal, Hora do Espanto remake, lembra um episódio chique e muito bem cuidado de Buffy ou Angel.
Os coadjuvantes são o que fazem de Hora do Espanto especial e divertido. Mintz-Plasse cada vez mais McLovin (seu personagem símbolo de SuperBad), é exageradamente ridículo como Ed, o que também é ótimo para a proposta desencanada do filme. Toni Collette por sua vez deve ter embarcado na aventura por amizade ao diretor Gillespie que a dirigiu na série de Tara, a mulher com múltiplas personalidades.
Mas quem rouba todas as cenas em que aparece é o brilhante e engraçado David Tennant (o segundo Doutor na volta da série Dr. Who), aqui interpretando o especialista no oculto Peter Vincent, que no original era vivido por Roddy McDowell (da série Planeta dos Macacos). Peter é uma mistura de roqueiro gótico com mágico moderno, uma coisa meio Chris Angel encontra o vocalista da banda HIM e Russell Brand. Mas obviamente, tudo aquilo é montado e a cena em que Vincent se despe do figurino é hilária. Tennant é daqueles atores que consegue ser engraçado sem fazer esforço e seu sarcasmo tipicamente inglês é usado aqui a exaustão.
O filme ainda tem tempo de brincar com a musa Sofia Vergara, escalando sua irmã Sandra, como amante/namorada do mágico que quando abre a boca revela uma assustadora semelhança com a irmã. Sofia e Sandra gritam e esperneiam de maneira idêntica, então, se essa não foi uma brincadeira com a típica latina boazuda, é uma ótima piada involuntária. Homenagem mesmo é ao ator Chris Sarandon, que era o vampiro no original, e que aqui faz uma ponta de luxo que rende a melhor sequencia de ação do filme.
Sequencias essas que são muito bem fotografadas (apesar de estarem brutalmente escuras) por Javier Aguirresarobe que - olhem só como são as coisas - tem em seus créditos a fotografia de Lua Nova e Eclipse, além de Os Outros, Mar Adentro, A Estrada e Vicky Cristina Barcelona. Javier é um mestre nas sombras e faz do escuro Hora do Espanto, um deleite para quem gosta de filmes de vampiro "roots", onde os monstros sugadores de sangue são realmente ameaçadores. Aqui, mesmo na atmosfera mais leve típica de produções de Joe Dante, as sombras e o suspense dão o ar da graça.
Outro grande destaque é a trilha vigorosa e poderosa de Ramin Djawadi (Fúria de Titãs e Homem de Ferro entre outros) que mistura as idéias de Drácula de Coppola e cria um dos poucos temas assobiáveis do cinema recente. Um trabalho excelente.
Gillespie por sua vez conseguiu misturar o suspense com as situações exageradas e propositais, criando uma mistura típica dos anos 80 (que ainda renderam Garotos Perdidos na mesma linha) com os avanços técnicos e de linguagem do novo século.Talvez não faça o sucesso esperado, mas é divertido, bem realizado, com piadas e referencias pop aos montes e duas ótimas sequencias de ação.
Obs: o 3d é do tipo "coisas voando na tela" e não é utilizado para criar profundidade. No que se propõe realiza bem o trabalho.
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