Garoto de Bicicleta
(Le Gamin du Velo, 2011)
Drama - 87 min.
Direção: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne
Roteiro: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne
Com: Cécile de France e Thomas Doret
Os irmãos Dardenne são os "queridinhos" de uma parte considerável da crítica internacional, sempre produzindo e dirigindo filmes que tem como principal objetivo, apresentar de maneira crua e mais realista possível conflitos humanos, os quais o espectador facilmente consegue se identificar. Isso aconteceu em A Criança, Rosetta e em Segredo de Lorna, seus filmes mais conhecidos do grande público, e provavelmente O Garoto de Bicicleta terá o mesmo destino.
A identificação do público acontece pois conhecemos diversas histórias sobre outros garotos como Cyril (Thomas Doret) que, abandonado pelo pai, vive em um internato com a promessa de que seria "resgatado". O pai no entanto some e num arroubo de desespero e saudade, o garoto foge e vai até o apartamento do pai, onde descobre o sumiço. Lá, acaba encontrando a bela Samantha (Cecile de France), uma cabeleireira que se afeiçoa ao garoto e que lhe dá o objeto com que supostamente fez Cyril ir atrás do pai, uma bicicleta.
O filme passa então a tratar da relação entre o jovem quase órfão e a jovem e bondosa mulher, com todos os clichês e obviedades desse tipo de relação. Os Dardenne incluem algumas artificialidades para que possamos chamar o filme de narrativa. Dificuldade de adaptação, problemas com os ditos "maus elementos" e a constatação da falta de oportunidade para os jovens de baixa renda e excluídos.
O problema é que o tom de fábula, apesar do realismo na construção das imagens como é típico dos diretores, atrapalha um pouco. A ideia de finais "felizes" também é de certa forma, condescendente com a situação. Em vez de manter-se "real", a ideia aqui é dar algum alento a situação.
O Garoto da Bicicleta é um filme cansativo, mesmo tendo uma metragem de menos de 90 minutos. A forma lenta e arrastada de alguns momentos do filme e a sensação de que é "muito barulho por nada", de que a narrativa não se sustenta, causa um incômodo constante, que prejudicam as boas intenções dos diretores.
O garoto Thomas Doret é natural, e consegue transmitir suas intenções e emoções com um olhar sempre enraivecido ou tristonho. Mesmo nos momentos de alegria, notamos que sua expressão se mantém sempre fechada, como se temesse perder aquela pouca alegria de seu dia. Já Cecile, além de iluminar o recinto com sua presença tem grandes momentos no filme, embora se mantenha refém de um texto que tem um começo e um fim, mas que emperra quando precisa desenvolver seus personagens. As sequencias com o "mau elemento" apesar de funcionarem para estabelecer um conflito, perdem pelas interpretações pobres e descompassadas.
Seria cinismo de minha parte, dizer que o filme é ruim. Pelo contrário, o filme é interessante, tem ótimos momentos e uma dupla de protagonistas em grande momento, mas, sofre pela forma com que a historia é contada e pela sensação de que mesmo com tempo curto, o filme é longo demais. A ideia de realismo, de se manter fiel aos acontecimentos que o espectador consegue se identificar de imediato causa esse obvio revés.
Na vida, as coisas - em geral - não acontecem como uma espiral de momentos felizes ou tragédias. Elas acontecem calma e tranquilamente, com períodos de completo marasmo. Garoto é exatamente assim, picos emocionais margeados por um imenso tédio. Na vida isso é compreensível e - ainda bem - comum, mas no cinema, quando existe a necessidade de aglutinar informações e eventos, esse tipo de opção às vezes não funciona direito.
Os Dardenne pagam o preço por sua escolha. Longe de ser ruim, mas exageradamente incensado, O Garoto de Bicicleta é um curta com metragem de longa, portanto irregular e profundamente sonolento.
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